Nilson Xavier

Uma das novelas de maior sucesso da década de 1990, A Indomada, de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, está completando 25 anos de estreia.

Originalmente exibida entre fevereiro e outubro de 1997, é outra trama por onde costumavam transitar personagens fantásticos dos autores, a exemplo de Tieta (1989-1990), Pedra Sobre Pedra (1992) e Fera Ferida (1993-1994), novelas anteriores com a mesma fórmula: história ambientada no Nordeste brasileiro com pitadas de realismo fantástico e muitos personagens carismáticos.

Abaixo listo 10 curiosidades que resumem bem essa produção.

Óxente mai Gódi!

O destaque foi o português com sotaque nordestino, falado pelos personagens, misturado a expressões da língua inglesa. Frases como “Uóti?”, “Istópi!” e “Óxente, mai Gódi!” – o bordão da vilã Altiva (Eva Wilma) – se popularizaram.

Passada na fictícia cidade de Greenville, em algum lugar no Nordeste brasileiro, onde todos davam um grande valor às tradições britânicas, a novela apresentou uma crítica à americanização mundial.

Sobre o palavreado de sua personagem, Eva Wilma comentou em sua biografia “Eva Wilma, Arte e Vida”:

Aguinaldo criou, na minha personagem, a expressão ‘Óxente, mai Gódi’. (…) inclui uma colaboração de uma amiga pernambucana: ‘thank you very much, viu bichinho!’ Nessa mistura entre o regionalismo pernambucano, o anglicismo e o americanismo residia o melhor do humor crítico do autor. Colaborei também com o ‘weeeell’ bem arrastado e esganiçado, que seria o nosso ‘beeeem’. E com uma expressão inglesa, antiga, de despedida, de tchauzinho, que é ‘triu-di-lou’.

Altiva e Pitágoras

Grandes interpretações de Eva Wilma e Ary Fontoura, que viveram a ardilosa dupla Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque e o deputado Pitágoras Willians Mackenzie.

Os atores foram premiados com o Troféu Imprensa de melhor atriz e melhor ator de 1997. Também foram eleitos os melhores do ano pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – Ana Lúcia Torre (também do elenco) foi eleita a melhor atriz coadjuvante.

Realismo fantástico

Aguinaldo Silva mais uma vez usou o ingrediente do realismo fantástico para desenvolver a trama.

Situações como a do Delegado Motinha (José de Abreu), que caiu num buraco e foi parar no Japão, de Emanuel (Selton Mello), que transformou-se num anjo, ou de Altiva, que, ao final, virou fumaça jurando voltar para se vingar, são exemplos de recursos de narrativa empregados pelo autor para conquistar os telespectadores.

O Cadeirudo

Tal qual acontecera em Tieta, em que o autor criou a misteriosa figura da Mulher de Branco, que atacava os homens de Santana do Agreste, A Indomada tinha o Cadeirudo, que saía em noites de lua cheia e atacava as mulheres de Greenville.

A identidade do Cadeirudo foi descoberta nos últimos capítulos e, para surpresa geral, era uma mulher: a beata Lurdes Maria, vivida pela atriz Sônia de Paula.

Inglaterra no Nordeste brasileiro

Para representar a mistura cultural do povo de Greenville, a cidade cenográfica, no Projac, mesclava fachadas vitorianas com casas nordestinas, e os cenários em estúdio continham elementos brasileiros e britânicos.

As caracterizações do elenco seguiam a mesma proposta: em pleno Nordeste, os personagens usavam trajes ingleses. O figurino de Pitágoras remetia ao ex-primeiro-ministro Winston Churchill, enquanto o do delegado Motinha foi inspirado na figura do detetive Sherlock Holmes. Altiva usava casaco de pele em pleno verão!

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Crossover de novelas

Em A IndomadaLima Duarte fez uma participação especial revivendo seu personagem na novela Pedra Sobre Pedra, Murilo Pontes, que vinha a Greenville para uma partida de pôquer.

E o personagem de Ary Fontoura voltou à cena em outra obra de Aguinaldo Silva: Porto dos Milagres (em 2001). Em princípio, o ator faria apenas uma participação especial, mas a recepção do público foi tão grande que o deputado Pitágoras acabou permanecendo na trama.

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A abertura

Antes de estrear como atriz, Maria Fernanda Cândido aparecia correndo na abertura de A Indomada. Seu corpo transformava-se em elementos da natureza (fogo, pedra e água) para vencer obstáculos que surgiam em seu caminho.

A abertura teve dois temas musicais: “Maracutudo” (gravação de Sérgio Mendes) e o hit “Unicamente”, com Deborah Blando (“Raiou o sol, olha o mar que alegria / Sentir você é viver em harmonia / Eu vou buscar pedras brancas pra te dar / Linda sereia, odoia Iemanjá!”), tocado na reprise do Vale a Pena Ver de Novo.

Porém, Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares não gostaram da abertura, reclamando publicamente do trabalho desenvolvido por Hans Donner e sua equipe. AQUI mais detalhes desse entrevero.

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Estreias

A Indomada foi a primeira novela na Globo dos atores Rodrigo Faro, Bruno Gradim, Matheus Rocha e Nívea Stellman (anteriormente ela havia feito apenas pequenas participações em outras produções).

Amélia Bittencourt, veterana atriz de teatro, estreava em novelas.

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A trilha sonora

Por ser uma trama “regionalista”, A Indomada teve duas trilhas nacionais lançadas, ao invés da tradicional dobradinha trilha nacional + trilha internacional.

Além da abertura (“Maracatudo”), a música mais representativa da novela foi o sucesso “Unicamente”, com Deborah Blando.

Destacaram-se também a regravação de Fábio Jr. para “Impossível Acreditar que Perdi Você”; “Ciranda da Rosa Vermelha” (Elba Ramalho); “Meu Bem Querer” (Djavan); “Onde Estará o Meu Amor” (Maria Bethânia); “Cana Caiana” (Alceu Valença); “Estrela” (Gilberto Gil); “I Love You Tonight” (Falcão); “Avoha!” (Zé Ramalho); “Vem Nhanhá” (Na Boquinha da Garrafa); e “Pra Ficar Contigo” (Maurício Mattar).

Não confunda…

… A Indomada (Globo, 1997) com a novela A Indomável, de Ivani Ribeiro, apresentada pela TV Excelsior em 1965, baseada em “A Megera Domada” de Shakespeare. Uma não tem nada a ver com a outra.

 

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor