Se continuar assim, Um Lugar ao Sol tem tudo para ser um novelão

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O que todo mundo quer na vida é uma oportunidade. Uma chance. Mas e se para ter um lugar ao sol você tivesse que encarar suas sombras? Você deixaria de ser quem é para chegar aonde quer? A mensagem do teaser de Um Lugar ao Sol, nova novela das nove da Globo, que estreou nesta segunda-feira (08), totalmente inédita e já toda gravada, provoca curiosidade sobre mais uma história da talentosa Lícia Manzo, autora que fez sucesso em A Vida da Gente (2011) e Sete Vidas (2015), ambas na faixa das seis, e agora estreia no horário nobre da emissora apostando no dramalhão clássico.

A escritora não costuma utilizar maniqueísmo em suas obras. Ninguém é muito bom ou muito mau. Todos têm suas complexidades e controvérsias de qualquer ser humano. Portanto, a trama que norteia a produção foge do clichê, ainda que se utilize dele. Meio confuso? Nem tanto. Lícia conta o folhetim clássico do gêmeo que ocupa o lugar do outro. Mas do jeito dela. E um jeito que o público já aprendeu a admirar. Tanto que os primeiros capítulos da nova novela das nove vêm causando a melhor das impressões.

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A estreia já conseguiu arrebatar pela forma como tudo foi apresentado ao público. Em uma hora e meia de capítulo, praticamente uma duração de filme, Lícia mostrou o nascimento dos gêmeos, algumas passagens de tempo muito bem colocadas pela direção de Maurício Farias, e como cada irmão se adaptou à nova vida.

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Os gêmeos Christian e Christofer (Cauã Reymond) são separados ainda bebês após perderem a mãe no parto em Goiânia. Christofer é adotado por um casal do Rio de Janeiro e rebatizado como Renato pelos pais adotivos. Christian é deixado em um abrigo pelo pai biológico. Os gêmeos crescem em realidades opostas, com personalidades completamente diferentes, sem saberem da existência um do outro. Os caminhos dos irmãos voltam a se cruzar quando ambos completam 18 anos. Christofer/Renato descobre sua verdadeira identidade no leito de morte do homem que acreditava ser seu pai. Só que Elenice (Ana Beatriz Nogueira), sua mãe adotiva, mente ao rapaz e afirma que seu pai biológico e seu irmão gêmeo morreram. Ao mesmo tempo, Christian é obrigado a deixar o abrigo para menores onde cresceu, em Goiânia, e também descobre que foi separado de Christofer; mas encontra Lara (Andreia Horta), se apaixona e desiste de sua procura.

A autora mostrou todo o imbróglio citado logo no primeiro dia. O risco de cair em uma pressa desnecessária era elevado. Mas incrivelmente não ficou corrido. Lícia conseguiu construir as situações de forma delicada e com aquele texto que é considerado o melhor da teledramaturgia atual. Até mesmo a famigerada paixão à primeira vista – que costuma destruir qualquer empatia do público pelos mocinhos -, protagonizada por Lara e Christian, ficou natural e bonito de ver.

Já o grande destaque deste início de história tem sido Juan Paiva, que está muito bem como Ravi. A cena em que o rapaz flagrou o ‘irmão’ beijando Lara, chorou e desabafou sobre o seu interesse na nova conquista do protagonista foi de cortar o coração. Aliás, o laço dos personagens tem tudo para ser um dos trunfos do folhetim.

O fato de Christian e Renato se reencontrarem já no terceiro capítulo prova que a autora não está preocupada com o plot, que tinha tudo para ser o mais aguardado do roteiro. E, sim, com a narrativa em torno da troca de vidas. E mais uma vez é preciso sublinhar a capacidade que a escritora teve ao desenvolver essa avalanche de acontecimentos de uma forma natural, sem deixar a impressão de correria ou atropelos. Lícia também mostrou inteligência ao usar uma profusão de clichês em três capítulos, impedindo o telespectador de largar ou se desinteressar pela história. O velho recurso dos gêmeos usado em tempo recorde e de maneira irresistível.

Vale elogiar também a abertura ao som de Sulamericano, música cantada pelo grupo BaianaSystem. Os recortes de imagens juntamente com os nomes do elenco ficaram ótimos e a trilha tem tudo a ver com o enredo que está sendo contado.

zOs atores também merecem uma honrosa menção. Além do competente Juan, Cauã Reymond está se saindo bem na difícil missão de viver gêmeos, onde não há o facilitador de um ser malvado e o outro bonzinho. Como diferenciá-los? Claro que a caracterização ajuda, mas o trabalho do ator faz jus. Andreia Horta é mais um destaque que promete protagonizar grandes cenas. Lara é um tipo solar e diferente dos demais perfis vividos pela atriz em tramas anteriores. Enquanto Alinne Moraes tem tudo para honrar a cada dia a densidade de Bárbara, aquela típica personagem que tem o dom de se sabotar. Ana Beatriz Nogueira, Marieta Severo e Andrea Beltrão são outras intérpretes que engrandecem o tão talentoso time. Uma pena Genésio de Barros, Tonico Pereira e Inez Vianna terem participações tão curtas.

O primeiro capítulo foi voltado para a narrativa de Christian, enquanto o segundo apresentou mais a vida de Christofer/Renato, incluindo um momento em que o rapaz atropelou e matou um inocente quando viajou para o exterior. Já o terceiro capítulo marcou o encontro dos gêmeos e consequentemente a morte de Renato, assassinado por traficantes que cobravam Christian. É perceptível como tudo foi planejado com precisão pela autora e o resultado tem sido visto no ar.

Aliás, é necessária uma observação sobre o filtro da trama, tão criticado nas redes sociais: o tom mais azulado escolhido pela direção não incomoda e não deixa de ser um diferencial, ainda que possa mudar ao longo dos meses. Há também uma tonalidade pastel em algumas cenas como se houvesse um pôr-do-sol constante, em referência ao título da produção.

Um Lugar ao Sol vem apresentando um começo ágil, promissor e repleto de elementos de um folhetim de qualidade. O horário nobre voltar, após dois anos de reprises, com uma novela totalmente inédita e escrita por Lícia Manzo é o melhor dos presentes.

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