Sucesso de audiência e repercussão que abalou a hegemonia da Globo, a versão original de Pantanal sofreu críticas por conta da “barriga” – período da novela em que nada acontece –, das situações repetitivas e do final cogitado para a mulher-onça Juma Marruá (Cristiana Oliveira). A atriz é vivida por Alanis Guillen na versão da Globo (foto abaixo).

Curiosamente, análises e comentários da época guardam semelhanças com o disse-me-disse sobre o remake. É que a adaptação de Bruno Luperi não destoa da obra concebida por Benedito Ruy Barbosa. O neto segue a cartilha do avô, mas o “enxugamento” do folhetim, com menos capítulos, amenizou as críticas.

Esticamento e “mais do mesmo”

Pantanal

A crítica Maria Helena Dutra, em sua coluna no jornal O Dia, de 9 de dezembro de 1990, expôs os problemas de Pantanal, atribuindo boa parte deles à Manchete, responsável pela primeira versão.

“Espero que desta vez a Manchete termine mesmo seu grande sucesso que quase jogou fora neste final arrastado e deprimente no qual foi rio abaixo a grande maioria das qualidades da novela. Um pecado exclusivo da emissora que tanto quis explorar o faturamento de seu título que o esgotou, levando junto, no afogamento, autor, diretores e elenco”, decretou.

O texto de Maria Helena lamentou a reprise quase integral do capítulo exibido no dia anterior e o excesso de merchandisings – o que, até o momento, não se viu na regravação da Globo. O enredo também foi alvo de comentários desabonadores:

“Sem mais qualquer inspiração, o ensandecido Benedito Ruy Barbosa acabou desconjuntando sua história antes tão bonita. Juma virou coadjuvante, Zé Lucas (Paulo Gorgulho) não disse ao que veio, e as vítimas de sucuris, zagaias e espingardas sumiam sem ser afetadas pela burocracia da morte. A chalana não levou um simples guarda para averiguar o desaparecimento de tanta gente naquelas paragens”.

Prestígio no último capítulo

Claudio Marzo

Apesar da enrolação, relacionada também à complicada produção da substituta A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990), Pantanal chegou ao fim com impressionantes 41 pontos de audiência contra apenas 21 da Globo.

O desfecho do folhetim suscitou a curiosidade do público, que acompanhou casamentos, batizados e um funeral. Para felicidade geral, este último não foi o de Juma, como ventilado por jornais e revistas.

Revolta com disparo de caçador

Pantanal

A morte de Juma através do disparo da arma de um caçador ganhou as capas das principais publicações do gênero. Benedito Ruy Barbosa não ficou nada satisfeito com a boataria, usando da edição de 7 de outubro de 1990 do jornal O Dia para afirmar que o trágico fim da mulher-onça nunca passou pela cabeça dele.

“Alguns jornais e revistas estão chutando demais. Não teria sentido matar a Juma, que simboliza a mulher pantaneira e o próprio Pantanal. Separá-la de Jove (Marcos Winter) também seria um erro”, contou Benedito, salientando que recebeu inúmeras cartas, com direito a abaixo-assinados, para que o casal não se divorciasse.

Um dos protestos encaminhados a Ruy Barbosa partiu de um grupo de 30 moradores do bairro do Irajá, no Rio de Janeiro. A líder do movimento, Maria Helena Porto, relatou perplexidade com a possível morte de Juma.

“Liguei para a Manchete e a produção me confirmou que a Juma vai virar onça e morrer. Não nos conformamos com isto. Todos que acompanharam a novela até agora estão torcendo para que os dois sejam felizes. Se a novela terminar de outra forma será uma decepção”, disparou.

A matéria em questão também consultou Marcos Palmeira. O intérprete de José Leôncio no remake da Globo respondeu por Tadeu na primeira versão; José Loreto é quem encarna o peão atualmente.

“Não acho que a Juma deva morrer, mas seria ótimo se a novela assumisse a fantasia e ela virasse onça para sumir na mata, junto com o Velho do Rio, que também se tornaria sucuri de vez. Acho que o Jove compreenderia”, sugeriu o ato, apelando para a magia do personagem de Cláudio Marzo.

No fim das contas, Juma terminou vivinha da silva. O tal disparo fatal não passou de fake news ou mesmo boato plantado pela própria Manchete para garantir a alta audiência do último capítulo de Pantanal.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor