A relação do brasileiro com televisão é visceral em muitos casos. Gosto de uma definição que ouvi, se bem me lembro, do diretor de programação do SBT, Murilo Fraga: somos 200 milhões de programadores de TV.

E isto, de fato, não é nenhuma mentira. Televisão é tão importante na vida do brasileiro quanto discussões de futebol e política. Mas quem gosta – ou não -, tem sempre alguns vícios. Preconceitos mesmo.

Não adianta tal programa ou apresentador mudar seu perfil, ter as melhores atrações ou as piadas mais legais. Se ele teve um passado mais nebuloso, tosco, errôneo, não tem o direito de mudar.

Hoje, temos dois exemplos claros disso na televisão. O primeiro é o Programa do Ratinho, do SBT. Neste caso, vou ser mais superficial, mas, hoje, Ratinho tem um conteúdo bem mais familiar e divertido, longe do clima anárquico, maluco e bizarro que tinha nos anos 1990 e início dos anos 2000. Ele mudou, em vários casos para melhor, e muita gente ainda tem a visão de “rei da baixaria” dele, o que é injusto e preconceituoso.

Mas não é nele que quero focar. O exemplo mais claro deste preconceito é o Zorra, humorístico da Globo que voltou em sua temporada 2017 no último dia 15. É o terceiro ano seguido que ele está em novo formato, mais ágil e mais próximo do humor atual.

Na estreia, piadas ótimas. Zoeiras com o noticiário político, que ultimamente está mais criativo que qualquer humorista do Brasil, com fatos do cotidiano, como a invisibilidade humana, e até mesmo religião foram motivos de risos.

Em 2016, vários vídeos do Zorra viralizaram. Dentre eles, destaco dois aqui sobre temas espinhosos. Um foi sobre vários religiosos usarem a bíblia e o nome de Jesus para dizer que os homossexuais são abominação.

O outro tema foi sobre a polícia e as invasões em favelas. No esquete, o Zorra cutucava a truculência policial em alguns casos e a corrupção dentro da corporação.

Não digo se o programa tem lado ou não, se está certo ou errado nas críticas, este não é o objetivo aqui. O que quero dizer é que o Zorra mudou. Hoje, não tem medo de rir de tudo e de todos. Algumas piadas são boas, outras não. É o natural de um programa de humor ter ótimas e péssimas sacadas.

Mas o Zorra em nada lembra o antigo Zorra Total. O antigo Zorra era um programa sem graça, sem criatividade, datado e com um roteiro que beirava o ridículo de tão ruim. Era assustador ainda estar no ar.

Este novo Zorra tem boa direção, um ótimo e inspirado elenco, um roteiro afiado e ideias frescas. Mas o que mais ouço em relação ao programa é aquele velho chavão de “como ele é sem graça”.

Pode até ser em alguns momentos, mas não dar uma chance para ele é, no mínimo, injusto. Hoje, o Zorra é a melhor opção das noites de sábado, com certa facilidade. Para quem fica em casa, ele cumpre e com louvor sua missão, ainda mais dentro de uma concorrência fraca, repetitiva e sem ideias.

Vida longa ao novo Zorra!


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