Novela de Alcides Nogueira, escrita com Bia Corrêa do Lago e dirigida por Jayme Monjardim, Tempo de Amar estreou há exatos cinco anos. A trama cumpriu sua missão: manteve os bons índices do horário das seis, então embalado por Novo Mundo (2017).
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Outra peculiaridade marca o folhetim. Foi com Tempo de Amar que Regina Duarte se despediu das novelas da Globo; nos últimos anos, após romper o contrato para ser secretaria especial de Cultura de Jair Bolsonaro, ela se afastou da emissora e de boa parcela do público.
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Amor à primeira vista não colou
Uma novela belíssima, de diálogos refinados e imagens preciosas, incluindo figurino e cenários muito bem cuidados. Todavia, Tempo de Amar pecou nos quesitos enredo e ritmo; a narrativa arrastou-se por um bom tempo, testando a paciência dos mais ansiosos.
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O autor baseou-se no argumento de Rubem Fonseca, que ambientava a história de amor dos mocinhos entre 1886 e 1888, época em que ocorreu o movimento abolicionista. Mas, a Globo decidiu mudar o contexto para os anos 20 (entre Portugal e Rio de Janeiro, com lindas locações no Rio Grande do Sul).
Não foi apenas essa a mudança de percurso… Desde o início, ficou claro que seria quase impossível sustentar a trama apenas na separação e, consequentemente, no reencontro de Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo). A necessidade de outros conflitos era vital para o roteiro não ficar limitado.
O primeiro erro foi colocá-los perdidamente apaixonados com apenas dois capítulos. Já estavam planejando até casamento! Ou seja, o par acabou não convencendo. Para culminar, o casal foi separado logo na segunda semana e ficou afastado quase a trama inteira. A torcida não aguentou.
A força das mulheres
A ideia de apostar em rostos novos como protagonistas foi corajosa e deu certo com Vitória, que se mostrou uma grande e promissora atriz. Já com Bruno, o erro acabou evidente. Inexpressivo, o ator deixou a desejar sempre que foi mais exigido e ficou artificial proferindo o texto formal da trama. O perfil do mocinho também não ajudou: um sujeito passivo, burro e manipulável, que não contribuiu para o andamento dos conflitos.
O período em que Inácio ficou cego e nas mãos de Lucinda (Andréia Horta ótima, apesar da vilã ter caído no lugar comum) testou a paciência do espectador. Além de acreditar em todas as mentiras que a vilã contava sobre Maria Vitória, ele nem se preocupou em procurar os seus amigos no Rio de Janeiro, como o Seu Geraldo (Jackson Antunes), dono da mercearia que o empregou quando o mesmo chegou para melhorar de vida.
Enquanto isso, a mocinha passava por uma sucessão de desgraças na procura pela filha roubada e pelo amor de sua vida. Maria Vitória foi internada em um convento, assediada, estapeada, presa… Nesse época, a novela ganhou um apelido jocoso: Tempo de Chorar. Enquanto isso, os núcleos paralelos eram pouco explorados, fazendo com que vários talentos ficassem apenas como figurantes de luxo.
Regina Duarte apagada
Foi este o caso, por exemplo, de Regina Duarte. A carismática Madame Lucerne demonstrava um perfil promissor, mas acabou avulsa na história. O bordel da cafetina serviu apenas para expor a arrogância do deputado Teodoro (Henri Castelli) e a vida dupla de Bernardo (Nelson Freitas). Até mesmo a maravilhosa parceria da atriz com Maria Eduarda de Carvalho (a prostituta Gilberte) – observada anteriormente em Sete Vidas (2015) – ficou apagada.
Quando Maria Vitória foi parar no local com suas amigas, o núcleo demonstrou tendência de crescimento. Em pouco tempo, tudo voltou ao que era antes. Nem mesmo o bonito romance com José Augusto (Tony Ramos), pai da mocinha, iniciado depois da metade da trama – aproveitando a química entre Regina e Tony, vista em Rainha da Sucata (1990) -, foi desenvolvido a contento.
Grandes atrizes em grandes papéis
Parte do desprestígio de Regina como Lucerne veio do êxito das outras parceiras do José Augusto de Tony. Letícia Sabatella esteve muito bem como a malvada Delfina. A personagem tinha boas camadas, sempre nutrindo um amor doentio por José Augusto e um ódio por Maria Vitória e todos que tentavam atrapalhar o objetivo de colocar a filha Tereza (Olívia Torres) como a única herdeira do todo poderoso de Portugal.
As cenas da intérprete com Tony e Olívia, por sinal, eram sempre boas. Outro acerto, desta vez no time dos bonzinhos, foi o próprio José Augusto. Um perfil denso e que mesclava momentos de vilania com outros de integridade. Responsável pelo início das desgraças na vida da própria filha, acabou se arrependendo dos seus atos, indo atrás da mocinha e reencontrando também seus erros do passado. Tony brilhou, não havendo surpresa alguma nisso.
Celeste Hermínia foi mais um excelente perfil, destacando o talento dramático de Marisa Orth. A atriz, pela primeira vez, viveu uma mulher que não tinha traço algum de comicidade, mostrando que não é uma profissional de um gênero só. A fadista foi um dos tipos mais cativantes de Tempo de Amar e a revelação em torno da identidade de sua filha desaparecida a destacou ainda mais, ligando-a diretamente ao drama de Maria Vitória e José Augusto.
Outros destaques
Elogios também para a bela relação de Eunice (Lucy Alves) e Reynaldo (Cássio Gabus Mendes). Ainda, Bruno Ferrari como Vicente, o verdadeiro mocinho da novela. A saudosa Françoise Forton brilhou como Emília, em ótimos embates com Andréia Horte. Já Olívia Araújo se saiu muito bem vivendo a simpática Dona Nicota, enquanto Bárbara França se firmou de vez defendendo a sua determinada Celina, protagonizando boas cenas com Deborah Evelyn, a fútil Alzira.
Tempo de Amar trouxe abordagens panfletárias e cansativas em torno de militantes políticos e do racismo, mas acertou ao tratar de assédio, tendo Olímpia (Sabrina Petráglia) como protagonista, em plena reta final da novela. A abordagem mereceu elogios, pois proporcionou ótimas cenas e ainda serviu para expor o verdadeiro pai de Pepito (Maicon Rodrigues), após a empregada Balbina (Walkíria Ribeiro) ter se dado conta que era assediada desde sempre.
Tempo de Amar, no geral, foi uma novela mediana, cujos erros acabaram camuflados pelo texto bonito de Alcides Nogueira e as qualidades se sobressaíram através da direção competente de Jayme Monjardim, aproveitando das belíssimas imagens e cenários. Mesmo assim, o roteiro limitado e o ritmo modorrento foram perceptíveis em todos os momentos, assim como o subaproveitamento de vários talentos, como Regina Duarte, e personagens que simplesmente não aconteceram.