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Exibida entre 28 de junho de 2004 e 11 de março de 2005, Senhora do Destino foi um fenômeno de audiência e arrebatou o público com uma história tipicamente folhetinesca. A missão de Aguinaldo Silva não era nada fácil: substituir Celebridade, sucesso de Gilberto Braga no horário nobre da Globo. Mas o autor não só manteve os bons índices, como também lançou personagens tão marcantes quanto os da produção de seu colega e terminou sua obra com números elevadíssimos no Ibope.
Dividida em duas fases, a história começa em 1968, período da ditadura militar. Nesta primeira parte, a trama se resumiu na vida de três mulheres: a corajosa jornalista Josefa (Marília Gabriela) – inimiga mortal da ditadura, que sofre perseguição da censura -, a lutadora Maria do Carmo (Carolina Dieckmann) – nordestina que vem para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor para seus cinco filhos – e Nazaré Tedesco (Adriana Esteves) – prostituta gananciosa que procura mudar sua vida a qualquer custo.
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A trama se desenrola em torno do sequestro do bebê da protagonista. Justamente no dia da decretação do AI-5, Maria do Carmo, assim que chega ao Rio, se vê no centro de uma imensa confusão que ocorria nas ruas do Centro da Cidade, com militares agredindo manifestantes e invadindo sedes de jornais oposicionistas, como o Diário de Notícias, chefiado por Josefa.
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Em meio aos inúmeros conflitos, Maria do Carmo se vê desesperada ao constatar que um de seus filhos (Reginaldo) está machucado e conhece Nazaré – que estava vestida de enfermeira, fingia se chamar Lourdes e usava uma falsa barriga de grávida. A prostituta se oferece para tomar conta das crianças enquanto Maria leva o filho ferido ao hospital, mas foge com Lindinalva, a recém-nascida de apenas dois meses.
O plano de Nazaré era fingir que a filha era de seu amante, o forçando abandonar a família para ficar com ela. E seu objetivo foi alcançado. A partir de então, a luta de Maria do Carmo – que é presa após ser confundida com manifestantes e acaba conhecendo Dirceu e Giovanni na cadeia – para encontrar sua filha passa a ser o foco central da história.
Vinte e cinco anos se passam e a novela inicia sua segunda fase, oficialmente em 1993 – mas com carros e roupas de 2004, usando da ‘licença-poética’, bem criticada na época. A protagonista (agora Susana Vieira) virou uma mulher bem-sucedida e dona de uma loja de construções chamada Do Carmo. Apesar de realizada e com uma linda família, ela nunca esqueceu o trauma que sofreu. A história foi muito bem construída em cima desta forte personagem e, claro, arrebatou o público com uma vilã que entrou para a história da teledramaturgia.
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A diabólica Nazaré Tedesco era cruel e debochada, além de muito convencida. Renata Sorrah deu um show de interpretação e esta foi a sua melhor personagem da carreira e último bom papel na televisão, vale ressaltar. Uma cena que marcou a víbora foi quando assassinou seu marido (Tarcísio Meira) o empurrando da escada de sua antiga casa, quando este descobriu sobre o rapto do bebê. Outra ‘vítima da escada’ foi Djenane (Elizângela), prostituta que chantageava sua ‘amiga’ Naza – só que neste caso ela mesma se desequilibrou. Vale destacar também a cena que Nazaré mata um taxista, seu então cúmplice, jogando um ventilador ligado dentro da banheira.
Os embates entre Maria do Carmo e a vilã, que começaram depois de muita investigação por parte da protagonista para achar sua inimiga, eram sempre ótimos. E mais um grande sucesso da novela de Aguinaldo Silva foi o bicheiro Giovanni Improtta, vivido pelo saudoso José Wilker. O personagem era um contraventor, mas muito boa gente e seu jeito peculiar de falar conquistou o público: a expressão ‘Felomenal’ foi a mais popular, embora outras também tenham divertido, vide ‘Vou me pirulitar-me’, ‘O tempo ruge e a Sapucaí é longa’, entre tantas mais.
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O personagem – que tinha um fiel escudeiro (Madruga – André Mattos), vivia discutindo com a sogra (Flaviana – Yoná Magalhães) e ainda namorava uma ninfeta que o chamava de ‘paizinho’ (Ludmilla Dayer) – deu tão certo que acabou ficando com Maria do Carmo no último capítulo, sua eterna paixão, no lugar do jornalista Dirceu (ótimo José Mayer), que o bicheiro apelidava de ‘Troca-letras’.
Entre os ótimos núcleos da novela, havia a trama do lindo casal formado pelo Barão de Bonsucesso (saudoso Raul Cortez em sua última novela – faleceu em 2006) e pela Baronesa Laura (Glória Menezes), que passou a sofrer do Mal de Alzheimer. O filho do casal era o mimado Leonardo, vivido por Wolf Maya, que era casado com a esnobe Gisela (Ângela Vieira), venerada pelo mordomo Alfred (saudoso Italo Rossi).
A violência contra a mulher foi muito bem abordada na trama através do violento Cigano (Ronnie Marruda), presidiário que espancava sua mulher, Rita (Adriana Lessa). A corrupção foi outro tema explorado com competência em cima da ambição de Reginaldo (Eduardo Moscovis), político canalha, filho mais velho de Maria do Carmo, que tinha como parceira de falcatruas a sensual Viviane (Letícia Spiller).
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José de Abreu entrou no meio da novela e foi outro acerto da história, uma vez que o aproveitador Josivaldo, ex-marido da protagonista, virou cúmplice de Nazaré, formando uma boa dupla com a vilã. Já a comicidade da história, mesclada com crítica social, ficava a cargo do sofrido Seu Jacques (Flávio Migliaccio), que lutava pela sua aposentadoria. O grande ator fez uma ótima parceria com Malu Valle (a melhor amiga) e Thiago Fragoso, que vivia seu filho.
A lembrança triste do folhetim foi a morte da grandiosa Miriam Pires, que veio a falecer durante a novela. Sua personagem, a doce cozinheira Clementina, era braço-direito de Maria do Carmo e avó do rebelde Shaolin (Leonardo Miggiorim), que tinha uma academia.
Além dos grandes atores já mencionados, o elenco também contava com nomes como: Débora Falabella, Leonardo Vieira, Nelson Xavier (motorista fiel de Josefa, casado com Janice – saudosa Mara Manzan), Dan Stulbach, Marcello Antony, Helena Ranaldi, Leandra Leal, Ana Rosa, Emiliano Queiroz, Flávio Galvão, Bárbara Borges (que interpretou Jennifer, vivendo um romance lésbico com Eleonora – Mylla Christie), Stella Freitas, Guida Vianna (Fausta, empregada de Nazaré), Catarina Abdalla, Tônia Carrero (em uma ótima participação na primeira fase), Tânia Khalill, entre outros.
Senhora do Destino foi um fenômeno de audiência e popularidade. Aguinaldo Silva escreveu uma novela ótima, repleta de conflitos marcantes e maravilhosos personagens, e todo o sucesso que a trama fez foi merecido.