De volta ao horário nobre da Globo com Travessia, Gloria Perez revelou um segredo sobre a criação de um tipo inesquecível de Caminho das Índias, trama produzida em 2009 e que está sendo exibida pelo Canal Viva.

Caminho das Índias - Débora Bloch e Letícia Sabatella

De acordo com a autora em palestra num evento no Rio de Janeiro (RJ), a personagem interpretada por Letícia Sabatella sequer existia na sinopse encaminhada à Globo. Curiosamente, Yvone foi criada aos “45 do segundo tempo” para servir de contraponto dentro de um dos debates propostos pela trama.

Personagem com objetivo bem definido

Caminho das Índias - Letícia Sabatella

Gloria revelou que Yvone, psicopata que destruiu a família Cadore, surgiu nas famosas reuniões que ela faz com os grupos que deseja retratar em seus folhetins. No caso, ao ouvir pessoas com transtornos mentais, surgiu o estalo para a criação da malvada que contribuiu para o êxito da produção.

“Ela apareceu de um jeito muito interessante, porque só foi nascer depois que a novela estava pronta. Em Caminho das Índias, eu queria falar de doença mental (com o personagem Tarso, de Bruno Gagliasso) e, como sempre faço, fui falar com doentes mentais para entender o que queriam que eu falasse sobre eles”, contou a novelista.

A autora revelou ter se surpreendido ao ouvir os entrevistados reclamarem que sempre que um crime brutal ocorria, os jornais atribuíam tal ato à “loucura”.

Associavam a eles, que já eram discriminados pela própria condição, a capacidade de fazer aquelas coisas”, explicou a autora durante a palestra Rio2C, evento sobre o audiovisual brasileiro, em painel acerca do estudo do cérebro na dramaturgia, como o proposto pela novela.

Trabalho para reverter imagem negativa

Caminho das Índias - Bruno Gagliasso

Foi para tirar tal estigma dos doentes mentais que a autora decidiu, de última hora, criar Yvone, psicopata capaz de cometer as maiores barbaridades – diferente de Tarso, um jovem esquizofrênico, que nunca cometeu uma maldade.

“E aí tinha aquele psiquiatra (Castanho, interpretado por Stênio Garcia) que mostrava a diferença entre a doença mental, em que você é tão afogado pelas emoções que chega a perder a razão, e a psicopatia, alguém que não tem emoção nenhuma, mas é tão racional que compreende as emoções humanas e as teatraliza”, explicou Gloria.

Bela e perigosa

Caminho das Índias - Alexandre Borges e Humberto Martins

Amiga de adolescência de Sílvia (Débora Bloch), Yvone se instala na casa dela durante uma temporada no Rio de Janeiro. Ela finge ser generosa e compreensiva quando, na verdade, é manipuladora e fria.

Ao constatar a crise no casamento de Sílvia, Yvone seduz o marido dela, Raul (Alexandre Borges). Ela “oferece apoio” ao empresário, enquanto batalha para afastá-lo da esposa, do irmão Ramiro (Humberto Martins) e do melhor amigo, e braço direto na empresa, Murilo (Caco Ciocler).

Convencido pela então amante, Raul simula a própria morte, assume outra identidade e parte para o Dubai. Logo depois, Yvone vai ao encontro dele. A bandida continua mentindo para o administrador, afirmando que a família está bem. O que acontece, neste meio tempo, é que ela usa do nome dele para roubar a empresa dos Cadore.

Reta final

Caminho das Índias - Christiane Torloni e Humberto Martins

Após constatar que Raul não lhe serve de mais nada, Yvone o abandona com uma mão na frente e outra atrás, partindo para um novo golpe; desta vez, contra Nanda (Maitê Proença) e Haroldo (Blota Filho), com o auxílio do parceiro Mike (Odilon Wagner).

Nos últimos capítulos, Yvone se dá mal ao tentar seduzir Ramiro. Ela toma uma surra da esposa dele, Melissa (Christiane Torloni). Logo após, Raul é desmascarado pela família.

Enquanto ele recomeça a vida do zero em um bairro humilde e Sílvia reconstrói a vida ao lado de Murilo, Yvone acaba condenada e presa por seus crimes. Ela consegue, porém, seduzir o carcereiro do presídio, fugindo do local nos momentos finais de Caminho das Índias.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor