No dia 5 de fevereiro de 1977, a TV Globo exibia às 18 horas o último capítulo de Escrava Isaura. A trama, escrita por Gilberto Braga (1945-2021), era baseada no romance homônimo de Bernardo Guimarães e tinha como trama central a paixão doentia de Leôncio (Rubens de Falco) que após a morte de sua mãe Ester (Beatriz Lyra) se torna o administrador dos bens de sua família, inclusive de Isaura, de quem ela era senhora e protetora e educou como moça da corte.

Lucelia Santos

Apaixonado por Isaura e furioso por não ser correspondido, ele se apodera de sua carta de alforria, deixada por sua mãe, e aplica castigos cruéis a ela.

No decorrer da história, Isaura conhece seu pai, Miguel (Átila Iório), que decide comprá-la, mas Leôncio não aceita vendê-la. Assim, Isaura foge com o pai assumindo a identidade de Elvira e acaba por conhecer o jovem abolicionista Álvaro (Edwin Luisi), que no fim da trama arrenda todos os bens de Leôncio, que acaba se suicidando.

Ideia

Gilberto Braga

O autor Gilberto Braga comentou em entrevistas que a sugestão de adaptar o romance de Bernardo Guimarães partiu de sua professora de português do Colégio Pedro II, dos tempos do ginásio.

“De modo geral, eu li pouca literatura brasileira. Do gênero de Escrava Isaura, então, não li quase nada, porque não gosto do romantismo brasileiro. Então, eu ficava atrás das professoras de português. Quem me recomendou Escrava Isaura foi Eneida do Rego Bomfim, minha professora durante muitos anos”, declarou o autor em trecho de entrevista divulgada no livro Autores – Histórias da Teledramaturgia, do projeto Memória Globo

“’Gilberto, para televisão é Escrava Isaura’. Fui correndo comprar o livrinho de bolso. Li dez páginas, liguei pro Herval Rossano e falei: vai correndo comprar Escrava Isaura, não tem erro”, completou.

A sugestão de sua professora deu certo e a trama da jovem escrava branca que sofre nas mãos do seu senhor foi um enorme sucesso.

Escolha

Escrava Isaura

Além disso, a obra marcou a estreia da atriz Lucélia Santos como protagonista de uma novela da Globo. O convite para interpretar o papel-título partiu do diretor Herval Rossano, após assistir ao desempenho da atriz ao lado de Milton Moraes na peça Transe no 18.

“É impressionante, a novela estourou na chamada. Eu era desconhecida, meu rosto nunca tinha aparecido no ar. Era uma personagem que estava sempre com a sensibilidade à flor da pele, literalmente. Era aquela heroína, a heroína romântica, que sofria rejeição, abandono, dor, mágoa. Eu via por trás das paredes bilhetes do Gilberto Braga escrito: Desculpe, Lucélia heroína tem que ser assim”, disse Lucélia Santos ao Memória Globo.

Mas, se dependesse do próprio Gilberto Braga, a Isaura do título deveria ser vivida por uma outra atriz.

“Apesar de todo o sucesso da novela, acho estranha a escalação da Lucélia Santos para viver a Isaura, porque ela é muito branca. Precisava ser, no mínimo, morena. Falei isso pro Herval na época: tínhamos que encontrar uma Yoná Magalhães mais jovem. Eu achava que a Lucélia não tinha o tipo, e continuo achando. A maioria do elenco era de atores muito impostados – a Lucélia, não, já era uma atriz moderna” , relatou em outro trecho de entrevista divulgada no livro Autores – Histórias da Teledramaturgia.

Outra atriz

Antes de Lucélia, Débora Duarte também foi sondada, mas estava grávida. Por sorte, a vontade de Herval Rossano prevaleceu e a estrela de Lucélia Santos brilhou. A trama fez bastante sucesso no exterior em países como Cuba, Rússia, França, Suíça, Congo, Gabão, Gana.

Na China, a protagonista ganhou o prêmio Águia de Ouro, com os votos de 300 milhões de pessoas, sendo a primeira vez que uma atriz estrangeira recebeu um prêmio no país, e na Venezuela o Latino de Ouro, prêmio concedido pela Emissora Caracas de Rádio e Televisão.

Até janeiro de 2016, dados consolidados da Diretoria de Negócios da Globo mostram que Escrava Isaura é a quinta novela no ranking de programas mais vendidos ao exterior pela Globo, totalizando 104 países com licença para sua exibição.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor