André Santana

A direção da Globo considerou Um Lugar ao Sol (2021) um fato isolado. O fiasco da trama de Lícia Manzo foi compreendido como uma consequência das circunstâncias, como a limitação imposta pela pandemia. O sucesso de sua sucessora, Pantanal (2022), indicava que o fracasso tinha ficado para trás.

Roque Santeiro

Seria este um indicativo de que o público de novela das nove prefere tramas já conhecidas? Um novo remake poderia ser a solução para que o espectador recupere a paixão pela novela?

Opções para o horário nobre da Globo não faltam. No auge de Pantanal, surgiram boatos de que Renascer (1993) e até A Viagem (1994) poderiam ganhar remakes. Houve até quem torceu por uma nova versão de Roque Santeiro (1985) e Vale Tudo (1989).

Dramaturgia em xeque

Travessia

Mas aí veio Travessia mostrando que a queda de audiência é uma tendência. A novela de Gloria Perez apresenta resultados parecidos com os de Um Lugar ao Sol, mesmo a nova novela tendo tudo ao seu favor. O atual contexto é muito mais favorável à trama.

Se considerarmos que o horário nobre da Globo vem perdendo fôlego desde as reprises de A Força do Querer (2017) e Império (2014), concluímos que Pantanal foi mesmo um oásis em meio aos fracassos. Isso coloca a dramaturgia da Globo em xeque.

A direção da Globo estava ciente deste cenário quando escalou Pantanal para substituir Um Lugar ao Sol. O canal sabia que precisava de uma novela a prova de erros para estancar a sangria do horário nobre. Por isso, transformou o remake da novela de Benedito Ruy Barbosa, que estava prevista para o Globoplay, numa trama das nove.

Remake é a solução?

A “promoção” de Pantanal culminou com o adiamento das novelas que estavam planejadas para o horário, Todas as Flores e Travessia. E a aposta se revelou certeira: Pantanal elevou os índices de audiência, alcançou ótima repercussão e reverteu a crise do horário nobre da Globo. Mas a maré boa se foi com o fim da trama.

No entanto, a Globo não pode cair na armadilha de acreditar que remake é a solução para tudo. O sucesso de Pantanal mostrou que o público aprova uma regravação, mas não só isso: também mostrou que a plateia gosta de uma trama “à moda antiga”.

Ou seja, mais que remakes, o que o público quer mesmo é uma novela com a mesma capacidade de despertar a emoção como as tramas do passado. É essa a grande lição.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor