Após passar perrengues com Torre de Babel, que teve muitos problemas no início e engrenou após a explosão do shopping e muitas mudanças na trama, a Globo pensou que teria vida mais tranquila com a trama seguinte, Suave Veneno, de Aguinaldo Silva.

Ledo engano. Inspirada em O Rei Lear, de Shakespeare, o autor, a contragosto, teve que mexer bastante na história para tentar recuperar a audiência, que ainda por cima enfrentava a concorrência do Programa do Ratinho, do SBT, que estava no auge. No elenco, estavam nomes como José Wilker, Glória Pires, Letícia Spiller, Rodrigo Santoro e Luana Piovani.

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Suave Veneno estreou no dia 18 de janeiro de 1999 marcando 43 pontos de média. No entanto, alguns dias depois, entrou em declínio. A meta do horário, segundo reportagem do Estadão de 14 de fevereiro, era de 55 pontos.

No dia 23 de janeiro daquele ano, um sábado, a novela marcou 31 pontos, até então o menor índice da faixa das oito em toda a história da Globo. Torre de Babel, por exemplo, ficou com média de 39 pontos na primeira semana, contra 36,5 pontos da nova produção.

Inicialmente, Silva colocou a culpa no Carnaval. “Aconteceu a mesma coisa com Pedra sobre Pedra. Estreamos antes do Carnaval, a audiência inicialmente foi muito mal das pernas, a ponto de haver certa crise, e, depois, a novela cresceu. Pedra é das quatro novelas mais vistas em todos os tempos, depois da década de 70. Se houve uma perda, acredito que nas próximas duas semanas passaremos essa turbulência. E, depois, tenho uma carta na manga”, prometeu o autor em entrevista à Folha de S.Paulo de 31 de janeiro de 1999.

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Mudanças viraram novela de ponta-cabeça

Como a reação não veio, muitas mudanças foram realizadas. “A trama não agradou. Suave Veneno, segundo anunciara o autor, seria amarrada por uma trama de suspense sustentada por uma virada a cada trinta capítulos. Virou, mas de ponta-cabeça, depois de quatro meses”, definiu Nilson Xavier, colunista do TV História, em seu site Teledramaturgia.

Alguns personagens não se encontraram tão cedo: Maria Regina, a vilã vivida por Letícia Spiller, por exemplo, era considerada uma figura caricata e virou prato cheio para os humorísticos, como o Casseta & Planeta, Urgente.

De acordo com o livro “Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, de Fábio Costa, Silva teve que reescrever diversos capítulos por conta dos cortes realizados, inclusive para incluir o que havia sido retirado pelos diretores Daniel Filho e Ricardo Waddington, tentando não comprometer, assim, o sentido da história.

A coisa esquentou perto do capítulo 70, quando o autor, de acordo com notícias da época divulgadas pela imprensa, chegou a dizer à então superintendente da Globo, Marluce Dias da Silva, que abandonaria a novela se não deixassem as interferências e alterações de lado. O fato foi negado por Silva. “Esses boatos têm me feito mal”, declarou ao Estadão.

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Autor pensou em deixar as novelas

Em 2 de maio de 1999, o mesmo jornal divulgou que a novela ficaria mais apelativa para melhorar a audiência. “Se é isso o que querem, é o que verão”, disse Silva, concluindo que o público queria ver histórias mais superficiais.

Ironicamente, o autor chamou a nova fase da trama de Suave Veneno – Parte 2. Tudo começou com o assassino de Clarice (Patícia França), que não estava planejado na história. “Outra novela entrará no ar”, declarou.

Silva chegou a declarar que não sabia se faria mais novelas. “Tenho a tarefa imediata de manter o horário na meta de audiência. Mas não vou fazer parte do baixo nível geral. Depois, será difícil fazer novelas: não haverá lugar para mim, pois o que está aí não me interessa fazer”, enfatizou.

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Provavelmente, a frase saiu no calor do momento, com o autor de cabeça quente. Ele voltou a escrever e ainda teve sucessos depois de Suave Veneno, como Porto dos Milagres e, principalmente, Senhora do Destino, uma das novelas mais populares dos últimos 20 anos. No início de 2020, Silva não teve o contrato renovado pela Globo e está livre no mercado.

Mergulhada em dramalhão, a trama de Suave Veneno fluiu como realmente o telespectador queria e audiência subiu. A trama chegava ao fim em 17 de setembro de 1999, cedendo seu lugar para Terra Nostra, que finalmente deu paz para a Globo no horário.

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