André Santana

Em outros tempos, um fiasco do tamanho de Travessia seria inadmissível na Globo. A emissora já teria feito uma grande intervenção no texto e, se a audiência não reagisse, ela simplesmente passaria a tesoura. Basta lembrar do que aconteceu com Babilônia (2015), fracasso histórico que teve seu enredo modificado e acabou saindo do ar com capítulos a menos.

Lucy Alves - Travessia
Reprodução / Globo

Mas a novela de Gloria Perez não deve ter o mesmo triste destino do folhetim de Gilberto Braga. A autora até tentou mexer no texto aqui e ali, mas nada muito significativo. Ao que tudo indicava, a novela não seria encurtada.

No entanto, uma nova decisão mudou o jogo. O site Notícias da TV divulgou que a emissora voltou atrás e decidiu limar duas semanas de Travessia. Com isso, a trama vai terminar dia 5 de maio, 15 dias antes do previsto inicialmente. A sucessora, Terra e Paixão, de Walcyr Carrasco, estreará no dia 8 de maio e terá nada menos do que 221 capítulos.

Provavelmente, a Globo fez nova avaliação sobre o risco grande que está correndo ao insistir com a história de Brisa (Lucy Alves, foto acima).

Sem encurtamento

Gloria Perez
Divulgação

Várias novelas da Globo tiveram seus capítulos reduzidos em razão da baixa audiência. Tramas como O Mapa da Mina (1994), As Filhas da Mãe (2001), Desejo Proibido (2007), Em Família (2014) e a já citada Babilônia são algumas das produções que saíram do ar antes do previsto por não corresponderem às expectativas de audiência do canal.

Seria natural, portanto, que Travessia engrossasse esta lista, já que a trama de Gloria Perez (foto acima) é a segunda novela das nove menos vista de todos os tempos, atrás apenas de Um Lugar ao Sol (2021).

O corte poderia ser até maior, mas aí pesa o motivo financeiro, afinal, o orçamento de uma novela é fixo. Sendo assim, um folhetim com muitos capítulos tem seu custo diluído ao longo de sua trajetória. Ou seja, uma novela longa dá mais lucro que uma novela curta. E a Globo, nesta fase mais “econômica”, não está disposta a perder dinheiro.

Risco

Walcyr Carrasco
Victor Pollak / Globo

Agora, a Globo parece que levou em consideração outros tipos de prejuízos que uma novela das nove fracassada pode causar. Um deles também é econômico, já que o intervalo da novela é o horário mais caro da grade. Como convencer o cliente a anunciar ali, se o público da faixa, muitas vezes, é menor que o da novela das seis ou das sete?

Além disso, há um risco à imagem da própria emissora, que mantém no ar uma novela que é constantemente alvo de comentários negativos. Público e crítica torceram o nariz para a trama, e não há muito o que fazer a este respeito.

Por fim, há a evidente fuga de público. A emissora viu sua audiência do horário nobre desabar após o sucesso de Pantanal (2022). Ou seja, o público arrebatado pelo remake de Benedito Ruy Barbosa, conquistando a duras penas após o fiasco de Um Lugar ao Sol, foi novamente perdido. Com isso, Walcyr Carrasco (foto acima) terá mais trabalho para levantar o horário.

Sem chance

Travessia - Lucy Alves e Romulo Estrela
Reprodução / Globo

A verdade é que não há qualquer chance de Travessia reagir. A novela já foi rejeitada pelo público, as tentativas de mudança na narrativa feitas por Gloria Perez não deram em nada e o folhetim, atualmente, parece uma nau sem rumo.

Por essas e outras, não faz muito sentido manter essa trama sem pé nem cabeça até maio. Quanto mais o tempo passa, maiores são os prejuízos causados pela novela. A Globo faz bem em admitir que errou e partir logo para a próxima.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor