Zamenza

A criatividade do brasileiro não tem limites, mesmo nos momentos mais complicados. Nos últimos dias, circulou um meme a respeito de uma suposta “maldição” envolvendo a novela O Clone.

De acordo com o texto, em 2001, quando houve a exibição original, aconteceu o atentado de 11 de setembro; em 2011, na primeira reprise na Globo, houve um tsunami no Japão; em 2020, quando a novela passava no Viva, começou a pandemia de Covid-19; agora, no ar novamente pela Globo, estourou a guerra entre Rússia e Ucrânia.

O Clone

Apesar disso, a escolha da emissora para o Vale a Pena Ver de Novo não poderia ter sido melhor. A novela de Glória Perez foi um de seus melhores trabalhos da carreira e a autora foi muito feliz na construção desta história tão rica e repleta de personagens atraentes.

Protagonizada por Giovanna Antonelli e Murilo Benício, o folhetim estreou pouco depois do atentado de 2001, tragédia que abalou os Estados Unidos e chocou o mundo. Houve até um certo desconforto inicial, uma vez que parte da trama era ambientada em Marrocos, na cidade de Fez, onde viviam vários muçulmanos.

Stenio Garcia

Mas a polêmica não durou muito tempo e os costumes daquele povo caíram no gosto popular, comprovando que o núcleo foi um dos muitos acertos da produção.

Porém, as reprises do canal Viva e a atual da Globo serviram para observar melhor algumas falhas que não são muito faladas pelos saudosistas.

Barriga

O Clone

O núcleo de Dona Jura é bem deslocado dos demais enredos e tem como única função preencher o tempo dos capítulos com convidados especiais que visitavam o bar da popular personagem. Era o elemento utilizado pela autora para enrolar o telespectador. Há uma barriga bem clara na história, algo bem comum na época, importante ressaltar.

O estabelecimento recebeu mais de 50 convidados especiais ao longo da trama, servindo para falar de futebol, fazer campanha contra hanseníase, destacar o trabalho de músicos, como pagodeiros e sambistas, entre outras ações. Participaram nomes ecléticos, como Pelé, Alcione, Dunga, Martinho da Vila, Ney Matogrosso, Narcisa Tamborindeguy e Zeca Pagodinho, e alguns bem aleatórios.

Solange Couto

A primeira fase, principalmente, cansa pelo ritmo arrastado e os conflitos também se desgastam perto do meio da produção. Até as idas e vindas de Jade e Lucas se esgotam.

A burrice dos protagonistas é outro problema evidente. A sorte foi mesmo a química dos intérpretes. Mas os meses finais reaquecem os dramas e a novela volta a prender.

Trama esquenta na segunda fase

Debora Falabella

A segunda fase é iniciada em 2001, prosseguindo com todos os dramas apresentados na primeira e ainda acrescentando novos núcleos que deixaram a novela ainda mais interessante. O mais dramático foi o protagonizado por Débora Falabella, que impressionou com sua atuação na pele da rebelde Mel, uma viciada em drogas, filha de Lucas com Maysa (Daniela Escobar).

[anuncio_5]

As cenas mais fortes da novela foram vividas por ela e algumas entraram para a história da teledramaturgia pela entrega da atriz. O alerta sobre o consumo de substâncias ilícitas mesclou entretenimento e utilidade pública.

Já a parte cômica da história ficou por conta de duas personagens, cujos bordões ainda são lembrados pelo telespectador: Dona Jura (ótima Solange Couto) e Odete (maravilhosa Mara Manzan). Jura tinha um bar e vendia pastéis que faziam um baita sucesso.

O Clone

O bordão Né brinquedo, não virou febre, assim como o Cada mergulho é um flash, proferido por Odete, personagem hilária interpretada pela saudosa Mara, que amava frequentar o Piscinão de Ramos e incentivava sua filha Karla (Juliana Paes) a dar o golpe da barriga – essa trama, hoje em dia, seria bem criticada até pelas resoluções absurdas da autora.

O núcleo de Marrocos também obteve êxito e as danças dos personagens faziam sucesso, assim como as expressões ditas por eles, como o inesquecível Ishalá, falado constantemente por Khadija (Carla Dias). A solteirona Nazira (Eliane Giardini) também foi outro destaque desta trama, assim como Zoraide (Jandira Martini), cúmplice e confidente de Jade.

E impossível não lembrar do rabugento Tio Abdul (saudoso Sebastião Vasconcellos), defensor da moral e dos bons costumes, que vivia mandando as pecadoras Arder no mármore do inferno.

[anuncio_6]

Acertos

Cristiana Oliveira

Um acerto da novela foi a questão do alcoolismo, abordada com competência através de Lobato, vivido magistralmente por Osmar Prado. Nesse mesmo núcleo, havia uma vilã que não media esforços para atingir seus objetivos, a Alicinha, muito bem interpretada por Cristiana Oliveira.

[anuncio_7]

Vale destacar também as brilhantes atuações de Cissa Guimarães (Clarisse) e Thiago Fragoso (Nando), que emocionaram várias vezes nas cenas onde a mãe se desesperava com o vício de drogas do filho, que era amigo das também viciadas Mel e Regininha (Viviane Victorette).

O Clone

Além dos ótimos profissionais já citados, a novela também contou com outros excelentes atores, como Nivea Maria, Adriana Lessa (perfeita na pele de Deusa, a mãe do clone), Ruth de Souza, Elizângela, Beth Goulart, Antônio Calloni, Letícia Sabatella, Françoise Fourton, Perry Salles, Totia Meirelles, Guilherme Karan, Léa Garcia, Stênio Garcia e Marcello Novaes. A trama ainda foi a última da carreira do mestre Mário Lago, que veio a falecer meses depois.

O Clone foi um marcante folhetim e Glória Perez viveu um grande momento. Com 221 capítulos, a produção está na lista dos mais elogiadas e lembradas novelas da Globo e fez por merecer o retorno na tela da emissora, apesar de ter algumas falhas.

Compartilhar.
Avatar photo

Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor