Viva a Diferença impressiona pelo realismo e dá novo fôlego à Malhação

Após dois meses de sua estreia, a nova temporada de Malhação coleciona elogios do público. Viva a Diferença, de autoria do veterano Cao Hamburger e dirigida por Paulo Silvestrini, vem chamando a atenção pela sensibilidade na condução de seus temas e pela criação de perfis carismáticos e ricos, que facilitam a identificação dos telespectadores.

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As cinco protagonistas, que se conheceram em um metrô paulistano, trazem ótimos dramas individuais. Keyla (Gabriela Medvedovski) engravidou precocemente de um desconhecido e vive em busca deste pai biológico, o que contraria Tato (Matheus Abreu), que faz questão de criar o bebê Tonico como seu.

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Benê (Daphne Bozaski) é portadora de síndrome de Asperger (considerada um grau leve de autismo), tendo dificuldade em demonstrar emoções e interpretar ironias ou metáforas. Lica (Manoela Aliperti) vive em conflito com o pai, Edgar (Marcello Antony), em função da separação dele e de sua mãe Marta (Malu Galli).

Ellen (Heslaine Vieira) é hacker e já invadiu os sistemas da escola onde estuda. E Tina (Ana Hikari) gosta de música e vive em conflito com a mãe Mitsuko (Lina Agifu), por causa de seu relacionamento com Anderson (Juan Paiva), irmão de Ellen.

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Juntas ou separadas, todas as atrizes têm ótimas oportunidades de se destacarem e honram o bom roteiro do autor. Gabriela Medvedovski e Ana Hikari se mostram duas ótimas surpresas e estão excelentes em suas personagens.

Manoela Aliperti, que dá vida ao perfil mais rebelde do quinteto, honra o talento já mostrado na série Três Teresas (ao lado de Denise Fraga e Cláudia Mello, no GNT) e no filme De Onde Eu Te Vejo (com a mesma Denise Fraga e o saudoso Domingos Montagner).

Heslaine Vieira e Daphne Bozaski já trabalharam com Hamburger nas séries Pedro e Bianca e Que Monstro Te Mordeu?, respectivamente, ambas exibidas pela TV Cultura. As duas também estão muito bem e protagonizam grandes cenas.

Além do quinteto central, ótimos coadjuvantes enriquecem a história. Lúcio Mauro Filho, após anos como o Tuco de A Grande Família, mostra um lado diferente na pele de Roney, um ex-cantor de sucesso que virou dono de uma lanchonete e é pai de Keyla. Aline Fanju, que vive a alegre zeladora Josefina, mãe de Benê, está igualmente ótima e tem uma excelente sintonia com Lúcio.

Ainda se destacam Malu Galli (Marta, mãe de Lica), Daniela Galli (Malu, a esnobe esposa de Edgar), Lina Agifu (Mitsuko, a controladora mãe de Tina), Ana Flávia Cavalcanti (Dóris, diretora da escola pública Cora Coralina) e Mohamed Harfouch (Bóris, orientador do particular Colégio Grupo).

O elenco juvenil também conta com bons nomes. Matheus Abreu, que vive o boa-praça Tato, está novamente ótimo após viver os gêmeos Omar e Yaqub na série Dois Irmãos. Bruno Gadiol, que participou da última temporada do The Voice Brasil, vive o professor de piano Guto e mantém uma parceria excelente com Daphne Bozaski.

Talita Younan (Katarine, a K1) e Carol Macedo (Katiane, a K2) formam uma divertida dupla de vilãs-periguetes, as K’s, ao estilo de filmes como Meninas Malvadas. Das duas, K1 é a que demonstra mais vilanias, enquanto K2 é menos “vilã” e teve um envolvimento com Tato.

Também merecem elogios Hall Mendes (Jota), Juan Paiva (Anderson), Gabriel Calamari (Felipe), Vinícius Wester (MB) e Giovanna Grigio (Samantha) – esta última se destaca em um contexto infinitamente superior ao de sua estreia na Globo, em Êta Mundo Bom (2016).

A abordagem dos temas relevantes chama atenção pela sutileza e pelo realismo no tratamento dos mesmos. Meses atrás, Keyla chegou a ficar insegura com seu corpo e comprou emagrecedores ilegais vendidos por K1. Durante uma festa, a garota chegou a desmaiar e foi levada para o hospital. As cenas serviram como um alerta para o perigo destes produtos tidos como milagrosos.

Mais recentemente, Benê passou a manifestar mais os sintomas do autismo, após ter um surto depois de ser abraçada por Guto. E a garota ainda emocionou no momento em que sua casa foi atingida por uma tempestade. Sequências que destacaram Daphne Bozaski, que brilhou ao mostrar o drama da jovem.

Outro tema abordado com competência é a dualidade entre a escola pública caindo aos pedaços e a particular gastando sem necessidade. Enquanto os alunos do Cora Coralina se unem para arrecadar dinheiro para a reforma de sua escola, Malu e Edgar (responsáveis pelo Colégio Grupo) discutem com os pais de estudantes de lá a colocação de catracas após Lica e Tina terem pulado o muro. A ideia de que “a união faz a força” é igualmente reforçada através das festas promovidas pelas protagonistas, como a “Balada do Bebê” (para arrecadar fraldas para o filho de Keyla) e a “Balada Anos 80”.

Em 22 anos de história, Malhação apresentou temporadas memoráveis (como as de 2002, 2004, 2008 e as recentes Intensa e Sonhos) e esquecíveis (como Casa Cheia, Seu Lugar no Mundo e Pro Dia Nascer Feliz). Contudo, a atual edição é a primeira em muito tempo a mostrar a sensação de uma verdadeira renovação.

A ambientação em São Paulo, o foco em um quinteto de protagonistas mulheres (reforçando o empoderamento feminino) e não em um casal, a sutileza e o realismo dos temas abordados e o elenco repleto de talentos e nomes promissores resultaram em um conjunto delicioso de se acompanhar.

Não à toa, Viva a Diferença tem a melhor audiência inicial dos últimos anos do seriado, com 20,6 pontos de média geral até agora. Cao Hamburger, Paulo Silvestrini e toda a equipe e elenco merecem os aplausos pela ótima temporada que vêm apresentando. E isso é só o começo, ainda há muito mais pela frente. Que venham os próximos capítulos!


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