Valeu muito a pena rever Torre de Babel no Viva

04/05/2017 às 10h00

Por: Sergio Santos
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O Viva vem reprisando Torre de Babel desde 10 de outubro de 2016 e a trama está em plena reta final. A problemática novela de Silvio de Abreu obteve ótimos índices de audiência no canal a cabo, comprovando que a produção deixou uma boa memória no público. E esse resultado acaba refletindo a qualidade da bem estruturada história do autor, que conseguiu reverter a rejeição inicial dos telespectadores em 1998, transformando a obra em um grande sucesso, com direito a várias cenas marcantes.

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A reprise expõe bem todas as modificações que o enredo sofreu ao longo dos meses, mas também mostra a habilidade que Silvio teve para mexer em tudo sem descaracterizar os personagens e a sua história. Inicialmente, a produção foi voltada exclusivamente para a vingança de Clementino, o papel mais complexo e desafiador da carreira de Tony Ramos. O protagonista assassinou a esposa com golpes de pá, foi preso por 20 anos, e saiu da cadeia disposto e destruir a vida do poderoso César (Tarcísio Meira), que testemunhou o assassinato, sendo o maior ‘responsável’ pela sua condenação.

A explosão do Tropical Tower Shopping foi a sequência mais marcante da novela e entrou para a história da teledramaturgia, até porque os efeitos especiais ficaram primorosos, principalmente considerando toda a infraestrutura de um produto da década de 90.

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A tragédia acabou ainda servindo de instrumento de ‘eliminação’ de perfis que foram rejeitados pelo público, como o drogado Guilherme (Marcello Antony) e o casal lésbico Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer). E também funcionou para a inserção de um clássico elemento de suspense: o “Quem matou”. No caso, foi o “Quem explodiu”.

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E todo o processo de redenção de Clementino foi feito com extrema competência e verossimilhança, focando em todas as nuances daquele perfil tão complexo e rico dramaticamente. O amor construído entre ele e Clara (Maitê Proença) foi delicado e lindo de ser acompanhado, assim como a sua relação com a filha Shirley (Karina Barum). O relacionamento conturbado dele com Sandrinha (Adriana Esteves) também primou pelos bons conflitos e o autor ainda optou por um revezamento de vilania. Isso porque no começo era o próprio Clementino que representava a figura de um sujeito agressivo e perigoso. Depois foi a vez de Sandrinha assumir o posto de peste da trama, destacando Adriana Esteves.

Posteriormente, a filha mais velha do protagonista foi deixando a agressividade e a ambição de lado em função do amor verdadeiro que passou a nutrir por Alexandre (Marcos Palmeira), um dos filhos de César e Marta (Glória Menezes). A partir de então, Ângela assumiu de vez a posição de grande vilã da novela, após ter ficado meses sendo apenas uma figura enigmática, nutrindo um ódio imenso por Clementino e uma paixão platônica por Henrique (Edson Celulari), seu ex. O ponto que marcou a nova fase da empresária fria e calculista foi o assassinato de Vilma (Isadora Ribeiro), esposa de Henrique. A longa cena da psicopata matando a mulher e jogando o corpo em um penhasco, brilhantemente dirigida por Denise Saraceni, foi uma das melhores da história.

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Depois desse bárbaro crime, Cláudia Raia passou a dominar a novela e sua atuação é digna de todos os elogios. Foi um de seus melhores trabalhos. As críticas feitas a ela na época foram injustas. A atriz soube imprimir um tom irônico e dissimulado na víbora, conseguindo ainda mostrar todo o processo de descontrole emocional que a personagem foi desenvolvendo à medida que suas armações iam sendo descobertas por todos ao seu redor. A sua rivalidade com Clementino também cresceu, assim como os seus embates com Celeste (Letícia Sabatella), perfil que entrou na trama pouco depois da explosão do Shopping e acabou ganhando ares de mocinha, principalmente quando se envolveu com Henrique. Os momentos de cumplicidade de Ângela com a empregada Luísa (saudosa Liana Durval em um papel de destaque) também merecem menção.

O núcleo da hilária Bina (Cláudia Jimenez) – que antes era o do Shopping, protagonizando cenas ao lado de Sandrinha – passou a ser o da divertida Diolinda (saudosa Cleyde Yáconis), unindo vários ótimos atores, como Carvalhinho (o mordomo Cláudio) e Etty Fraser (a fofoqueira tia Sarita). A exceção era mesmo o inexpressivo Victor Fasano vivendo o mimado Edmundo. A dupla formada por Johny Percebe (Oscar Magrini) e Boneca (Ernani Moraes) também cresceu, protagonizando cenas tanto no núcleo da Bina quanto no do Clementino. E vale citar, claro, o icônico Jamanta (Cacá Carvalho), que foi um dos destaques durante o folhetim todo. Já a delicada história de Shirley foi outra que ganhou cada vez mais importância, focando sua superação (tinha um problema na perna) e seu romance com Adriano (Danton Mello).

A trilha internacional é mais um acerto da produção e tem sido um prazer escutá-la novamente durante essa gostosa reexibição, vide “Corazón Partío” (Alejandro Sanz), “The Air That I Breathe” (Simply Red), “Con Te Partirò” (Andrea Bocelli), “You Were There” (Eric Clapton), “Immortality” (Celine Dion), “Be Alone No More” (Another Level), “Lady” (Lionel Ritchie) e “High” (Lighthouse Family). Já a trilha nacional também merece menção, tendo sido tocada bem mais nos primeiros meses de novela, como “Onde Foi Que Eu Errei” (Fat Family), “Vambora” (Adriana Calcanhotto), “Telefone” (Nara Leão), “Só No Sapatinho”, “Moda de Sangue” (Elis Regina), entre outros.

Torre de Babel será sempre um exemplo de novela que conseguiu reverter os problemas de audiência, transformando-se em um grande êxito do horário nobre da Globo. Silvio de Abreu foi muito habilidoso na condução dessa trama e a reprise no Canal Viva serviu para comprovar tudo isso.

Valeu muito a pena ter acompanhado esse folhetim novamente, apesar do horário ingrato (poderia ter entrado no lugar da reprise de Laços de Família). Foi a companhia da madrugada de muitos noveleiros.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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