A escritora e atriz pioneira da televisão, Vida Alves, acaba de ganhar uma exposição sobre sua vida profissional e pessoal. A mostra Vida Alves: raízes da televisão ocorre dentro de sua antiga casa na Pró-TV – Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira -, uma entidade que ela criou e lutou para manter viva a memória da nossa televisão.

Localizado no bairro Sumaré, em São Paulo, bem pertinho da antiga TV Tupi, o museu foi idealizado em 1995, durante uma reunião na casa de Vida com alguns de seus colegas pioneiros. “Vida fez uma festa para reunir todos os seus amigos pioneiros da Tupi e um dos convidados disse: ‘a gente tem que se reunir sempre, não podemos ficar anos sem ver’ e assim surgiu a ideia da Pró-TV”, afirma Thais Alves, filha de Vida e presidente da entidade.

Vida era muito querida pelos seus colegas: atores, atrizes, diretores, câmeras… Enfim, o apoio veio de muitos lados: doações de fotos, equipamentos, documentos e muitas outras peças que fazem parte da nossa televisão. Porém, mesmo com o apoio da classe artística, a atriz encontrou dificuldades: “Fomos ao governo federal, governo estadual e municipal, falamos com muitos políticos e sempre foi muito difícil conseguir verba e patrocínio para o museu, é realmente uma luta”, afirma Thais.

A preservação da memória da nossa TV é um marco na carreira de Vida Alves, mas sua trajetória de atriz ficou marcada pelo primeiro beijo da história da televisão brasileira. Em 1951, Vida fazia par com o ator Walter Forster na novela Sua Vida me Pertence, da Tupi, e foi neste folhetim eles deram o primeiro beijo em frente às câmeras.

Pelo pioneirismo, essa informação sempre é lembrada em livros, especiais e documentários. De certo modo, isso incomodava um pouco a atriz, mas foi sua neta que mostrou a importância desse fato e acabou com esse estigma: Tiê, cantora, é neta de Vida, soube desse fato na escola, lendo um almanaque da Disney cujo conteúdo destacava a história da TV e a cena desse primeiro beijo. Tiê voltou da escola contando para sua avó como estava orgulhosa desse fato. Foi aí que Vida percebeu a importância desse episódio, pois seria sua forma de resgatar toda uma época e falar de seu trabalho.

A atriz não deixou apenas a sua neta orgulhosa, mas também ajudou, e muito, sua carreira musical: “Ela me influenciou a seguir a arte, me incentivou a experimentar dança, atuação, canto… E eu acabei caindo na música. Ela sempre foi uma incentivadora, me dando conselhos e querendo fazer parte de tudo, ela foi muito importante”, conta Tiê, que esteve presente na abertura da exposição.

O trabalho de Vida e da Pró-TV não ficou restrito apenas à casa do Sumaré: exposições e palestras passaram por vários estados do Brasil e até fora do país. Elmo Francfort, escritor e gestor de conteúdo da Pró-TV e amigo da atriz, conta um momento curioso das muitas viagens de Vida ao exterior: “Ao explicar a edição no inicio do videotape, ela disse que se cortava a fita com gilete e colava tudo com durex… Durex na Europa é sinônimo de camisinha, e ela ao perceber falou preocupada: é fita cola! Fita cola!”, conta Elmo.

Mesmo cuidando do passado, Vida estava atenta à televisão atual, acompanhando os programas e os folhetins: “Ela acompanhava as novelas e quando se emocionava com alguma coisa, escrevia uma carta para as pessoas envolvidas naquele programa, sempre generosa com seus colegas” relembra Elmo.

Chegou uma época em sua vida em que ela criticou muito a televisão, mas foi em um curso que sua opinião mudou: “Ela ouviu de uma palestrante que foi na televisão que o povo aprendeu a importância da amamentação, da vacinação, aprendeu a tirar carteira de identidade e a partir disso ela começou a falar cada vez mais sobre a TV e a defendê-la” afirma Elmo.

Vida Alves foi uma pioneira, em todos os sentidos. O primeiro beijo foi dela, o primeiro beijo homossexual também, com a atriz Georgia Gomide no programa TV de Vanguarda, na Tupi, em 1963. O primeiro programa em cores ela que comandou, o Vida em Movimento, exibido pela TV Gazeta. Também foi uma das primeiras mulheres a montar uma produtora independente.

Em janeiro desse ano, Vida Alves faleceu aos 88 anos, mas o trabalho dela ficou e a memória que ela tanto preservou continua pulsando na casa do Sumaré.

“Ela não construiu o museu, mas ela mudou uma consciência. Emissoras como Globo e Cultura começaram a resgatar sua memória após a Pró-TV. Ela chegou sim onde queria e plantou uma semente”, afirma Elmo.

Para a filha, Thais Alves, ela foi uma empreendedora: “Além de ser pioneira do primeiro beijo e do primeiro programa em cores, acima de tudo ela foi uma empreendedora, pois teve uma escola de teatro, criou uma rede de rádio antes do satélite, criou cursos de comunicação. Tudo isso vem da inquietação, da curiosidade, de ser inovadora. Ela sempre sonhou, acreditou neles e trabalhou por eles”.

Hoje, todos nós podemos conhecer os sonhos de Vida Alves na exposição que a Pró-TV está promovendo. Além de fatos da vida pessoal e profissional da atriz, o museu conta com fotos, artigos da época, figurinos e peças cenográficas.

Hoje, mais do que nunca, o sinônimo de pioneirismo tem um nome: Vida Alves.

Serviço

Exposição Vida Alves: raízes da televisão
Duração: 22 de setembro a 20 de outubro de 2017
Local: PRÓ-TV – Rua Vargem do Cedro, 140 – Sumaré – SP
RSVP: (11) 3872-7743 / [email protected]
Observação: exposição está aberta ao público (com agendamento).


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor