André Santana

A crise da dramaturgia bíblica da Record afundou o horário nobre da emissora. As novelas Reis e Todas as Garotas em Mim reduziram o público da faixa e prejudicaram a linha de realities do canal, que registra históricos índices negativos. No entanto, a pior das pedras no sapato da emissora é a reprise de Amor Sem Igual, encaixada entre a novela bíblica e a linha de shows.

Thiago Rodrigues

Exibida no horário das 22 horas, Amor Sem Igual faz “sala de espera” aos reality shows da Record. No entanto, a saga da prostituta Poderosa (Day Mesquita) não empolga e derruba os já baixos índices recebidos de Reis, atração que a antecede na grade.

Curiosamente, a direção da Record assiste, passivamente, a reprise de Amor Sem Igual afugentar o público da emissora. Em outros tempos, o canal acionaria a mágica da edição e aceleraria a reexibição, livrando-se desse problema o mais rápido possível. Afinal, é uma reprise.

Estranhamente, isso não acontece. Amor Sem Igual segue no ar, sem dar qualquer sinal de que vai fazer os números do Ibope subirem. Com isso, dia a dia, a Record vai perdendo mais público e colocando a perder toda a sua estratégia de programação.

Reprise equivocada

Na verdade, o maior erro da Record é insistir em reapresentar novelas no horário das 22 horas. Num passado não muito distante, a emissora lançou duas faixas de novelas no horário nobre para abastecê-las com produções inéditas. A ideia era ter uma faixa de novelas bíblicas e outra para novelas contemporâneas.

No entanto, a dificuldade da emissora de alinhar duas produções de dramaturgia simultaneamente, somado à crise imposta pela pandemia da Covid-19, fez com que o segundo horário fosse entregue a reprises, como Topíssima e Jesus, ou enlatados, como Quando Chama o Coração.

A Record chegou a cogitar exibir Reis no primeiro horário e Todas as Garotas em Mim no segundo. Porém, a estação voltou a esbarrar em sua falta de planejamento e optou por promover um rodízio entre as duas produções no primeiro horário. Com isso, o segundo horário ficou entregue a reprises.

Jesus - Dudu Azevedo

É preciso lembrar que a experiência de exibir a produção internacional Quando Chama o Coração se revelou acertada. A série canadense não chegou a ser um fenômeno, mas manteve índices de audiência bem mais interessantes que os da reprise de Amor Sem Igual. Ao menos, era uma produção inédita para o público da emissora.

Nova estratégia

Ou seja, a Record precisa de uma nova estratégia para sua programação noturna. A emissora precisa, com urgência, definir uma outra atração para a faixa das 22 horas, livrando-se das desnecessárias reprises no horário. Se o canal não consegue produzir algo novo para o horário, poderia ao menos apostar em produções aos moldes de Quando Chama o Coração.

O que não pode é ficar refém de repetecos de novelas super recentes, e que não têm qualquer apelo junto ao público. A reprise noturna de folhetins está minando a força do horário nobre da emissora. Quando o canal acordar, pode ser tarde demais.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor