André Santana

O ritmo apressado de Amor Perfeito remete à pressa vista também na trama que a antecedeu na faixa das seis da Globo. Mar do Sertão chamou a atenção pela maneira rápida com que resolveu o conflito inicial da história, envolvendo Candoca (Isadora Cruz), Zé Paulino (Sergio Guizé) e Tertulinho (Renato Góes).

Amor Perfeito - Mariana Ximenes
Reprodução / Globo

O autor Mario Teixeira concluiu tão rapidamente o plot principal que a trama de Mar do Sertão se esgotou em pouquíssimo tempo. No entanto, o novelista apostou no carisma dos personagens secundários, que mantiveram a novela de pé por vários meses.

Amor Perfeito demonstra a mesma pressa com sua história principal, centrada na rivalidade entre Marê (Camila Queiroz) e Gilda (Mariana Ximenes, foto acima). Porém, a novela de Duca Rachid, Thelma Guedes e Elísio Lopes Jr. não tem tramas paralelas fortes para se sustentar. Sendo assim, o que vai acontecer quando a trama central se esgotar?

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Ritmo apressado

Mar do Sertão - Isadora Cruz e Sergio Guizé
Reprodução / Globo

Mar do Sertão foi vendida como uma trama sobre um triângulo amoroso. A história anunciada era a de um casal apaixonado, que seria separado por um vilão que queria a mocinha para ele. Após uma armação do malvado, o galã seria dado como morto, enquanto a mocinha se casaria com o vilão. Anos depois, o mocinho aparece com vida, causando uma reviravolta.

Na prática, tudo isso aconteceu de maneira rápida. Poucos capítulos foram suficientes para mostrar a falsa morte de Zé Paulino, o casamento de Candoca e Tertulinho, o retorno do herói e sua reconciliação com Candoca. Depois disso, a história dos protagonistas se resumiu a armações pouco produtivas de Tertulinho.

Ainda assim, a novela das seis da Globo se manteve com ótimos índices de audiência. Mar do Sertão conseguiu reter o interesse do público com tipos como Xaviera (Giovana Cordeiro), Sabá Bodó (Welder Rodrigues), Timbó (Enrique Diaz) e outros personagens carismáticos que seguraram a trama com bastante humor.

A história se repete

Amor Perfeito - Camila Queiroz e Diogo Almeida
Bob Paulino / Globo

O ritmo intenso de Mar do Sertão se manteve em Amor Perfeito. A nova trama foi vendida como a história de uma mocinha que perde tudo por conta da armação de uma vilã. Presa injustamente, ela lutaria por justiça ao deixar a prisão, ao mesmo tempo em que procuraria o filho que lhe foi tirado dos braços.

No entanto, tudo o que foi descrito acima aconteceu em cerca de duas semanas. No atual momento da trama, Marê já retomou sua vida, mas agora sofre por conta de outra armação de Gilda, que conseguiu virar o jogo.

Mesmo apressada, a trama principal de Amor Perfeito ainda demonstra fôlego. Nos próximos capítulos da novela das seis, Gilda conseguirá até adotar Marcelino (Levi Asaf), o filho perdido de Marê, e se casar com Orlando (Diogo Almeida), o grande amor da mocinha. Ou seja, os autores ainda têm lenha para queimar.

Até quando?

Amor Perfeito - Levi Asaf
Paulo Belote / Globo

No entanto, vale lembrar que Amor Perfeito ainda tem chão pela frente. Sendo assim, até quando os novelistas conseguirão manter a queda de braço de Marê e Gilda em alta voltagem? Quanto tempo falta para que essa rivalidade comece a gerar situações repetitivas?

Chama a atenção que, até agora, Amor Perfeito não tem um plano B. Ou seja, não há na novela uma trama paralela que demonstre força para segurar a história caso a trama principal arrefeça. Os autores apostaram todas as fichas no duelo de Marê e Gilda.

A novela até tem personagens secundários interessantes, mas não dá muito espaço para eles. Tudo é bastante focado na trama principal. É raro uma cena em que não estão presentes Marê, Orlando, Marcelino, Gilda ou Gaspar (Thiago Lacerda). Os holofotes estão praticamente todos virados aos protagonistas.

Ou seja, ao contrário de Mar do Sertão, Amor Perfeito não conseguirá se segurar em tramas paralelas caso a história principal enfraqueça. Os autores precisam começar a jogar alguma luz nos demais personagens do folhetim para garantir que a novela continue interessante até o fim.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor