No ar pela segunda vez no Vale a Pena Ver de Novo, Mulheres Apaixonadas fez um enorme sucesso no horário nobre da Globo em 2003. No entanto, a trama também gerou bastante controvérsia por conta dos inúmeros temas polêmicos abordados por Manoel Carlos em seu enredo.

Daniel Zettel em Mulheres Apaixonadas
Daniel Zettel como Carlinhos em Mulheres Apaixonadas (Reprodução / Globo)

Uma das tramas que deu o que falar foram as investidas de Carlinhos (Daniel Zettel) na empregada doméstica Zilda (Roberta Rodrigues). O fato levou o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos a entrar na Justiça contra o folhetim da Globo.

[anuncio_1]

Trama controversa

Daniel Zettel e Roberta Rodrigues
Carlinhos (Daniel Zettel) e Zilda (Roberta Rodrigues) em Mulheres Apaixonadas (Reprodução / Globo)

Em Mulheres Apaixonadas, Zilda trabalhava como empregada doméstica no apartamento de Carlão (Marcos Caruso) e Irene (Martha Mellinger). Alegre e divertida, a jovem mantinha uma boa relação com os patrões, mas era alvo das investidas de Carlinhos, filho caçula do casal.

Boa praça, Carlinhos era um típico adolescente que fazia de tudo para perder a virgindade. Nessa busca, ele vivia cercando a doméstica, que costumava cortar as investidas do rapaz.

No entanto, na reta final da trama, Zilda mudou de atitude e começou a corresponder às abordagens de Carlinhos, o que incomodou o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Jundiaí (SP). A organização, então, entrou na Justiça contra a Globo.

Na Justiça

Manoel Carlos
Reprodução / IMDB

O Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Jundiaí entrou com uma ação cautelar na tentativa de impedir que fosse ao ar uma cena de sexo envolvendo Zilda e Carlinhos. O sindicato alegava que a novela da Globo incentivava o preconceito contra a classe.

“Tem inserido na cabeça de adolescentes o desrespeito e insinuado que a categoria de empregadas domésticas, além de servir à família com seu trabalho e dedicação, deve servir aos desejos sexuais dos pequenos iniciantes, como se fossem meretrizes à espera do patrãozinho”, diz trecho da petição.

Por conta disso, a Folha de S. Paulo, em 22 de setembro de 2003, procurou o autor Manoel Carlos (foto acima). Ao ser informado sobre o que estava acontecendo, o novelista minimizou a situação.

“Isso é normal. Quando há na novela uma enfermeira e um sujeito se interessa, pronto, lá vem o sindicato. As secretárias, a mesma coisa. Também tivemos problemas com as massagistas. É como se essas profissionais não fossem capazes de provocar interesse em um homem, a não ser por suas qualidades profissionais. Ainda não sei se farei o Carlinhos transar com a Zilda, mas, se tiver, faço”, cravou.

[anuncio_3]

Pedido negado

Mulheres Apaixonadas - Christiane Torloni
Christiane Torloni como Helena em Mulheres Apaixonadas (Reprodução / Globo)

No entanto, em 22 de setembro de 2003, a Folha Online informava que a ação do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos havia sido negada. A juíza Hertha Helena Rollemberg Padilha Palermo, do Tribunal de Justiça de São Paulo, defendeu que Mulheres Apaixonadas (foto acima) era uma obra de ficção.

“Segundo o entendimento do autor nenhum personagem ruim ou que pratique atos condenáveis pode ter profissão definida, porque tal atentaria contra os direitos da personalidade de todos os profissionais da categoria”, dizia a decisão da magistrada.

Assim, não houve qualquer empecilho para que Carlinhos e Zilda transassem na novela da Globo. Deste modo, o adolescente realmente perdeu a virgindade com a doméstica nos últimos capítulos de Mulheres Apaixonadas.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor