André Santana

Em 2014, quando a Globo optou por inverter os horários da Sessão da Tarde e do Vale a Pena Ver de Novo, a emissora acabou “destapando um santo para tapar outro”. A reprise de novelas foi muito bem no final da tarde, mas a faixa de filmes se mostrou um produto frágil ao ser exibido mais cedo.

O Cravo e a Rosa

Isso ficou claro quando o Vídeo Show perdeu força e, consequentemente, a Sessão da Tarde saiu prejudicada. E o resto é história: a Record avançou com o A Hora da Venenosa, o Vídeo Show capengou de vez e foi extinto, sendo substituído pelo Se Joga, que também não vingou.

Coube então à “edição especial” de O Cravo e a Rosa resolver esta falha na grade de programação. Na reta final da reprise, está claro que a ideia se revelou um grande acerto. A trama não apenas recuperou a liderança da Globo no horário, como elevou os índices de audiência a patamares inimagináveis.

Balanço Geral

O bom desempenho de O Cravo e a Rosa reafirma a força da dramaturgia da Globo. Não é por acaso que as novelas são o carro-chefe da programação: a emissora atingiu um nível de excelência indiscutível e, com isso, segue mobilizando e emocionando seu público com folhetins. Seja uma obra inédita ou uma reprise.

Fidelização do público

A Gata Comeu

É bem possível concluir que, caso a Globo não tivesse realocado o Vale a Pena Ver de Novo na grade, a crise vespertina da emissora não teria ficado tão grave. Uma faixa de novelas é um produto com alto potencial para fidelizar o público, e o sucesso do Vale a Pena no horário do almoço comprova isso.

Claro, a faixa pode atrair mais ou menos público de acordo com a novela reapresentada. No entanto, como se trata de uma reprise, não é difícil driblar qualquer deslize. Afinal, se um repeteco vai mal, basta passar o facão na edição e estrear um arrasa-quarteirão no lugar. A novela certa há de fisgar o público, que se torna uma audiência fiel, pois o noveleiro estará ali todos os dias acompanhando a história.

Um exemplo desta mobilidade foi a baixa audiência que a Globo alcançou quando inventou de reprisar episódios do Você Decide no Vale a Pena Ver de Novo, em 2001. A audiência caiu, a ideia foi abortada e a emissora escalou A Gata Comeu para o horário, trazendo o público de volta rapidamente.

Edição especial

O Cravo e a Rosa

Assim, esta nova faixa de “edições especiais” criada pela Globo nada mais é que um Vale a Pena Ver de Novo raiz: uma novela simpática, exibida próximo ao almoço, com grande capacidade de atrair jovens e donas de casa.

Na prática, a emissora voltou com o Vale a Pena em seu horário clássico, enquanto tem uma “nova reprise” antes da novela das seis. Esse “recado” da audiência não pode ser desprezado pela emissora.

Porém, se a força da dramaturgia da Globo é sua virtude, é também sua maldição. Isso porque o canal acabou se tornando refém de seus folhetins, demonstrando incapacidade de oferecer algo mais que isso em suas tardes. O Cravo e a Rosa resolveu um problema, mas acabou criando outro.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor