André Santana

Após 18 anos longe das novelas, Regina Casé voltou aos folhetins vivendo a icônica dona Lurdes, protagonista de Amor de Mãe (2019). A personagem fez muito sucesso junto ao público, apresentou o lado atriz de Regina a uma nova geração e até virou fantasia de carnaval. Sua jornada em busca de Domênico (Chay Suede) emocionou o público da novela de Manuela Dias.

Dona Lurdes foi tão bem recebida pelos espectadores que Regina Casé nem esperou outros 18 anos para encarar um novo folhetim. A atriz foi escalada para Todas as Flores, recebendo um papel anteriormente pensado para Gloria Pires, e teve em mãos um grande desafio: fazer algo diferente de tudo o que já havia feito até então.

Regina já foi Tina Pepper em Cambalacho (1987), Rosalva em As Filhas da Mãe (2001) e Lurdes em Amor de Mãe, mas nunca foi uma mulher rica, má e sedutora. Esta é Zoé, uma das protagonistas da trama do Globoplay, que traz a veterana numa versão totalmente nova. Será?

Zoé x Lurdes

Todas as Flores - Regina Casé

Sim, Regina Casé nunca fez uma personagem rica e má em novelas, séries ou filmes. No entanto, apesar do abismo que separa Zoé e Lurdes, as duas têm muito mais em comum do que parece à primeira vista. Um olhar um pouco mais cuidadoso revela que ambas repetem um arquétipo folhetinesco básico, o da “grande mãe”.

Antes de ser uma vilã, Zoé é mãe. Que foi capaz de abandonar Maíra (Sophie Charlotte), sim, mas, por outro lado, cuidou até demais de Vanessa (Letícia Colin), sua outra filha. Aliás, Vanessa só é esta pessoa odiosa que se mostra na novela porque reproduz o comportamento da mãe, o que revela que Zoé criou esta filha com todo o cuidado (dentro de seus valores duvidosos, mas criou).

Semelhanças

Todas as Flores - Letícia Colin, Regina Casé e Sophie Charlotte

O reencontro com Maíra foi por interesse, já que Zoé desejava salvar a vida de Vanessa. Ou seja, mais uma vez, a vilã demonstra um grande amor pela filha que criou, a ponto de desenterrar um passado para que sua herdeira tivesse a chance de sobreviver a uma leucemia.

Por fim, convivendo com Maíra, Zoé parece bastante fascinada pela filha cega que um dia abandonou. Ela demonstra ter se arrependido do que fez e parece desenvolver um afeto pela jovem. Claro, isso ainda é uma impressão.

Ao que tudo indica, o autor João Emanuel Carneiro ainda guarda alguns trunfos quanto à sua protagonista. Mas, ainda assim, Zoé tem traços de uma mãe arquetípica.

Exatamente como dona Lurdes, de Amor de Mãe, que foi capaz de tudo para oferecer o melhor aos seus filhos. Mãe de cinco filhos, a doméstica batalhou para encaminhar todos eles, ao mesmo tempo em que nunca desistiu de encontrar seu filho perdido. Ao seu modo, Zoé é um pouco dona Lurdes.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor