A atual novela das sete da Globo tem claros problemas de desenvolvimento e a ausência de maiores conflitos sempre foi o principal ponto negativo da trama de Daniel Adjafre, dirigida por Fabrício Mamberti. Porém, é uma injustiça classificá-la como uma novela ruim. Não é. Sempre teve potencial para deslanchar e prender o telespectador com bons desdobramentos. Infelizmente, demorou bastante para apresentar uma boa virada, mas ela veio na última semana, rendendo ótimas cenas e despertando curiosidade em torno dos próximos acontecimentos.

A escolha do centésimo capítulo para apresentar a maior reviravolta do roteiro até agora foi apropriada, iniciando a retomada de poder de Afonso (Rômulo Estrela), após um longo (e arrastado) período vivendo como um plebeu ao lado de Amália (Marina Ruy Barbosa). O mocinho, na verdade, é o grande culpado por toda a desgraça que Montemor tem vivido por ter abdicado do trono pela mocinha, que também tem sua parcela de culpa, uma vez que não aguentou nem 24 horas dentro do castelo, preferindo voltar para sua vida de pobre. Esse mote, inclusive, foi um dos graves equívocos do roteiro, transformando os mocinhos em dois egoístas. Entretanto, a retirada do incompetente Rodolfo (Johnny Massaro) do poder era a única saída para consertar a bobagem feita pelo protagonista.

Afonso tentou retirar o irmão do trono antes, mas o plano não funcionou, resultando em sua prisão em uma pedreira distante. Enquanto isso, Amália e Levi (Thobias Carrieres) eram feitos de refém por Virgílio (Ricardo Pereira), que também tentava “protegê-la” da ira de Catarina (Bruna Marquezine), cujo objetivo sempre foi matá-la para ficar com Afonso assim que ele destituísse seu atual marido. Todos esses novelos finalmente começaram a ser desmembrados, tirando o enredo do marasmo que se encontrava.
Toda a sequência da fuga do mocinho merece elogios, não apenas pelo trabalho da equipe de efeitos, como também pela entrega dos atores, que se destacaram, especialmente Rômulo Estrela e Caio Blat. Pena que Cássio tenha morrido, marcando a despedida de Caio da novela – menos um veterano em um elenco que já conta com bem poucos

A briga entre Amália e Virgílio foi outro momento que prendeu a atenção, valorizando o desempenho de Ricardo Pereira, Marina Ruy Barbosa e Thobias Carrieres (grata revelação de Justiça – 2016) durante uma luta corporal da mocinha e seu enteado com o vilão. O instante em que a esposa de Afonso bateu com a cabeça na quina da mesa, aliás, impressionou pelo realismo. Todas essas cenas foram exibidas em sequência, tirando o fôlego de quem assistia e honrando essa aguardada virada no roteiro.

Já a cena em que Catarina conseguiu a carta que Virgílio usava para chantageá-la – e logo depois mandou seus guardas incendiarem a casa em que ele estava escondido com Amália – rendeu o melhor momento de Bruna Marquezine na trama. O visível descontrole da rainha má foi bem mostrado pela atriz, que se destacou especialmente quando a esposa de Rodolfo debochou da mocinha, desmaiada, pouco antes de queimar todo o local. A chegada de Afonso, salvando o amor de sua vida e Levi, representou o clássico conto de fadas, fechando essa primeira parte do plano do mocinho com louvor. Vale destacar ainda a ótima cena em que Selena (Marina Moschen) e Ulisses (Giovanni De Lorenzi) enfrentaram Romero (Marcelo Airoldi), sendo presos por traição ao rei.

A segunda parte do plano de Afonso foi realizada com louvor no capítulo desta terça-feira (08/05), sendo concluída nesta quarta. Mais uma sequência grandiosa foi ao ar, valorizando o talento dos atores. A chegada do protagonista a Montemor, ovacionado pelo povo, arrepiou e fez jus ao esperado momento. Rodolfo e seu irmão tiveram um último embate, diante dos guardas e de toda a população, destacando Johnny Massaro e Rômulo Estrela. É preciso também citar Marcelo Airoldi, preciso na composição do sério Romero, não necessitando de palavras para demonstrar sua admiração pelo novo rei: a imagem do pai de Ulisses se ajoelhando diante de Afonso, sendo seguido pelos demais soldados, impactou.

Deus Salve o Rei é uma novela irregular, mas tem qualidades e essa virada deu fôlego à história, renovando as esperanças para que a partir de agora o enredo de Daniel Adjafre se desenvolva a contento, aproveitando mais todas as possibilidades de conflitos que a premissa criada pelo autor ainda tem.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor