No próximo dia 8 de abril, a Globo traz de volta uma novela produzida há 50 anos. O Espigão, clássico de Dias Gomes produzido em 1974, é uma das atrações do Projeto Resgate, que traz de volta uma novela dos arquivos da Globo na íntegra no Globoplay.
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Na época de sua exibição, a novela causou polêmica ao levantar o debate sobre a especulação imobiliária. Quase 10 anos depois, a Globo programou uma reprise da trama, mas o repeteco acabou sendo proibido de ir ao ar.
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Novela polêmica
O Espigão girava em torno do empresário Lauro Fontana (Milton Moraes), que tem o plano de construir o maior hotel do Brasil no Rio de Janeiro. Seu projeto é construir um prédio de 50 andares – um “espigão”, conforme gíria da época.
Para realizar seu empreendimento, o ricaço precisa comprar uma mansão localizada no bairro de Botafogo. Porém, o imóvel pertence aos quatro irmãos Camará. No entanto, Urânia (Vanda Lacerda), Baltazar (Ary Fontoura) e Tina (Susana Vieira) não querem vendê-lo, ao contrário do playboy Marcito (Carlos Eduardo Dolabella).
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Na época, a novela foi considerada ousada, já que tocava em temas delicados, como a especulação imobiliária e questões ambientais. Além disso, O Espigão deu certa dor de cabeça a Roberto Marinho, já que Sérgio Dourado – construtor responsável por vários prédios no Rio de Janeiro e amigo de Marinho – acreditava que o protagonista era inspirado nele.
Por conta do desconforto, a novela quase foi cancelada. Mas Boni conseguiu salvar a trama ao se reunir com Dias Gomes e solicitar uma mudança na trama, alterando o empreendimento de Lauro Fontana. Inicialmente, ele construiria um prédio de apartamentos, mas o autor mudou para um hotel.
Reprise proibida
O Espigão foi ao ar entre 1º de abril a 1º de novembro de 1974, com 150 capítulos, na faixa das 22 horas da Globo. Oito anos depois, a emissora planejou exibir uma reprise compacta da obra, como um “tapa-buracos”.
Isso porque o canal se preparava para a estreia da minissérie Bandidos da Falange (1983). Escrita por Aguinaldo Silva, com a colaboração de Doc Comparato, a trama retratava a violência do cotidiano do Rio de Janeiro. Inicialmente, a produção estava planejada para ir ao ar em 9 de agosto de 1982.
Porém, a Ditadura Militar dava seus últimos suspiros no Brasil e a Censura impediu a exibição da minissérie. O chefe da Censura considerou que a produção contava com cenas violentas demais e vetou sua estreia.
Com isso, a Globo anunciou um compacto de O Espigão para o horário. O canal, inclusive, produziu uma nova abertura para a reprise da novela. No entanto, no dia da estreia, o público foi surpreendido com a exibição de um especial sobre o pastor suicida Jim Jones (1931-1978). A emissora colocou a culpa na Censura pela suspensão da reprise.
Pressão
No entanto, não foi apenas a Censura que impediu a reprise de O Espigão. A emissora também teria sofrido pressão de empresas incomodadas com a temática da novela.
No Jornal do Brasil de 15 de agosto de 1982, a jornalista e apresentadora de TV Cidinha Campos, que estava ingressando na política, abordou o assunto.
“Toda essa mudança que, a princípio, pode parecer estratégia de programação, tem outros envolvimentos. A Censura [Federal] resolveu que a Globo também precisa seguir as regras do jogo e, por outro lado, os empresários não permitiram a volta de uma novela que denuncia a ação ilegal das construtoras e imobiliárias. Se na sua estreia, há algum tempo atrás, já houve problemas, por que trazê-los à tona mais uma vez?”, questionou a jornalista.
“Sabendo da influência da Rede Globo, os empresários pressionaram para a novela não entrar no ar. E isso foi feito de uma maneira terrivelmente convincente: se a novela fosse reprisada, as construtoras e imobiliárias não colocariam mais anúncios nos classificados de O Globo”, revelou.
“Por livre e espontânea pressão, a emissora optou pelo Pastor do Diabo, jogando a culpa na Censura por mais esta reapresentação. E, depois, mais valem dois anúncios de espigões em O Globo do que qualquer movimento reivindicatório na televisão”, finalizou a jornalista.
A Globo nunca trouxe o assunto à tona e não menciona a reprise cancelada nos materiais sobre O Espigão, como o livro Dicionário da TV Globo (Jorge Zahar Editor) e o site do projeto Memória Globo. Já Bandidos da Falange, após várias negociações e cortes, foi liberada para ir ao ar em 10 de janeiro de 1983.