Quem foi Aracy de Carvalho, protagonista de Passaporte para Liberdade
20/12/2021 às 7h34
Com estreia programada para este dia 20 de dezembro, a nova minissérie da Globo (feita em parceria com a Sony Pictures Television), Passaporte para a Liberdade, será baseada em fatos reais, tendo como fio condutor a saga humanitária protagonizada por Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (1908-2011) que, na produção, será interpretada por Sophie Charlotte.
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Aracy teve um reconhecido papel histórico durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) por sua atuação no Consulado Brasileiro em Hamburgo, na Alemanha, onde trabalhava ao lado daquele que se tornou o seu segundo marido, o escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), vivido na minissérie por Rodrigo Lombardi.
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Quem foi Aracy de Carvalho
Filha da alemã Sidonie Moebius e do luso-brasileiro Amadeu Anselmo de Carvalho, Aracy nasceu em Rio Negro, no Paraná, no dia 5 de dezembro de 1908. Casou-se em 1930 com o alemão Johannes Edward Ludwig Tess. Quatro anos depois, separou-se e foi viver na Alemanha com o filho, Eduardo Carvalho Tess. Ambos se estabeleceram em Hamburgo, na casa de uma tia de Aracy, Lucy Luttmer.
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Sendo poliglota – falava português, alemão, francês e inglês -, Aracy conseguiu em 1936 um emprego no Consulado Brasileiro, sendo nomeada chefe da Seção de Passaportes, posição que seria estratégica e fundamental para garantir a judeus uma fuga ante a perseguição instituída pelo regime nazista, especialmente após a fatídica Noite dos Cristais, ocorrida em 9 de novembro de 1938.
A situação era ainda mais complexa diante do fato de que, em 1937, havia sido emitida a Circular Secreta nº 1.127, documento do governo brasileiro (então sob a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas) que restringia a entrada de judeus no país.
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Para driblar quaisquer impedimentos legais, Aracy misturava pedidos de visto com outros papéis e os levava ao cônsul-geral, com quem despachava diretamente, visando obter a assinatura de autorização.
Para que os judeus passassem despercebidos, ela conseguia atestados de residência em Hamburgo, evitando assim que os passaportes deles fossem emitidos com a letra “J”, obrigatória para identificá-los.
Além do providencial auxílio burocrático, Aracy transportou judeus em diversas ocasiões para fora da Alemanha em seu próprio carro, já que não poderia ser revistada por trabalhar em um consulado. Também levou dinheiro e joias a alguns que fugiram em navios com destino ao Brasil.
Tanta ousadia e coragem não só renderam a Aracy a alcunha de “O Anjo de Hamburgo”, como também a mais importante distinção concedida a não-judeus que protegeram vidas durante a guerra: ela passou a ter, em 1982, o nome inscrito no Jardim dos Justos entre as Nações, instalado no Yad Vashem (Memorial do Holocausto), em Israel. Ela também é homenageada no Museu do Holocausto, localizado em Washington, capital dos EUA.
Guimarães Rosa
No consulado, Aracy conheceu Guimarães Rosa, nomeado cônsul-adjunto em 1938. Os dois iniciaram uma relação e permaneceram em Hamburgo até 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha, passando a combater os nazistas juntamente com os Aliados.
A situação fez com que ambos ficassem sob custódia do governo alemão por quatro meses. Foram liberados somente após a troca deles por diplomatas alemães.
Como na época não era permitido no Brasil a pessoas desquitadas se casarem novamente, tiveram que formalizar a união em 1947 na Embaixada do México no Rio de Janeiro, por meio de procuração.
Com Sagarana (1946), Guimarães Rosa iniciou sua exitosa incursão na literatura brasileira, atingindo o auge com Grande Sertão: Veredas (1956), livro que dedicou a Aracy.
A importância de suas obras o alçou em 1963 à categoria de imortal da Academia Brasileira de Letras, mas ele assumiu de fato a condição de terceiro ocupante da cadeira número 2 apenas três dias antes de sua morte, ocorrida em 19 de novembro de 1967, quando ele tinha 59 anos.
Morte de Aracy de Carvalho
Viúva, Aracy nunca mais se casou. Notabilizou-se também por ajudar pessoas a fugir da perseguição política da ditadura militar brasileira (1964-1985), com destaque para o músico Geraldo Vandré, a quem escondeu no apartamento onde residia na época, em Copacabana.
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Sofrendo do Mal de Alzheimer, morreu de causas naturais em São Paulo aos 102 anos, em 3 de março de 2011, tendo sido sepultada ao lado de Guimarães Rosa no Mausoléu da ABL, situado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
Além do filho Eduardo, deixou quatro netos e oito bisnetos.