André Santana

Primeira grande aposta da nova direção de teledramaturgia da Globo, encabeçada por José Luiz Villamarim, Pantanal terminou com status de êxito. Além de elevar a audiência do horário, muito em baixa em razão das reprises e do fiasco de Um Lugar ao Sol, a trama também demonstrou um alto potencial de engajamento, tornando-se um assunto nacional.

Pantanal

É preciso fazer um enorme exercício de memória para se lembrar qual foi a última novela das nove da Globo a alcançar tamanho grau de repercussão. Qual foi a trama que virou meme, gerou debate e realmente virou “mania”?

Mais do que audiência

Não se trata apenas de audiência, já que, quanto a isso, Pantanal foi apenas “mediana”. Segundo o Notícias da TV, a trama deve fechar com 30 pontos no Painel Nacional de TV (PNT). Com este resultado, ela supera Um Lugar ao Sol (22 pontos) e O Sétimo Guardião (27,6), mas fica atrás de A Dona do Pedaço (34,1). E, vamos combinar, A Dona do Pedaço não virou essa mania vista em Pantanal.

Números elevados mostram que há muita gente vendo. Mas a repercussão, esta capacidade de engajar, vai além disso. Uma novela precisa envolver o espectador de uma maneira arrebatadora para conseguir acessar tal status. Sob este aspecto, Pantanal se revelou bem-sucedida.

Avenida Brasil

A Globo teve algumas novelas de grande audiência nos últimos dez anos. Mas poucas alcançaram o status de Pantanal. Avenida Brasil (2012) ainda aparece como o último grande exemplo de novela capaz de provocar o público desta maneira. Ou seja, a Globo precisou refazer uma novela de 30 anos para se reconectar com o público.

Emoção

Sob este aspecto, o êxito de Pantanal mostra que as atuais novelas perderam esta capacidade de arrebatar o público. Produções recentes parecem mais preocupadas em reinventar o gênero, ou emular séries importadas. Ou pior: são tocadas no piloto automático, sem maiores esforços.

O texto do veterano Benedito Ruy Barbosa é um novelão cheio de camadas e mensagens. Pantanal tem personagens que cativam e geram identificação. A história de um Brasil profundo, com esta mescla de elementos sobrenaturais e mensagem ecológica, pega o público pela emoção.

É uma receita artesanal, que Benedito e seus contemporâneos inseriram nas novelas brasileiras, e que parece não existir mais. Parece que as novelas atuais (não todas, bem entendido) perderam a capacidade de emocionar. Foi preciso refazer uma obra do passado para perceber esta diferença.

Este é o legado que o remake de Pantanal deixa para a Globo. A emissora precisa encontrar um meio de resgatar este envolvimento emocional da novela e de seu público. Caso contrário, ficará cada vez mais dependente de remakes e histórias pouco inspiradas.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor