Sucesso da Rede Globo de 1997, A Indomada viveu uma guerra nos bastidores que não afetou o desempenho da trama junto ao público. Os autores Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares não gostaram da abertura, reclamando publicamente do trabalho desenvolvido por Hans Donner e sua equipe.

Estrelada por nomes como Adriana Esteves, José Mayer e Eva Wilma, a novela foi exibida originalmente até 10 de outubro daquele ano no principal horário de tramas da emissora.

Na abertura, ao som de Maracatudo, de Sérgio Mendes, uma bela moça, com um vestido vermelho e cabelos soltos, corria por um solo árido. Essa mulher era Maria Fernanda Cândido, que ainda não era atriz da casa – portanto, era desconhecida do grande público. Na vinheta, ela vencia barreiras se transformando em elementos como fogo, água e pedra, deixando um rastro de canavial por onde passava.

Foi aí que começou o problema. Os autores não gostaram da combinação entre o visual e a música, que foi somente instrumental nas duas primeiras semanas. “Levei um susto. A abertura é fria, a novela é quente. O romance ou a comédia teriam sido os melhores caminhos”, disse Linhares ao jornal O Globo de 2 de março de 1997.

A primeira alteração foi feita pelo diretor artístico Paulo Ubiratan (1947-1998), em parceria com a equipe de Mariozinho Rocha, que cuidava das trilhas sonoras das novelas. As vozes da versão original da música passaram a ser ouvidas. Ainda assim, os autores não ficaram satisfeitos.

“Pelo que ouvi, ninguém gostou. A abertura é ruim, não tem a ver com a novela. Esperava algo mais rural. O fato de não ter música me deixou chocado. Agora mudou um pouco, mas tão pouco que não adiantou”, disse Aguinaldo Silva.

Hans Donner, por sua vez, defendeu a obra. “Acho que nossa equipe conseguiu resumir a ideia da sinopse: mostrar a protagonista como uma mulher ligada à natureza, que precisa ultrapassar vários obstáculos, mas que é tão forte que nada a detém. Aliás, não acho que a abertura seja fria: além de uma mulher, usamos fogo, água e plantas de verdade conjugados com os recursos da tecnologia. O problema é que as pessoas me chamam de mago da computação gráfica, e às vezes, não acreditam que eu utilize imagens reais”, explicou.

Na mesma reportagem, o cultuado designer também deixou claro que não tinha interferência na parte musical. “O departamento de efeitos visuais e o de sonorização trabalham separadamente, mas quando os dois acertam, o trabalho ganha uma força incrível”, ressaltou, dando um exemplo que aconteceu em 1980, na abertura da novela Água Viva. “As imagens dos barcos no mar não eram muito boas, mas a sonorização usou Menino do Rio, do Caetano Veloso, e foi um sucesso”, relembrou.

“Nosso trabalho é fazer embalagens para os produtos, e tentamos fazer sempre algo diferente. Mas se o tema é o mesmo, não temos como fugir completamente deles. Além disso, depois de tantos anos vendo mulheres se transformar em outras coisas e as agulhas costurarem magicamente, as pessoas começaram a cobrar mais”, completou Donner.

Depois de algum tempo, com o êxito alcançado pela trama, o assunto foi esquecido, pelo menos publicamente. Mas quando houve a reapresentação da trama no Vale a Pena Ver de Novo, entre 16 de agosto de 1999 e 17 de março de 2000, a Globo preferiu não arriscar. A abertura era a mesma, mas com outra canção: Unicamente, na voz de Deborah Blando, tema da protagonista Lúcia Helena (Adriana Esteves).

Mais de 20 anos depois da estreia, A Indomada foi reapresentada pelo canal Viva. Hans Donner ainda está na Globo, mas já não cuida de aberturas de novelas há algum tempo. Ricardo Linhares participou da autoria de Deus Salve o Rei e supervisionou Amor de Mãe. Aguinaldo Silva, por sua vez, voltou ao horário das nove com O Sétimo Guardião em 2018, e, no início de 2020, foi dispensado pela emissora.

Compartilhar.
Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor