André Santana

2022 foi um ano pavoroso para a Record. A emissora viu sua teledramaturgia encolher, com a morna Reis e o fiasco Todas as Garotas em Mim, e amargou baixos índices de audiência com seus reality shows Power Couple Brasil, Ilha Record e A Fazenda. Ainda assim, a ideia inicial do canal era manter tudo como está, o que minaria qualquer possibilidade de crescimento em 2023.

Power Couple Brasil - Adriane Galisteu
Reprodução / Record

Felizmente, alguém com juízo por lá acordou para a vida. A nova temporada de Todas as Garotas em Mim, que estava confirmada, foi acertadamente jogada no limbo. Agora, o canal anuncia a “pausa” do Power Couple Brasil, reality que já anda mal das pernas há algum tempo. Assim, só falta agora a emissora desistir de Ilha Record para que o próximo ano seja mais promissor.

Mudança de formato

Power Couple Brasil 2022 - Eliza Fagundes e Hadballa
Reprodução / Record

Power Couple Brasil nunca foi um campeão de audiência, mas contava com certo prestígio dentro da Record. Tanto que a emissora modificou bastante o formato que, inicialmente, era mais parecido com um game show. A direção da Record o reformulou, para que Power Couple ficasse parecido com A Fazenda.

A primeira temporada do reality show, lançada em 2016, era exibida semanalmente, às terças-feiras. Com isso, cada episódio trazia um “ciclo” completo, com as provas masculinas, femininas e eliminação. Não havia interação com o público e o confinamento dos participantes durava poucas semanas. As gravações eram bem adiantadas com relação ao que se via no ar.

No ano seguinte, a emissora ampliou um pouco mais o programa, então comandado por Roberto Justus, e passou a exibi-lo às terças e quintas-feiras. Apesar de ter ganhado mais um episódio por semana, Power Couple mantinha o mesmo formato da primeira temporada, focando mais nos games do que no confinamento.

Isso mudou em 2017, quando Gugu Liberato assumiu a atração. Power Couple Brasil ganhou episódios diários, com o confinamento sendo mostrado em “tempo real” (ou quase) e eliminação ao vivo com a participação do público. Ou seja, virou “filial” de A Fazenda.

Fracasso

Power Couple Brasil - Gugu Liberato
Divulgação / Record

Mesmo com as mudanças implementadas, Power Couple nunca se mostrou capaz de repetir o fenômeno de A Fazenda. Com isso, se tornou uma espécie de “patinho feio” dos realities do canal. A atração até tinha alguma repercussão nas redes, mas nada comparado ao reality rural.

Ainda assim, o programa se mantinha no ar, muito por conta da força comercial deste tipo de formato. A presença de Gugu garantia o prestígio do reality neste sentido. A aposta em Adriane Galisteu como sua sucessora, após o falecimento do animador, também foi nessa direção. Adriane sempre teve boa entrada junto ao mercado publicitário.

Mas a temporada de 2022 fez com que até mesmo a força comercial do programa arrefecesse. A baixaria e a violência que caracterizaram o Power Couple deste ano levaram muitas marcas a desistirem da atração. Tanto que a Record lançou o plano comercial para o ano que vem, mas desistiu ao constatar que não havia interesse de anunciantes no reality.

Oportunidade de mudança

Power Couple 2022 - Ivy Moraes
Reprodução / Record

Com isso, a Record finalmente terá uma oportunidade real de tirar sua programação do marasmo. Afinal, sem Power Couple, a emissora terá que se virar para ocupar seu espaço com uma atração que demonstre potencial de audiência e faturamento semelhantes.

Segundo Flavio Ricco, colunista do R7, a emissora já definiu o formato que substituirá Power Couple em 2023, revelado apenas em “momento oportuno”. Que assim seja. Mais do que nunca, a Record precisa deste chacoalhão.

A verdade é que o canal acabou ficando muito dependente de realities de confinamento. Algo estranho, se considerarmos que a Record, quando começou a apostar no segmento, trouxe formatos diferentes e que deram muito certo, como O Aprendiz (2005), Troca de Família (2006) e Simple Life (2007).

Além disso, o canal também produziu games muito bons, como Sem Saída (2004) e O Jogador (2007). Ou seja: é tempo de pensar fora da casinha.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor