Para viver o garçom Oscar, da novela Marron Glacé, o ator Lima Duarte precisou raspar o seu tradicional bigode devido a uma decisão da Vigilância Sanitária.

O veterano ator foi um dos destaques da novela, produzida e exibida pela Rede Globo entre 6 de agosto de 1979 e 29 de fevereiro de 1980.

Bigode censurado

Lima interpretou Oscar (foto acima), um homem solitário que vive com duas senhoras e que trabalha como garçom no buffet que dá título à trama de Cassiano Gabus Mendes.

Ele ainda sofre por ser hostilizado pelo filho Luiz César (João Carlos Barroso), também garçom do bufê onde trabalha.

Para dar vida a esse personagem, o ator fez questão de fazer um curso para aprender todos os segredos e truques da profissão. Além disso, Lima Duarte também ressaltou que algumas características do personagem eram suas.

“Mas também fiz um rápido curso no SESC. Foi proveitoso e paralelamente descobri que um garçom é bastante discriminado socialmente”, disse o artista em entrevista ao jornal O Globo em 14 de outubro de 1979.

“Acho que Oscar representa bem a realidade da profissão. É um trabalho meio misterioso, meio fantasma. Antes de mais nada, acho que o Oscar é um solitário. Um homem de passado nebuloso, odiado pelo filho. O mistério da vida desse personagem é digno até de ser revelado no Fantástico, após o término da novela. Em síntese: gosto dele”, completou.

No entanto, apesar de todo esforço para representar bem a categoria, o personagem acabou sendo enquadrado pela Vigilância Sanitária. O órgão enviou à Globo um comunicado para lembrar que o bigode que Oscar usava era uma afronta ao regulamento da classe.

E a advertência acabou surtindo efeito, já que o autor da trama teve que criar uma situação especial dentro do enredo, onde o garçom interpretado por Lima Duarte era obrigado a raspar o polêmico bigode.

Trama de sucesso

Marron Glacê

Escrita por Cassiano Gabus Mendes, Marron Glacé (foto acima) foi exibida de agosto de 1979 a março de 1980.

A trama narrava a luta de Otávio (Paulo Figueiredo) para vingar a morte do seu pai, que morreu na miséria após ser passado para trás pelo seu sócio. Ele decide, então, se apoderar do bufê Marron Glacé, de propriedade de Madame Clô (Yara Cortes), que era viúva do homem que arruinou a vida de sua família.

Otávio acaba sendo contratado pela empresa como garçom, mas vê seus planos serem frustrados ao se evolver com as duas filhas de Clô: a alegre Vânia (Louise Cardoso) e a agressiva Vanessa (Sura Berditchevsky).

A novela ainda narra o dia a dia dos demais garçons que trabalham no bufê: Oscar (Lima Duarte), Luiz César (João Carlos Barroso), Nestor (Armando Bógus) e Juliano (Ricardo Blat).

O folhetim foi um enorme sucesso de audiência durante sua exibição. Cassiano disse, na época, que a ideia de escrever Marron Glacé surgiu quando ele era dono da boate Dobrão, em São Paulo.

Além de Lima Duarte, o ator Armando Bógus também fez um curso básico para interpretar um garçom no folhetim.

Marron Glacé marcou a estreia da ex-modelo Mila Moreira em novelas da TV Globo, onde seria presença massiva em outras obras de Cassiano ao longo do tempo.

Participação especial na trama seguinte

Chega Mais

Após o término da novela, alguns garçons de Marron Glacé, entre eles os atores João Carlos Barroso, Laerte Morrone e Lima Duarte, fizeram uma aparição especial no primeiro capítulo da novela seguinte, Chega Mais (foto acima). No episódio, eles apareciam trabalhando na recepção do casamento do casal protagonista: Tom (Tony Ramos) e Gelly (Sônia Braga).

Yara Côrtes também gravou uma participação no folhetim como Madame Clô, numa espécie de passar o bastão para a nova trama do horário. Esse tipo de crossover ficaria mais evidente nas novelas exibidas na faixa das sete nos anos 2010.

Marron Glacé foi exportada para vários países, assim como o seu texto, que foi vendido para o Chile. Lá, a trama ganhou uma versão exibida pelo Canal 13 em 1993 e rendeu uma continuação intitulada Marrón Glacé, el Regreso, exibida em 1996.

A novela foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo de março a agosto de 1982.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor