André Santana

Travessia já aborrece o público com sua trama que sai do nada rumo a lugar nenhum. A novela de Gloria Perez tem um enredo fraco e inconsistente, como se não soubesse exatamente qual história pretende contar.

Travessia - Bel Kutner e Humberto Martins
Ellen Soares / Globo

Para piorar a situação, o folhetim das nove da Globo está repleto de personagens sem função. Tipos como Nunes (Orã Figueiredo), Olímpia (Betty Gofman) ou Lídia (Bel Kutner) não têm narrativas próprias e costumam aparecer em sequências sem a menor importância.

Saudades de dona Jura

Travessia - Orã Figueiredo
João Miguel Júnior / Globo

Ao apresentar como cenário principal de sua história o bar Encanto da Vila, a autora Gloria Perez parecia querer resgatar o clima ensolarado e popular que fez o sucesso de dona Jura (Solange Couto) e seu divertido boteco em O Clone (2001). O núcleo de São Cristóvão era um capítulo à parte na trama, repleto de personagens e situações.

Mas a inspiração não se repetiu na Vila Isabel de Travessia. O Encanto da Vila é tocado por Nunes, que não tem um décimo do carisma da dona do bordão “né brinquedo não!”. Além de Nunes ser um personagem de poucas camadas, ele não tem um enredo próprio, ao contrário de Jura, sempre preocupada com o filho Xande (Marcello Novaes).

Tudo ao redor do bar da dona Jura funcionava. Por ali, circulavam Odete (Mara Manzan), Karla (Juliana Paes), Noêmia (Elizângela), Ligeiro (Eri Johnson), Raposão (Guilherme Karan)… Todos sempre envolvidos em alguma história que prendia a atenção do público. Tudo o que não acontece no Encanto da Vila.

Uma das frequentadoras do bar é Olímpia, personagem que, até agora, não se mostrou de fato em Travessia. Ela é a típica fofoqueira rabugenta, tipo que poderia render horrores nas mãos de uma atriz tão talentosa quanto Betty Gofman. No entanto, Olímpia só aparece para fazer volume em cena.

Escritório tedioso

Travessia - Dandara Mariana
Reprodução / Globo

O escritório de Guerra (Humberto Martins) também conta com personagens que pouco acrescentam ao enredo de Travessia. É o caso de Lídia. A secretária não tem uma trama só dela e aparece apenas para transferir ligações. Mais um caso de desperdício de talento.

Talita (Dandara Mariana) é outra personagem que parecia promissora, mas que se perdeu ao longo da novela. Ela entrou em cena com certo ar de mistério, conquistando a confiança de Guerra em pouco tempo. Mas, depois que seu projeto de shopping no metaverso foi esquecido, a jovem também ficou um tanto deslocada.

Com isso, seu ex-namorado Gil (Rafael Losso) não tem muito o que fazer. O tipo serve apenas de “orelha” aos discursos de Ari (Chay Suede).

Sem função

Travessia - Yohama Eshima
João Miguel Júnior / Globo

Travessia ainda traz casos de personagens que tinham uma função definida, mas suas histórias foram modificadas ou simplesmente esquecidas. É o caso de Yone (Yohama Eshima). A personagem, a princípio, teria outra função além de estar sempre ao lado de Helô (Giovanna Antonelli). De acordo com o site Observatório da TV, ela teria um envolvimento com o personagem assexual da novela, que, a princípio, se chamaria Laerte.

O jovem entrou na história, mas chamado de Caíque (Thiago Fragoso), e se envolveu com Leonor (Vanessa Giácomo), o que não estava previsto. A irmã de Guida (Alessandra Negrini), inicialmente, teria um relacionamento com Oto (Romulo Estrela). Mas Gloria Perez mudou tudo para acelerar o romance entre Oto e Brisa (Lucy Alves) e, assim, foi Yone quem saiu de mãos abanando.

Chiara (Jade Picon) foi outra personagem que perdeu função em Travessia. Ela foi apresentada como a antagonista, mas praticamente não teve embates com Brisa. A influencer também teria Síndrome de Munchaüsen, transtorno psicológico em que a pessoa simula sintomas ou força o aparecimento de doenças, mas a condição passou para Guida (e ainda não foi desenvolvida).

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor