André Santana

A Globo nunca foi de tolerar fiascos. Qualquer novela fora dos trilhos já era alvo de intervenção da cúpula da emissora. O canal mudava o que fosse preciso para conquistar a atenção do público.

Marcos Palmeira como José Inocêncio em Renascer
Marcos Palmeira como José Inocêncio em Renascer

E, caso as mudanças não surtissem efeito, a emissora não pensava duas vezes: passava o facão, encurtava a novela e apostava suas fichas na trama seguinte. Babilônia (2015), por exemplo, foi um fiasco histórico que passou por tudo isso.

Mas esses tempos ficaram para trás. Tanto que Renascer vem perdendo fôlego a cada dia e, mesmo assim, o canal não toma qualquer providência. A novela irá até setembro, como sempre foi planejado.

Fiasco

No último sábado (06), Renascer anotou uma audiência vexatória para os padrões da Globo. A versão de Bruno Luperi do clássico de Benedito Ruy Barbosa atingiu parcos 22 pontos, marca que, num passado recente, não era aceita nem na faixa das seis.

O resultado, por si só, não é tão espantoso, já que é sabido que a audiência das novelas caem aos sábados. No entanto, durante a semana, o resultado não é muito melhor que isso. Renascer oscilou entre 24 e 26 pontos nos mais recentes capítulos. A média da 24ª semana foi de 25 pontos.

Não é um bom resultado, considerando suas antecessoras. Considerada um fiasco, Travessia (2022) anotou 25,8 no mesmo período. Já Terra e Paixão (2023) foi um pouco melhor, com 25,9. Pantanal (2022) foi melhor ainda, com 29,3.

Inércia

Theresa Fonseca e Juan Paiva em Renascer
Theresa Fonseca e Juan Paiva em Renascer

Curiosamente, a Globo não se mexeu para tentar reverter a má fase. Justiça seja feita, o canal tentou salvar Renascer, ao reeditar capítulos e antecipar acontecimentos para imprimir mais ritmo à trama.

Porém, os resultados não vieram e a emissora simplesmente jogou a toalha. E sequer cogitou encurtar Renascer e antecipar a estreia de Mania de Você, como costumava fazer no passado.

Ou seja, o canal apenas espera Renascer acabar. Mesmo estando longe do sucesso esperado, a novela manterá seu planejamento intacto e sairá de cena em 6 de setembro, com 197 capítulos.

Globo não é mais a mesma

No passado, a Globo era menos tolerante com fracassos. Babilônia, por exemplo, foi encurtada para dar espaço a A Regra do Jogo (2015), que também não emplacou. Em Família (2014) foi outro fracasso que saiu do ar antes do planejado.

Muitas vezes, a emissora tomava atitudes drásticas. As Filhas da Mãe (2001), por exemplo, derrubou tanto o horário das sete que saiu do ar mais de dois meses antes do previsto. A Globo lançou a sucessora Desejos de Mulher (2002) a toque de caixa.

Porém, vale lembrar que a Globo era mais robusta financeiramente. Ou seja, o canal tinha gordura para queimar e, por isso, se dava ao luxo de promover mudanças radicais quando fosse preciso. Afinal, encurtar uma novela e adiantar outra demanda dinheiro. Porém, essa não é mais a realidade da emissora.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor