Pouco mais de um ano depois de colocar um ponto final em Mar do Sertão (2022), o autor Mário Teixeira voltou à faixa das 18h com No Rancho Fundo. Apesar do pouco tempo, o hiato foi suficiente para o novelista reconhecer os erros de sua trama anterior para evitá-los agora.

Alexandre Nero e Andrea Beltrão em No Rancho Fundo
Alexandre Nero e Andrea Beltrão em No Rancho Fundo

A atual novela das seis ainda está no começo, mas, até aqui, Teixeira tem conseguido imprimir um bom ritmo ao folhetim. No Rancho Fundo é uma novela ágil, mas não é apressada. O autor não tem queimado cartuchos e vem distribuindo melhor as viradas da obra.

Coisa que não fez em Mar do Sertão. A trama anterior do novelista teve primeiros capítulos tão apressados que a história principal se esgotou em menos de um mês.

Sem pressa

No Rancho Fundo está em sua quarta semana de exibição. Muita coisa já aconteceu na novela das seis, mas os principais trunfos do enredo estão sendo jogados aos poucos. Com isso, o autor não tem entregado tudo de cara, o que é bom.

A primeira semana da novela foi bastante focada nas idas e vindas do casalzinho Quinota (Larissa Bocchino) e Marcelo Gouveia (José Loreto). Já a segunda semana preparou o terreno para o início da história de amor entre a mocinha e Artur (Tulio Starling).

Enquanto isso, a primeira grande virada da trama – a descoberta da turmalina paraíba por Zefa Leonel (Andrea Beltrão) – foi sendo “preparada” pelo autor. Quem acompanha a novela desde o começo já sabia que a vida de Zefa e sua família seria transformada pela aparição da pedra. Mas o autor tomou o cuidado de, primeiro, envolver o público nesta busca antes de Zefa encontrar a pedra.

Apenas com a terceira semana de No Rancho Fundo no ar, Zefa Leonel encontrou a turmalina. E ainda vai demorar mais um pouquinho até que ela consiga fazer dinheiro com o achado, o que vai mudar sua vida. Tudo isso vem sendo contado num bom ritmo, sem queimar etapas.

Erro corrigido

Mar do Sertão - Isadora Cruz, Renato Góes e Sergio Guizé
Renato Góes, Isadora Cruz e Sergio Guizé em Mar do Sertão (Reprodução / Globo)

Essa parcimônia de Mário Teixeira em No Rancho Fundo não foi vista em Mar do Sertão. Na novela anterior, o autor não teve o cuidado de envolver o público no conflito principal e acabou errando a mão ao contar sua história com muita pressa.

Toda a trama envolvendo o sumiço de Zé Paulino (Sérgio Guizé), o casamento de Candoca (Isadora Cruz) e Tertulinho (Renato Góes), e a aparição do “falso falecido” dez anos depois foi contada com menos de um mês no ar. Foi tudo tão rápido que o público não se envolveu com os protagonistas da novela.

Além disso, como a trama deles foi resolvida rapidamente, o trio principal perdeu função no restante da novela. O triângulo entre Candoca, Zé Paulino e Tertulinho girou em círculos a novela toda. Mar do Sertão só segurou sua boa audiência por conta do bom humor e dos coadjuvantes carismáticos, que conquistaram o público.

Aprendeu

Curiosamente, esgotar a trama principal em poucos capítulos é um erro comum na obra de Mário Teixeira. O mesmo aconteceu em I Love Paraisópolis (2015) – escrita com Alcides Nogueira – e O Tempo Não Para (2018).

Já No Rancho Fundo, até aqui, não sofre deste mal. As tramas e os personagens principais estão sendo apresentados aos poucos, sem pressa, preparando o público para os momentos de virada.

Se o autor conseguir manter esse ritmo, No Rancho Fundo deve alcançar resultado superior a Mar do Sertão. Até aqui, a novela tem registrado bons índices de audiência e recebendo elogios do público. Bom sinal.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor