Em Renascer, Bruno Luperi segue praticamente à risca a trama criada por seu avô Benedito Ruy Barbosa em 1993. Com isso, o autor do remake da Globo acaba perdendo várias oportunidades de fazer a novela decolar.

Theresa Fonseca em Renascer
Theresa Fonseca em Renascer

Mesmo com a faca e o queijo na mão para fazer a novela surpreender, Luperi prefere não trair a ideia original do avô. Com isso, Renascer segue num grande marasmo e não encanta o público como Pantanal (2022).

Personagens como Mariana (Theresa Fonseca), Eliana (Sophie Charlotte) e até Dona Patroa (Camila Morgado) poderiam chacoalhar a trama do horário nobre da Globo. Mas o autor simplesmente prefere deixar passar a oportunidade.

Mariana aprovada, mas pouco aproveitada

Um dos receios da direção da Globo quanto à nova versão de Renascer era a aceitação de Mariana. Em 1993, a personagem foi rejeitada pelo público, o que respingou na carreira de Adriana Esteves, que encarou uma depressão e passou alguns anos longe das novelas.

Mas, desta vez, Mariana foi aceita pelo público. A personagem passou por mudanças para corrigir o erro da versão original, como agora ela se comportar como uma mulher – na primeira versão, Mariana era infantilizada, o que tornava sua relação com José Inocêncio (então Antonio Fagundes) um tanto perturbadora.

Além disso, Theresa Fonseca demonstrou uma maturidade cênica que consegue convencer o público da dubiedade da personagem. Isso fez com que a audiência aprovasse a personagem. De acordo com o grupo de discussão da novela, Mariana foi bem avaliada e o público deixou claro que gosta dos embates da personagem.

Porém, curiosamente, Bruno Luperi não se aproveita disso para fazer a novela deslanchar. Nos mais recentes capítulos, Mariana só aparece resmungando pelos cantos, sem uma trama consistente e sem nenhum embate que o público já avisou que gosta.

Ascensão e queda de Eliana

Sophie Charlotte em Renascer
Sophie Charlotte em Renascer

Outra personagem que vinha dando o que falar era Eliana. Ao chegar à Ilhéus, a dondoca demonstrou que tinha força de um verdadeiro furacão, movimentando toda a história. Porém, o chacoalhão se revelou voo de galinha.

Após ser expulsa da casa de José Inocêncio (Marcos Palmeira) por duas vezes, Eliana foi parar na casa de Jacutinga (Juliana Paes) e estacionou. Atualmente, a personagem se resume às conversas com Sandra (Giullia Buscacio) e aos encontros com Damião (Xamã).

Sabe-se que ela ainda deve se casar com Egídio (Vladimir Brichta) e passar por novas reviravoltas. Porém, por enquanto, a trajetória de Eliana na fazenda só fez frustrar o público. O autor perdeu a chance de transformá-la na grande personagem feminina da história.

Virada de Dona Patroa

Quem agora demonstra potencial para crescer é Dona Patroa. A personagem de Camila Morgado abandonou Egídio e foi viver com Sandra, onde pedirá para ser chamada de Iolanda. Ou seja, ela finalmente recupera sua identidade, que lhe foi tirada pelo marido abusador.

A trajetória, por si só, já tem sua força. Que pode ficar ainda maior, já que Iolanda ameaçou entregar os crimes de Egídio. Seria a deixa para uma virada muito mais intensa que na versão original, pois finalmente o assassinato de José Venâncio (Rodrigo Simas) seria investigado – o que não aconteceu até agora…

Porém, como Luperi vem desperdiçando qualquer chance de fazer diferente e chacoalhar Renascer, é pouco provável que tal oportunidade ganhe uma possibilidade real de acontecer. E assim, o autor vai desperdiçando tramas e a novela segue num marasmo sem fim.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor