No dia 30 de setembro do ano passado, Salsa e Merengue – de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa – completou 26 anos de sua estreia. Apesar de ter ganhado o prêmio APCA de melhor novela do ano, desbancando a aclamada O Rei do Gado (foto abaixo), a trama jamais foi reprisada pela Globo, mas pode ser resgatada em breve pelo Globoplay.

O Rei do Gado - Antonio Fagundes
Reprodução / Globo

Salsa e Merengue abordava a disputa de dois homens – Eugênio (Marcello Antony) e Valentim (Marcos Palmeira) – pelo coração da jovem Madalena (Patrícia França). O que os dois rapazes não imaginavam é que eles eram irmãos.

Enredo clássico

Eugênio foi criado pela poderosa família de Guilherme Amarante Paes (Walmor Chagas), enquanto Valentim era filho da batalhadora Anabel Muñoz (Arlete Salles), que, no passado, teve que abandonar o primogênito ainda bebê e nunca mais o encontrou.

A trama sofre uma reviravolta quando Eugênio é diagnosticado com uma grave doença, necessitando de um transplante de medula. Neste momento, Guilherme revela que ele não é seu filho; Madalena descobre que Valentim é irmão legítimo do empresário, sendo a única pessoa capaz de salvá-lo.

Autor estreante

Sai de Baixo - Tom Cavalcante

Salsa e Merengue marcou a estreia de Miguel Falabella como autor de novelas, retomando a parceria com a escritora Maria Carmem Barbosa, com quem já havia trabalhado no seriado Delegacia de Mulheres (1990) e no humorístico Sai de Baixo (1996). A dupla ainda faria a novela A Lua me Disse (2005) e o seriado Toma Lá, Dá Cá (2007).

Na época, Falabella estava envolvido em inúmeros trabalhos. Além de viver o Caco Antibes no Sai de Baixo, ele dirigia um espetáculo teatral e apresentava o Vídeo Show.

Ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, ele fez o seguinte comentário acerca de sua novela.

“Salsa e Merengue tinha um diálogo absolutamente delicioso, era um frescor. A novela tinha um ruído novo e personagens bárbaros (…), muito cariocas, tipos pinçados daqui e dali um amálgama de gente que eu fui conhecendo e entendendo ao longo da minha vida. Salsa e Merengue foi um momento muito legal. Eu descobri ali que gostava de escrever novela”.

Além de tratar da doação de medula, o folhetim abordou outros temas socioeducativos como a gravidez precoce e a degradação do meio ambiente. Salsa e Merengue ainda trouxe a questão da homossexualidade, através das personagens Dayse (Rosi Campos) e Tereza (Ângela Rabelo).

Destaques

Salsa e Merengue contou com excelentes desempenhos em seu elenco. Marcello Antony foi alçado a protagonista após participar da primeira fase de O Rei do Gado. A novela também fez brilha Débora Bloch, de volta às tramas da Globo após estrelar As Pupilas do Senhor Reitor (1994), no SBT. Sua vilã Teodora acabou fisgando Eugênio no último capítulo.

Arlete Salles divertiu e emocionou como a batalhadora Anabel Muñoz, assim como Laura Cardoso esteve irrepreensível como Ruth, uma senhora ardilosa, sempre envolvida com jogos de azar.

Já no núcleo passado na fictícia Vila Vintém, responsável pelos momentos de maior humor da trama, o casal formado por Marcos Oliveira e Stela Miranda (Candinho e Socorro) arrancou boas gargalhadas do público.

A produção ainda contou com a participação dos atores portugueses Paulo Pires e Marques d’Arede, que viveram os misteriosos Vasco e Rodolfo. Outro ponto a destacar foi o tema de abertura, Maria (Salsa Y Merengue), gravado por Ricky Martin e que se tornou um hit instantâneo no país.

Folhetim que desbancou novela rural

Salsa e Merengue foi um sucesso que reergueu a moral do horário, após a malfadada Vira Lata, de Carlos Lombardi – embora a média de audiência desta tenha sido maior, 36 x 34,8.

A trama faturou dois importantes prêmios. Um deles foi o da Associação Paulista de Críticos de Arte, que elegeu o folhetim escrito por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa como a Melhor Novela de 1996, desbancando O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa.

O outro prêmio foi o de Melhor Atriz para Arlete Salles, dividindo o posto com Drica Moraes, a Violante de Xica da Silva. Débora Bloch levou o Troféu Imprensa na mesma categoria.

O sucesso da novela foi comprovado com uma comunidade do Rio de Janeiro, parte do Complexo da Maré, em Bonsucesso, na Zona Norte, batizada com o nome Salsa e Merengue.

Mesmo com tantos pontos positivos a seu favor, Salsa e Merengue jamais foi reprisada. Resta torcer para que ela integre o catálogo do Globoplay, serviço de streaming do Grupo Globo, ou que ganhe uma exibição no Canal Viva.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor