A reprise de O Rei do Gado no Vale a Pena Ver de Novo tem sido uma grande oportunidade de rever artistas que estão longe da telinha. Entre eles está Stenio Garcia, que interpretou o peão Zé do Araguaia na trama de Benedito Ruy Barbosa. O tipo é amigo e funcionário de Bruno Mezenga (Antônio Fagundes) na região do Rio Araguaia.

O Rei do Gado - Pedro Gabriel e Stenio Garcia
Divulgação / Globo

Só que o ator quase foi impedido pela Globo de viver esse personagem. A emissora se mostrou preocupada com um possível desgaste da imagem do ator diante do público, uma vez que o artista tinha acabado de viver o cigano Pepe em Explode Coração (1995).

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Sorte

O Rei do Gado - Stenio Garcia
Jorge Baumann / Globo

Na época, O Rei do Gado estava na fila do horário nobre da Globo para substituir Explode Coração. No entanto, por conta de atrasos na produção da trama, a emissora optou por escalar a minissérie O Fim do Mundo para “tapar o buraco” e dar mais tempo ao folhetim de Benedito Ruy Barbosa. A trama de Dias Gomes foi anunciada como uma “supernovela em 35 capítulos”.

Isso acabou ajudando Stenio Garcia. O adiamento de O Rei do Gado permitiu ao ator praticamente emendar os dois trabalhos. E Zé do Araguaia se tornou um dos mais marcantes personagens de sua carreira.

“O Zé do Araguaia me traz uma grande possibilidade de estudo étnico, cultural e antropológico. No teatro e nas outras emissoras onde trabalhei, me especializei em personagens rurais. Mas, na Globo, só fiz alguns tipos assim no começo”, disse o ator em entrevista ao jornal O Globo em 28 de abril de 1996.

Período de vivência

Carga Pesada

A fim de aprimorar a criação do novo personagem e para afastar a imagem do papel de cigano exercido em Explode Coração, Stenio Garcia decidiu passar dez dias na região do Araguaia.

Em entrevista ao Jornal do Brasil de 1º de maio de 1996, ele contou que faria uma espécie de período de vivência, onde seria obrigado a aprender a andar a cavalo e laçar boi. O veterano afirmou também que ia aderir a banhos de sol para dar “acabamento” ao Zé da Araguaia.

“É um desafio, mas eu gosto. É necessário mudar tudo. O veículo é imediatista e horário e público são mais exigentes. Se você repete a entonação ele percebe. O desafio está em surpreendê-lo”, garantiu o astro, que já estava estudando a sinopse dos 20 primeiros capítulos do seu personagem.

Incansável

A Padroeira
Reprodução

Mas essa não foi a primeira vez que o ator emendou um trabalho no outro. Em 1990, Stenio vivia o ex-presidiário Argemiro em Meu Bem Meu Mal. O personagem foi morto faltando dois meses para o término da trama, liberando o ator para dar vida ao poderoso Herculano de O Dono do Mundo (1991).

Já em 2001, Stenio Garcia vivia Dom Antonio Cabral em A Padroeira. No entanto, Gloria Perez o convidou para viver tio Ali em O Clone, do mesmo ano. Com isso, o personagem do ator morreu logo no início da trama de Walcyr Carrasco.

Por onde Stenio Garcia?

Carga Pesada
Reprodução

Aos 90 anos de idade, Stenio Garcia encontra-se afastado das novelas desde sua participação em Deus Salve o Rei em 2018. Em março de 2020, a esposa de Stenio, Marilene Saade, contou em entrevista ao jornal O Dia que ele não estava sendo escalado para uma novela inteira desde 2012 por conta de desavenças com Silvio de Abreu, o então diretor de Dramaturgia da emissora.

Na mesma entrevista, Stenio chegou a fazer um apelo aos diretores para poder voltar a atuar. No dia 19 de março, prestes a ter seu contrato encerrado por não estar reservado para algum trabalho, o astro informou ao Notícias da TV que a autora Gloria Perez tinha um papel pra ele para a próxima novela dela, que estava prevista para estrear em 2021.

Só que, em 29 de março, o ator publicou em sua conta no Instagram o seu desligamento da Globo, após 47 anos de serviços prestados. Em 2021, o artista retornou ao canal para gravar uma participação na série Filhas de Eva, na qual interpretou o político Jurandir Sampaio.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor