André Santana

Entre os tantos problemas enfrentados por Travessia, a escalação de Jade Picon para viver Chiara é um deles. A ex-BBB claramente não tem preparo para uma personagem deste tamanho e já está sendo comparada ao Cigano Igor, personagem de Ricardo Macchi em Explode Coração.

Chiara é antagonista da novela de Gloria Perez, está na trama central e merecia uma intérprete com maior estofo e experiência. E ela não tem culpa: a emissora está exigindo muito mais do que a jovem atriz pode entregar.

Uma maneira de driblar este empecilho seria modificar as peças centrais de Travessia. Chiara poderia ser transferida para outro núcleo, onde seria menos exigida, e uma nova antagonista poderia surgir para rivalizar com Brisa (Lucy Alves).

Não são poucos os casos em que esse grave erro aconteceu – e, pelo visto, a Globo não aprendeu a lição. Há inúmeros casos de novelas em que o autor e diretor constatam que o ator escalado não está correspondendo e tratam de remanejar as peças, na tentativa de salvar a obra.

Caso histórico

Um dos primeiros casos em que isso aconteceu foi em A Gata, novela escrita por Ivani Ribeiro para a TV Tupi em 1964. Baseada na obra de Manuel Muñoz, mesmo autor de O Direito de Nascer, a novela contava a história de Adriana, mulher má que desperta a paixão de um homem escravizado e se entrega a um amor impossível.

Na ocasião, a direção da novela tratou de escalar a famosa modelo Marisa Woodward, que tinha uma longa e vitoriosa carreira no mundo da moda, para viver a protagonista. Porém, sem experiência, a modelo não deu conta do recado e teve sua participação diminuída na novela.

A autora, então, “promoveu” a antagonista Mercedes (Rita Cléos), irmã de Adriana, como a nova protagonista da história, e resolveu o problema da novela.

Sai Gisele, entra Carolina

Algo parecido aconteceu com Começar de Novo (2004), novela das sete da Globo escrita por Antonio Calmon e Elizabeth Jhin. A atriz Gisele Itié, que já havia passado por Os Maias (2001) e Esperança (2002), foi escalada para dar vida a Júlia Magnani, uma das protagonistas. A jovem formava um triângulo amoroso envolvendo Miguel Arcanjo (Marcos Paulo) e Letícia (Natália do Vale), os protagonistas.

No entanto, Gisele foi considerada muito verde para um papel tão grande e acabou apontada como um dos motivos para a novela não ter emplacado. Com isso, o autor transferiu Júlia para um núcleo menor e criou uma nova personagem para formar o triângulo amoroso central: Gigi (Carolina Ferraz).

Outros casos

Malhação foi outro caso envolvendo troca de protagonista. Em 2015, o mocinho Dinho (Guilherme Prates) não funcionou e acabou limado da novela. Vítor (Guilherme Leicam) entrou na história para formar par romântico com Lia (Alice Wegmann).

Já em Eta Mundo Bom! (2016), a mocinha Filó (Débora Nascimento) também não caiu nas graças do público e sua história foi jogada para escanteio ao longo da novela de Walcyr Carrasco. Com isso, a coadjuvante Maria (Bianca Bin) tomou o espaço e assumiu o protagonismo do enredo.

Outro caso emblemático é Caminho das Índias (2009), atualmente em reexibição no Viva. Bahuan (Marcio Garcia) era o mocinho principal, que vivia um amor impossível com Maya (Juliana Paes). No entanto, a química da mocinha com Raj (Rodrigo Lombardi) foi muito maior, e Bahuan teve sua presença na trama diminuída.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor