Antes mesmo de estrear, Terra e Paixão, próxima trama das nove da Globo, viveu sua própria novela. A emissora divulgou o nome oficial da produção no meio de fevereiro, após desistir de usar títulos como Terra Vermelha e Terra Bruta. Outro motivo de indefinição foi a escolha da protagonista.

Agatha Moreira

Walcyr Carrasco queria Agatha Moreira (foto acima) como protagonista, mas a emissora solicitou que o escritor mudasse a sinopse da novela, que substituirá Travessia em maio, e trocasse de mocinha.

Duramente criticado em um passado não muito distante pela falta de representatividade em suas obras, o canal ficou atento ao assunto e passou a escalar mais atores pretos para as suas produções.

Motivo da troca

Terra e Paixão

Decidindo recuperar o tempo perdido, a Globo proclamou que os atores negros não serão apenas escalados, mas terão papel de destaque, algo raramente visto nos melodramas da casa. Foi assim que a nova queridinha do dramaturgo perdeu o papel principal de sua nova história e passou a ser uma das vilãs do folhetim.

Coube a Bárbara Reis (foto acima), no ar em Todas as Flores, do Globoplay, fazer as vezes da próxima mocinha do autor – embora também foram cotadas atrizes como Érika Januza e Larissa Nunes.

Erro histórico

No último ano, a prática foi recorrente. Na faixa das sete, a recém-terminada Cara e Coragem, de Claudia Souto, trazia Taís Araujo (foto acima) e Paulo Lessa como atores principais.

Sua substituta, Vai na Fé, atualmente no ar, proporcionou a estreia de Sheron Menezzes como protagonista, ao lado de Samuel de Assis.

Em um país de maioria negra – cerca de 55,5%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, realizada no 2º trimestre de 2022 –, demorou para que negros fossem vistos com mais frequência nas novelas brasileiras.

Protagonismo merecido

Seghundo

Antes do novo pensamento da empresa carioca, cabiam aos negros, em maioria, apenas espaços destinados a empregados e escravos.

Nem mesmo uma produção ambientada na Bahia, como foi Segundo Sol (2018, foto acima), trouxe um número razoável de atores pretos. Pelo contrário, a branquitude do elenco chamou a atenção e a Globo foi duramente criticada e processada pela falta de diversidade.

Desde então, a emissora vem se preocupado com o tema, principalmente no último ano. Assim, oportunidades unicamente dadas a Taís Araujo e Camila Pitanga passaram a ser mais democráticas, levando Lucy Alves, por exemplo, ao cargo de protagonista de novela das nove, Travessia.

O feito abriu as portas para que outros atores representem a orgulhosa negritude que carregam e representem o povo que, em sua maioria, assiste do sofá.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor