Um dos maiores fracassos da história da televisão estreava em 1981

27/04/2023 às 12h41

Por: Thell de Castro
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Se tem uma novela que a Globo faz questão de esquecer é O Amor é Nosso. Considerada uma das mais problemáticas tramas já exibidas pela emissora, basicamente, contava a história do jovem cantor Pedro, vivido por Fábio Jr. (na época casado com Glória Pires), em busca do sucesso e do reconhecimento da crítica. A desastrosa produção estreava há 42 anos, em 27 de abril de 1981, após longos 155 capítulos.

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Gloria Pires e Fabio Jr

Escrita pelo psiquiatra Roberto Freire e por Wilson Aguiar Filho, tinha uma proposta diferente e ousada. Não queria tratar o jovem somente como objeto de consumo, além de trazer à tona novos conceitos sobre a Igreja Católica, através do revolucionário padre Leonardo (Stênio Garcia).

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Apesar de contar com nomes como Tônia Carrero, Buza Ferraz, Stepan Nercessian, Milton Moraes, entre outros, não deu certo.

O Amor é Nosso

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O público não entendeu a confusa história, que misturava elementos policiais com os romances e confusões típicas dos jovens. Além disso, a trama tinha excesso de personagens – algo como visto recentemente em tramas como Páginas da Vida e Salve Jorge, onde muita gente não tinha função.

Ônibus da morte

Exatamente na metade da novela, em uma situação emergencial, Walter Negrão assumiu o comando. Cogitou-se, à época, que seria usada a mesma técnica de Janete Clair em Anastácia, a Mulher Sem Destino, de 1967: uma tragédia levaria boa parte do elenco, que seria renovado a partir de uma nova história.

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Um acidente de ônibus faria com que diversos personagens fossem eliminados. Mas o “ônibus da morte”, como ficou conhecido, não foi necessário.

“Como peguei a novela exatamente na metade, achei melhor encerrar algumas tramas propostas pelos outros autores para poder desenvolver a minha. Assim, todos os personagens ligados ao lado policial da novela vão desaparecer, porque pretendo destacar o lado romântico da história. Mas não haverá o ônibus da morte”, disse Negrão à Folha de S. Paulo de 30 de julho de 1981.

A chegada do experiente autor melhorou a fluidez da história, mas já não havia muito o que fazer. Como a Globo dominava praticamente toda a audiência e não existiam opções como TV por assinatura e internet, a emissora nem sofreu abalo nos índices, mas para o famoso padrão Globo de qualidade, mais forte do que nunca naquela época, um fiasco como esse era difícil de ser tolerado.

Nem Roberto Carlos salvou

Roberto Carlos

Para tentar turbinar os índices de audiência, a Globo chamou o cantor Roberto Carlos para fazer uma participação especial. Então casado com Myrian Rios, que vivia a mocinha da história, o rei participou como ele mesmo, ensinando Pedro a cantar.

O jovem ator Fernando Ramos da Silva (1967-1987), que havia vivido Pixote no cinema, também em 1981, esteve no elenco da novela como Pingo, mas não decolou.

Marlene (1922-2014), estrela da era de ouro do rádio, viveu uma cantora decadente, gerando reclamações de seu fã-clube, ainda forte naquela época.

O Amor é Nosso

Nada disso, claro, foi suficiente para corrigir os rumos da novela. A experiência foi tão traumática que pouca coisa de O Amor é Nosso consta no arquivo da Globo. Restam apenas chamadas de estreia e o clipe da abertura, exibido um dia antes da estreia, no Fantástico – as fitas teriam sido apagadas.

“Muito difícil fazer um balanço crítico de O Amor é Nosso. Diante de tantas alterações, impossível analisar a obra. Não há obra. A novela acabou descosida, diferente, desossada, embora de certa forma divertida. Mas morrerá sem deixar saudades”, definiu o crítico Artur da Távola (1936-2008) no jornal O Globo de 25 de outubro de 1981, um dia após a exibição do último capítulo da trama.

“A novela ficará como essas pessoas que morrem jovens: partem cheias de promessas e esperanças do que poderiam ter sido, se tivessem vindo a ser”, completou.

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