O “golpe da barriga”, um dos recursos mais manjados da teledramaturgia, está no ar em duas novelas da Globo, Vai na Fé e Terra e Paixão. Já a vilã com um passado de prostituição, outro clichê, surge em Amor Perfeito e na novela das nove.
Novela é feita de clichês, é verdade. No entanto, a Globo já foi mais cuidadosa e costumava evitar que uma mesma história aparecesse ao mesmo tempo em outra novela. Ao que tudo indica, este cuidado já não existe mais.
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Vilã prostituta
Logo no início de Amor Perfeito, Marê (Camila Queiroz) buscava um trunfo para provar sua inocência no assassinato de Leonel (Paulo Gorgulho), e, assim, derrotar a vilã Gilda (Mariana Ximenes). Não demorou muito para que ela descobrisse que a madrasta tinha um passado como prostituta no bordel de Madame Chantilly.
Pouco tempo depois, a mesma história virá à tona em Terra e Paixão. Irene (Gloria Pires) tenta esconder de todos que já trabalhou no bar de Cândida (Susana Vieira), onde se envolveu com o próprio cunhado, Ademir (Charles Fricks).
Além de batida, trata-se de uma trama ultrapassada. Associar um passado de prostituição à vilania mostra o quanto os autores de novelas ainda são conservadores, reservando qualquer liberdade sexual às malvadas, enquanto as boazinhas são pudicas. No mínimo, cafona.
Golpe da barriga
Terra e Paixão também guarda outra similaridade com uma novela que está no ar. Na novela de Walcyr Carrasco, Graça (Agatha Moreira) engravida de Marino (Leandro Lima) para dar o golpe da barriga em Daniel (Johnny Massaro), na tentativa de segurar o rapaz de qualquer jeito.
Algo parecido acontece em Vai na Fé. Guiga (Mel Maia) se envolveu com Yuri (Jean Paulo Campos), mesmo sabendo da paixão do rapaz por Viny (Guthierry Sotero). Para tentar fisgá-lo, ela apareceu com a lorota de que engravidou dele.
Engravidar para segurar um pretendente é um recurso dos mais batidos em novelas. Um recurso, aliás, que também parece cada vez mais antiquado. Afinal, não é de hoje que os casais já criam filhos sem estarem juntos.
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Falta de cuidado
Anos atrás, a Globo era bastante criteriosa para aprovar sinopses e definir as filas de produção de suas novelas. Neste processo de avaliação, o canal evitava aprovar duas histórias parecidas para irem ao ar ao mesmo tempo.
Não era um processo à prova de falhas, é verdade. Tanto que um deslize como este na aprovação de novelas, quase sempre, gerava um quiprocó. Basta lembrar do entrevero envolvendo Aguinaldo Silva e Walcyr Carrasco. Silva achou ruim quando Carrasco colocou em Morde & Assopra (2011) a história de uma mãe rejeitada por um filho, plot que também aparecia em Fina Estampa (2011).
No entanto, tal falha está se tornando cada vez mais comum. A semelhança das histórias de Terra e Paixão, atual cartaz das nove, e Renascer, sua substituta, também expõe esta falta de cuidado da Globo. A emissora já foi mais organizada.
