Que saudade de uma novela das nove inédita! E tudo fica melhor quando a estreia não decepciona. Falo de Um Lugar ao Sol, de Lícia Manzo, nesta segunda-feira (08).

Porém, algumas ressalvas devem ser feitas neste entusiasmo todo. A edição correu demais no primeiro bloco, para dar conta de mostrar os antecedentes do protagonista Christian e seu gêmeo Renato (apelidados na internet de Cauã Pobre e Cauã Rico). Quem não sabe do que se trata, certamente se perdeu. Particularmente, prefiro assim à opção pela primeira fase.

No segundo bloco em diante, deu para relaxar com a história – depois de conhecermos a excelente abertura (ao som de BaianaSystem), e passados alguns anos, com os personagens estabelecidos no Rio de Janeiro.

A autora, famosa pela qualidade do texto, abusou de vários clichês: o pobre que tem dignidade, por isso não aceita dinheiro; o segredo de família revelado no leito de morte; o protagonista, moço esforçado e sofrido, que lê Machado e aprendeu inglês ouvindo Beatles.

O mais batido clichê seria imperdoável, não fôssemos convencidos por Lícia Manzo e um Cauã Reymond bastante compenetrado em seu personagem. O meio caminho entre texto e representação é a direção. Maurício Farias, que assina a direção artística, parece ter acertado muito. Andreia Horta está radiante já em tão poucas aparições. O ótimo Juan Paiva cativou com seu personagem. O elenco parece “azeitado” (e ainda falta aparecer tantos nomes de peso!).

Uso “azeitado” para também me referir ao filtro usado na novela. As chamadas estavam horrorosas, com cores desbotadas. No ar, há mais cor, ainda que o pastel imprima uma densidade na imagem, um azeite.

É uma antítese a novela se chamar Um Lugar ao Sol, passada no Rio de Janeiro, mas que exibe a Cidade Maravilhosa em tom pastel, dispensando luz a cor. Talvez seja a visão do mundo pelos olhos de Christian, cujo direito ao lugar ao sol lhe foi negado.

A trilha sonora ajuda nesta unidade densa: vai do romântico (“não dá mais pra segurar, explode coração!“) ao protesto (“eu não sei de onde vem o tiro“) em meio a personagens com muito potencial para render e uma história sem medo de ser novela. Clichês aceitos.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor