Em abril, a Globo trará de volta mais uma novela nunca reprisada para o catálogo do Globoplay. Trata-se de Partido Alto, obscura trama das oito exibida em 1984, concebida a partir da inusitada parceria entre Gloria Perez e Aguinaldo Silva.

Partido Alto - Gloria Pires e Raul Cortez
Divulgação / Globo

A narrativa, que tinha uma escola de samba como um dos cenários principais, misturava melodrama e temas contemporâneos. Porém, ficou marcada mesmo pelo desentendimento entre os dois autores, que tinham métodos de trabalho completamente opostos.

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Novidade do Globoplay

Partido Alto - Elizabeth Savala
Nelson Di Rago / Globo

De acordo com Patrícia Kogut, colunista de O Globo, Partido Alto será uma das novelas a entrar para o catálogo do Globoplay em abril, como parte do Projeto Resgate. A trama gira em torno de Isadora (Elizabeth Savala), filha de um poderoso industrial que se envolve com o professor Maurício Vilela (Claudio Marzo).

Este, por sua vez, é constantemente assediado pela jovem Celina (Gloria Pires), filha do bicheiro Célio Cruz (Raul Cortez), patrono da escola de samba Acadêmicos do Encantado. Casado com Izildinha (Célia Helena), ele mantém um caso com Jussara (Betty Faria), porta-bandeira da escola.

O folhetim também é focado na expectativa do reencontro entre Isadora e sua mãe, Nanci (Lilian Lemmertz), que foi expulsa de casa pelo marido Amoedo (Rubens Corrêa) no passado.

Bastidores turbulentos

Partido Alto - Betty Faria, José Mayer e Raul Cortez
Reprodução / IMDB

Partido Alto não foi muito bem recebida pelo público e pela crítica na época de sua exibição, que aconteceu entre 7 de maio e 24 de novembro de 1984. A trama foi considerada confusa, com muitos personagens e situações; a Censura também comprometeu o andamento da produção.

A “confusão” da novela, na verdade, refletia o descompasso dos autores envolvidos. Aguinaldo Silva e Gloria Perez eram dois estreantes – ele nunca havia escrito uma novela, mas já tinha experiência em séries e minisséries; ela havia colaborado com Janete Clair em Eu Prometo (1983), concluindo a trama após a morte da veterana.

Em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, Gloria explicou que Dias Gomes, marido de Janete, a havia indicado para uma novela das 18h na Globo. No entanto, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, queria que ela escrevesse para às 20h. Porém, Daniel Filho tinha dado preferência a Aguinaldo Silva.

Daí veio a ideia de uni-los para Partido Alto. Só que a dupla, como não poderia deixar de ser, não funcionou como o esperado e acabou desfeita durante a condução da novela.

Métodos opostos

Gloria Perez
Reprodução / HBO

Ainda ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, Gloria Perez contou que tentou convencer a Globo a deixá-la escrever para às 18h, sem sucesso.

“Na sala do Boni, insisti muito para ficar com a novela das seis. Eu me sentiria mais segura. E eu e o Aguinaldo não nos conhecíamos e fazer novela em dupla é um casamento difícil. (…) Mas decidiram fazer o casamento mesmo assim”, lembrou a autora de Travessia.

Aguinaldo Silva também falou sobre a falta de sintonia entre ele e a colega de ofício. Em entrevista ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, o autor relembrou o perrengue nos bastidores da produção.

“Como trabalhar junto se ela escreve de um jeito e eu de outro? Então, é claro que essa tensão toda acabou se refletindo na nossa relação. Houve momentos em que a gente não conseguia sequer se falar. Mas não era por problema de egos, e, sim, por incompatibilidade de métodos de trabalho”, explicou.

Fim da dupla

Aguinaldo Silva
Reprodução / Cultura

Aguinaldo Silva e Gloria Perez escreveram Partido Alto juntos até a metade da história. Depois disso, a dupla se desfez quando Silva deu um jeito de pular fora da trama. O autor contou que ficou sabendo pela imprensa que a Globo havia adquirido os direitos de Tenda dos Milagres, de Jorge Amado, para fazer uma minissérie. Ele, então, se ofereceu para escrevê-la.

Com isso, o autor deixou Partido Alto e Gloria Perez tocou a novela até o fim. Depois disso, ela ofereceu à Globo a sinopse de Barriga de Aluguel, que foi considerada “fantasiosa” pela direção. Assim, ela deixou o canal rumo à Manchete, onde escreveu Carmem (1987), retornando à Globo em 1990, quando Barriga de Aluguel finalmente saiu do papel.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor