Com o fim das gravações de Mar do Sertão, o elenco já se despede dos seus personagens e aproveita para fazer um balanço final sobre o trabalho. Foi o que Jade Sassará, que viveu a secretária Aleluia na obra de Mário Teixeira, fez recentemente.

Jade Sassará
Reprodução / Globo

Aos 27 anos, a atriz, que é uma mulher trans, abriu o coração numa entrevista em que comemorou o sucesso da sua personagem, que integra o elenco do núcleo cômico da novela das seis da Globo.

Ela, que recentemente foi vítima de um episódio de transfobia, também comentou sobre as dificuldades de ser uma pessoa trans, além dos desafios de ter entrado na novela quando ela já tinha começado.

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Parcerias de sucesso

Mar do Sertão - Welder Rodrigues

Mar do Sertão marca a carreira de Jade por ser sua primeira aparição na televisão. A atriz comemora a experiência de atuar com nomes como Giovanna Figueiredo, Welder Rodrigues e Thardelly Lima, entre outros que formam o núcleo da prefeitura de Canta Pedra.

“Foi uma alegria, uma delícia, muitas risadas. Uma maneira muito interessante para mim de construção cênica e de construção de personagem. Foi um desafio, que me enriqueceu muito, estar no núcleo cômico. Tantas pessoas que eu contracenava, e é tão gostoso perceber diferentes perspectivas e abordagens que cada pessoa consegue fazer com seu humor, com o que é comédia para cada pessoa. Isso tudo foi muito gostoso”, disse em entrevista ao Notícias da TV.

Durante a entrevista, a atriz destacou a parceria com Welder, que também atuou em uma novela pela primeira vez após migrar dos programas humorísticos da emissora carioca.

“O Welder é normalmente a pessoa que no set domina, nos melhores sentidos da palavra. Ele ganha muito espaço cômico, ele rege muito bem o set. Rarissimamente, pelo que ele falou, ele é quebrado nesse lugar cômico de não conseguir concentrar porque tá rindo de alguma coisa. Nesse dia, eu fiquei muito feliz. Ele conta essa história toda hora, de que quebrei ele em cena. Ele ficou horas rindo disso. Nosso núcleo gravava cena em muito poucos takes, e esses poucos takes, e esse foi um dia que a gente teve que fazer algumas vezes”, revelou.

Dificuldades e desafios na jornada

Jade Sassará
Reprodução / Instagram

Jade Sassará carrega uma vasta bagagem cultural, tendo trabalhado como atriz, produtora musical e baterista. Diante de uma nova missão de encarar uma novela, a atriz enfrentou diversos desafios, incluindo ter que interpretar com o sotaque nordestino.

“Muitas dificuldades rolaram ao longo do caminho. O sotaque com certeza é uma delas. Além de eu não ser uma pessoa nordestina, eu cheguei na novela depois que o elenco já se conhecia e tinha passado por todo o processo de preparação. Eu tive que me virar muito sozinha para construir Aleluia. Esse lugar solitário da construção… Até começar a me estumar com o elenco, e criar intimidade para trabalhar com aquelas pessoas, houve dificuldades”, confessou.

A intérprete ainda declarou que ser a única atriz trans do elenco foi outra dificuldade; para Jade, a ignorância com pessoas como ela ainda acontece e é muito prejudicial.

“Mas a maior dificuldade mesmo é sempre a estrutural, de ser a única pessoa trans no elenco. Que infelizmente ainda acontece muito. E essa dificuldade de lidar com estruturas que, por ignorância, por falta de conhecimento, acabam sendo muito violentas com corpos como o meu. Essa é a parte mais difícil do trabalho”, disse.

Mistério sobre o final da personagem

Mar do Sertão - Jade Sassará e Leandro Daniel
Reprodução / Globo

Jade também deu pistas sobre o desfecho da sua personagem. Durante uma de suas falas, a atriz levantou questionamentos sobre a possibilidade de uma atriz trans conseguir ter um final feliz em uma novela. Vale lembrar que em nenhum momento a secretária levantou alguma bandeira ou abordou o tema da transexualidade.

“Se Aleluia terá algum amor previsto… Isso me gera esse questionamento: será que a gente consegue caminhar para um momento em que teremos pessoas trans tendo finais felizes e amores em novelas? Será que a gente já está nesse lugar? Será que a gente conseguiu construir um espaço para narrativas em que uma personagem como Aleluia tenha um final feliz, um amor previsto?”, indagou ela.

“Eu tenho até vontade de devolver esses questionamentos para o público. Tenho muito desejo de ver finais felizes e amores, afetos, lugares de prosperidade para narrativas e personagens de pessoas trans. Mas sinto que a gente tem muito a caminhar para conseguir vivenciar isso”, completou.

Contudo, a atriz afirmou que o público vai se emocionar não só com o destino da sua personagem, mas como a novela toda num todo.

“O público pode esperar chorar e rir muito. A novela toda, são muitas risadas e choros que despertam na gente, mas para esse final especificamente isso vai se intensificar ainda mais”, confessou.

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