André Santana

Nome que se confunde com a história da televisão brasileira, Regina Duarte tem uma trajetória que fala por si mesma. Dona de uma galeria de personagens marcantes, a “namoradinha do Brasil” protagonizou grandes produções e ganhou o respeito do público e da crítica especializada.

Regina Duarte

No entanto, a atriz abriu mão dessa trajetória vitoriosa para se dedicar a um controverso projeto político. Apoiadora do presidente Jair Bolsonaro, Regina Duarte encerrou seu vínculo com a Globo para se tornar Secretária Especial de Cultura do Governo Federal, mas ficou pouco mais de dois meses no cargo. Saiu com a promessa de assumir a Cinemateca, em São Paulo, o que nunca aconteceu.

Ainda assim, Regina Duarte segue apoiadora ferrenha do atual governo. Recentemente, ela foi notícia por ter sido condenada a devolver R$ 319 mil aos cofres públicos após ter a prestação de contas da peça Coração Bazar reprovada. A empresa da atriz captou R$ 321 mil para executar o espetáculo por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).

Regina Duarte e Bolsonaro

Pois nem isso abalou sua relação com o atual governo. Há poucos dias, ela fez uma postagem em suas redes sociais na qual, mais uma vez, demonstra apoio à gestão. Na imagem sem legendas postada pela atriz, se lê: “A polarização motivada por arrogância pode levar as pessoas a adotar crenças falsas”.

Carreira em segundo plano

Roque Santeiro

Obviamente, Regina Duarte é livre para expressar suas ideias políticas e seu apoio a quem bem quiser. Justiça seja feita, a atriz sempre se posicionou politicamente, deixando claros os seus ideais e preferências.

Porém, no passado, o posicionamento político de Regina Duarte jamais ofuscou sua carreira. A atriz transitava muito bem entre a política e vida artística, acumulando trabalhos relevantes no teatro e, principalmente, na televisão.

Regina Duarte foi uma das grandes protagonistas da TV brasileira. Na juventude, fez uma série de mocinhas românticas. Depois, quebrou a sequência de mocinhas com a emblemática Viúva Porcina, de Roque Santeiro (1985). Na maturidade, interpretou heroínas fortes e marcantes. Tanto que foi a única atriz a viver a famosa Helena de Manoel Carlos em três trabalhos: História de Amor (1995), Por Amor (1997) e Páginas da Vida (2006).

Tempo de Amar

Em seus últimos anos na Globo, a atriz vinha sendo menos requisitada, mas ainda assim interpretou tipos marcantes. Sua exagerada Clô Hayalla roubou a cena no remake de O Astro (2011), revelando-se a misteriosa assassina de Salomão (Daniel Filho). Em Sete Vidas (2015), emocionou ao viver a artista plástica homossexual Esther. Já em Tempo de Amar (2017), sua última novela, fez uma memorável Madame Lucerne, numa brilhante parceria com Tony Ramos.

Por isso, é triste constatar que, por escolha própria, Regina Duarte tenha aberto mão de uma carreira consolidada para se dedicar a um projeto político muito menor que sua contribuição às artes do Brasil. Ela não faz falta na equipe do atual governo, mas faz muita falta na TV.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor