No ar em Vale a Pena Ver de Novo, Paraíso Tropical (2007) trouxe de volta à tela da Globo o autor Gilberto Braga (1945-2021), que assina o folhetim com Ricardo Linhares. Braga é considerado um dos principais novelistas da televisão brasileira e foi responsável por alguns dos maiores sucessos da emissora, como Dancin’ Days (1978) e Vale Tudo (1988).

Gilberto Braga e Dennis Carvalho
Gilberto Braga e Dennis Carvalho (Divulgação)

Mas, apesar do prestígio, o autor estava frustrado quando faleceu. Adoentado, Braga ainda tentou voltar ao trabalho, mas teve seu último pedido negado pela Globo e morreu sem realizar um sonho.

Em busca de um sucesso

Paraíso Tropical demorou a engrenar em 2007, mas acabou decolando e se tornou mais um destaque na galeria de obras marcantes de Gilberto Braga. No entanto, o autor não alcançou o mesmo êxito em Babilônia (2015), sua última novela. Escrita com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, a trama se tornou um dos maiores fracassos da faixa das nove da Globo de todos os tempos.

Depois disso, Gilberto Braga já estava bastante debilitado por conta das consequências de um acidente vascular cerebral (AVC). Ainda assim, ele almejava voltar ao trabalho e chegou a entregar três novos projetos para a Globo. No entanto, nenhum deles foi para a frente.

Giba escreveu uma minissérie sobre Elis Regina, mas o projeto não foi adiante porque o filme de Hugo Prata saiu na frente. Depois, o autor escreveu uma nova versão de Brilhante (1981) para a faixa das onze, intitulada Intolerância, mas a produção acabou engavetada. Por fim, Braga escreveu também Feira das Vaidades para a faixa das seis, mas o projeto foi cancelado por causa da pandemia da Covid-19.

Questão de honra para Gilberto Braga

Gilberto Braga e João Ximenes Braga
Gilberto Braga e João Ximenes Braga (Divulgação / Globo)

Em entrevista à jornalista Cristina Padiglione, o autor João Ximenes Braga, parceiro de Gilberto Braga em vários trabalhos, revelou que, para o falecido autor, era questão de honra emplacar um novo sucesso. O novelista não queria que seu último trabalho na TV fosse seu maior fracasso.

“Em 2015, quando voltei da viagem de férias após Babilônia, ele me convocou à casa dele. Fui recebido no quarto, numa cama reclinável, tipo de hospital. Ele não estava bem de saúde, mas lúcido e muito deprimido com o fracasso de Babilônia”, contou.

“Não ouso dizer que antecipasse sua morte, mas naquele dia me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. […] Mas superar esse fracasso era importante para ele”, explicou.

Memória celebrada

Na mesma entrevista, João Ximenes Braga fez um apelo para que a Globo disponibilizasse os últimos textos de Gilberto Braga, que seguem inéditos. A emissora ainda não atendeu ao pedido do dramaturgo, mas, por outro lado, vem celebrando a memória de Giba.

Em outubro de 2023, mês em que a morte de Gilberto Braga completou dois anos, o Globoplay disponibilizou dois clássicos do autor no Projeto Resgate. Pátria Minha (1994) e Escrava Isaura (1976) tiveram todos os seus capítulos lançados na plataforma.

Outra homenagem à memória de Braga foi a volta de Paraíso Tropical no Vale a Pena Ver de Novo. A trama, que traz Alessandra Negrini como as gêmeas Paula e Taís, e que consagrou o casal bandido Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura), já está no ar nas tardes da Globo.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor