A primeira novela gravada inteiramente no Projac estreou com data certa para acabar. A autora de Explode Coração (1995), Gloria Perez, concluiu a trama antes do julgamento dos assassinos de Daniella Perez, sua filha.

Explode Coração

Gloria foi peça fundamental na investigação do crime cometido por Guilherme de Pádua e Paula Thomaz – conforme retratado na série Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez, da HBO Max.

Romance proibido e tecnologia

Projac

Explode Coração abordava as tradições do povo cigano e o avanço da internet. Dara (Tereza Seiblitz), jovem que, embora orgulhosa de suas raízes, desafia o pai para poder estudar, envolvia-se com o empresário Júlio Falcão (Edson Celulari). O romance esbarrava nas pretensões políticas dele e na promessa dos pais dela, que arranjaram o casamento da filha com Igor (Ricardo Macchi) assim que ela nasceu.

O folhetim contou com tipos populares como Lucineide (Regina Dourado), sempre usando do bordão “Stop, Salgadinho!” para dar um basta nos abusos do esposo (Rogério Cardoso). Também o casal Beth (Renée de Vielmond) e Serginho (Rodrigo Santoro), marcado pela diferença de idades. E o drama das crianças desaparecidas, através de Odaísa (Isadora Ribeiro) e seu filho Gugu (Luiz Cláudio Jr).

Trato feito

O Fim do Mundo

Explode Coração foi uma espécie de “plano B” da Globo. Em meados de 1995, o canal planejava exibir O Rei do Gado após A Próxima Vítima. Só que, além das dificuldades de produção, a trama de Benedito Ruy Barbosa possuía um núcleo semelhante ao do folhetim de Silvio de Abreu: o de italianos. Veio a opção por Mar Morto, adaptação de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares para a obra de Jorge Amado.

Os custos inviabilizaram o projeto. Foi quando se deu a escalação de Gloria Perez. A novelista acatou a decisão, com a condição de ser liberada ainda no primeiro semestre de 1996 para dedicar-se ao julgamento, previsto para agosto. Como a produção de O Rei do Gado estava atrasada, a Globo usou O Fim do Mundo, minissérie de Dias Gomes, para cobrir a faixa.

Em nome da filha

Daniella Perez e Gloria Perez

A novelista não mediu esforços para fazer justiça a Daniella Perez. Com o auxílio da imprensa, que disponibilizou folhas para abaixo-assinado em jornais e revistas, Gloria recolheu mais de 1 milhão de assinatura e solicitou alteração na Lei de Crimes Hediondos, incluindo nestes o homicídio qualificado – cometido por motivo torpe ou fútil e com crueldade.

Em consideração ao serviço prestado por ela para a sociedade com a campanha em busca de crianças desaparecidas – fotos de menores eram exibidas nos capítulos e no encerramento de Explode Coração –, o Centro Brasileiro em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente espalhou outdoors com fotos de Daniella e protestos contra a impunidade.

Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram condenados, em janeiro de 1997, a 19 e 18 anos de prisão, respectivamente, por homicídio duplamente qualificado. Ambos deixaram o regime fechado após o cumprimento de um terço da pena, em 1999. Hoje, Guilherme é pastor e está casado com a maquiadora Juliana Lacerda. Paula, que agora usa o sobrenome Peixoto, leva uma vida discreta ao lado de sua família.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor