André Santana

A relação entre as irmãs Leonor (Vanessa Giácomo) e Guida (Alessandra Negrini) foi um dos destaques dos primeiros capítulos de Travessia. Aparentemente afinadas e unidas, as duas têm suas diferenças expostas quando Guida surge noiva de Moretti (Rodrigo Lombardi), ex-namorado da irmã.

Inicialmente, Leonor parecia uma mulher frágil, enquanto Guida aparentava ser um tanto sádica. Afinal, por mais que Guida acreditasse que a irmã não tinha qualquer sentimento pelo ex, ainda assim faltou sensibilidade para compreender que se trata de um assunto que não deveria ser tratado como “surpresa”. Se Guida ficou noiva do ex da irmã, ela deveria ter comunicado isso bem antes do casamento, não é mesmo?

Porém, logo após o susto de Leonor, que chegou a botar fogo no vestido de noiva da irmã, a jovem fugiu do casamento de Guida com Stênio (Alexandre Nero), que vem a ser o ex-marido de Helô (Giovanna Antonelli). Hospedada na casa do advogado, Leonor começa a se insinuar para ele.

Ou seja, Leonor também mostra uma faceta um tanto controversa, ainda mais incompreensível que a da irmã Guida. O que ela pretende dando em cima de Stênio? Afinal, ela ainda gosta de Moretti? Qual seu real sentimento com relação a Guida? Tudo ainda é muito incompreensível.

Elo mais fraco

O terceiro vértice deste triângulo amoroso estranho é Moretti, que também é uma pessoa difícil de compreender. Não se sabe se Moretti é apenas sem noção, ou é um mau-caráter, ou apenas um sádico. Com seu sorriso largo e estranho, Moretti aparenta ser, na verdade, um desequilibrado.

Deste modo, a relação entre Leonor, Guida e Moretti é estranha em vários níveis. Enquanto Leonor e Moretti parecem desajustados, Guida aparenta ser, no mínimo, muito sem noção. É uma “cabeça de vento”, bem distante da realidade.

Sem emoção

Travessia - Gloria Perez

Com isso, fica difícil entender qual é, afinal, a história que Gloria Perez está querendo contar ao narrar o relacionamento entre Moretti, Leonor e Guida. A trama toda soa um tanto despropositada, que não cria nenhum tipo de elo com o público.

Triângulo amoroso bom é aquele que o público embarca de cara. Quando a plateia escolhe um lado e passa a torcer pela felicidade de seus personagens preferidos, a emoção acontece. E é isso que falta neste triângulo de Travessia.

Como embarcar nesta história sem ter alguém para torcer? Como escolher alguém para torcer se os três personagens envolvidos são três figuras tão controversas? Não tem jeito. Este triângulo é mais um equívoco de Travessia.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor