O garimpeiro Mariano (Juliano Cazarré) leva Sophia (Marieta Severo) para conhecer o primeiro veio de esmeraldas encontrado no garimpo “dela”. Conversa vai, conversa vem… Os dois acabam transando. Logo após, diante dos desmandos da patroa, o capataz dispara: “você é uma potranca ‘braba’, mas eu gosto; respeita teu macho”. A falta de sutileza – comum à obra do autor – foi o caminho encontrado por Walcyr Carrasco para dar início à segunda fase de O Outro Lado do Paraíso. E espantar de vez o clima soturno e agoniante da primeira (e excessivamente longa) etapa da novela.

O resultado desta parceria de Walcyr com o diretor artístico Mauro Mendonça Filho – e da massiva propaganda da Globo acerca do “capítulo da virada”: 36,3 pontos, recorde da novela – até então, detido pela estreia, com 35,1. Ainda não é possível cantar vitória; há muito folhetim pela frente. Mas, é fato, O Outro Lado do Paraíso começa a tomar rumo e a se reconciliar com o público afugentado por temas controversos, tratados com “mão pesada” de texto e direção, evidenciando o poderio dos vilões em detrimento da apatia dos mocinhos.

O que se viu ontem foi uma nova novela, dos diálogos à iluminação. Para quem acompanhou ‘O Outro Lado’ fielmente, durante o prólogo “sombrio”, nada além do esperado. Para quem desistiu e retomou contato nesta segunda-feira (27), outra história. Clara (Bianca Bin), trancafiada em um hospício pela sogra Sophia, agora almeja vingança; num golpe de sorte, herdou os valiosos quadros que Beatriz (Nathalia Timberg) escondeu em sua mansão – Fernanda Rodrigues, grata surpresa, surgiu em flashback, contextualizando este entrecho.

Já a melhor amiga da protagonista, Raquel (Èrika Januza), fez do estudo o seu ponto de virada. Está apta a regressar a Palmas, ocupando o cargo que até então pertencia ao corrupto juiz Gustavo (Luís Melo), para desespero de Nádia (Eliane Giardini), a patroa que a hostilizava por conta da cor de sua pele. Foram as imagens de Raquel cursando a faculdade de direito, embaladas por ‘That Smell’, da banda americana Lynyrd Skynyrd, que abriram o clipe de transição, de 2007 para os dias de hoje. Na sequência, agora com ‘Hold On’ (dos também americanos Alabama Shakes), outro compilado de cenas curtas. O recurso se revelou mais eficiente do que toda a primeira fase: talvez, com menos capítulos para este início, a média-semanal não tivesse rateado, indo de 30,9 para 27,5.

Agora, já sabemos que Renato (Rafael Cardoso), longe de Clara, decidiu se unir a Lívia (Grazi Massafera); juntos, representam para Tomaz (Vitor Figueiredo) os papéis de pai e mãe que caberiam a Gael (Sérgio Guizé) e a ex, vítima de sua violência. A conduta dos filhos de Sophia segue questionável: ambos desfrutam de uma fortuna que, por direito, só cabe ao menino. O psiquiatra Samuel (Eriberto Leão), ainda enfrentando dificuldades para lidar com sua homossexualidade, descobre com Cido (Rafael Zulu) o prazer que a esposa, Suzy (Ellen Roche), não lhe proporciona; Nádia, por sua vez, articulou um casamento por conveniência, de seu filho Bruno (Caio Paduan) – que fraquejou diante de Raquel – com a médica Tônia (Patrícia Elizardo).

Com tantos vilões impunes, cresce a expectativa pelas reações dos hostilizados. Além de Clara e Raquel – que, certamente, agora contam com a empatia do público – também temos Leandra (Mayana Neiva), a prostituta que anseia por um grande amor; e Elizabeth (Glória Pires), que, involuntariamente, se viu envolvida pela “difícil vida fácil”.

Há ainda Estela (Juliana Caldas), a anã rejeitada pela própria mãe. Soou forçada a cena que Sophia agride a filha, utilizando-se de adjetivos como “monstrengo”, para intimá-la a deixar sua casa. Se o contato com a herdeira lhe fazia tão mal, Sophia certamente teria tomado esta atitude o quanto antes; talvez logo após se livrar de Clara, abrir o garimpo e abastecer os cofres da família. A cena – também um exemplo de falta de sutileza que norteou todo o capítulo -, contudo, serviu para que o telespectador se apiede de Estela, supostamente rejeitada nos grupos de discussão.

Em entrevista ao jornal O Globo, no último domingo (26), Walcyr Carrasco comentou a respeito da segunda fase de O Outro Lado do Paraíso: “Teremos muita emoção, ação e humor também. A novela é como uma caravela, que navega soprada pelo vento”. É esta a receita de sucesso do autor. Com frases diretas, adjetivos desabonadores e humor involuntário. A julgar pelo capítulo de ontem, o vento, ao parece, está a favor da novela das 21h.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.