No mês passado, a TV Cultura comemorou seus 48 anos no ar. Porém, o que muitos não sabem é que a TV Cultura tem 57 anos de vida e que, por nove anos, o dono dessa emissora era nada mais nada menos que Assis Chateaubriand, o homem que trouxe a televisão ao Brasil.

Tudo começa em 1958, quando o Diários Associados, um dos maiores conglomerados de mídia do Brasil, ganham a permissão de transmitirem uma nova programação no canal 2 de São Paulo.

A ideia de Chateaubriand era criar uma televisão educativa, inspirada nas emissoras públicas estrangeiras: BBC da Inglaterra e a PBS dos Estados Unidos.

O processo de criação da emissora levou dois anos, indo ao ar somente em setembro de 1960, com pouca divulgação.

As instalações do canal 2 ficavam no Edifício Guilherme Guinle, na região central de São Paulo, o mesmo prédio que abrigou a TV Tupi no início de suas transmissões.

Os funcionários da Cultura vinham da TV Tupi, assim como a antena de transmissão, que ficava no alto da torre do antigo Banespa, também no centro de São Paulo.

Nessa época, a emissora trazia programas educativos, mas também de apelo popular: o apresentador Jacinto Figueira Junior, criou na Cultura, o Homem do Sapato Branco, o primeiro programa popular da emissora. Algo que, hoje em dia, jamais seria exibido.

Os apresentadores Ney Gonçalves Dias, Xênia Bier, Fausto Rocha entre outros faziam parte do casting da tv.

Um incêndio, em 1965, destruiu boa parte dos estúdios da Cultura, fazendo com que grande parte dos registros dessa época se transformasse em cinzas.

O grupo Diários Associados começou a entrar em decadência e cuidar de duas emissoras virou um desafio imenso para um grupo quebrado. Assim, a Cultura, que seria uma emissora educativa, transmitia programas popularescos sem viés algum para a educação.

Com todos os problemas e a incompetência dos administradores, o grupo entrega o canal 2 ao governo de São Paulo em 1968, que acaba saindo do ar. Na época, o governador do estado de São Paulo, Abreu Sodré, criou a Fundação Padre Anchieta – Centro Paulista de Rádio e Televisão. Houve uma polêmica grande, muitos foram contra o governo controlar uma emissora de televisão e como a fundação foi criada.

Até uma CPI foi criada, mas não foi para a frente, pois a emissora seguia a Lei Estadual 9849, que autorizava o Poder Executivo a criar uma entidade que promovesse atividades culturais e educativas por meio de radio e televisão.

E assim, em junho de 1969, entrava no ar a nova TV2 Cultura, que trazia a esperança dos intelectuais em trazer uma televisão de fato educativa.

E para os militares, um instrumento para difundir uma imagem positiva do Brasil de norte a sul e propagar o “Milagre Econômico” da ditadura militar.

Anos após ano, a Cultura mostrou a qualidade na televisão, inovando no jornalismo, na dramaturgia e principalmente nos programas infantis, falando com a criança de forma inteligente e direta. Não foi à toa que a emissora ganhou vários prêmios pelo mundo, inclusive o Emmy.

Mas a crise sempre ronda o Canal 2, muitas vezes funcionários entraram em greve reclamando de salários atrasados e direitos trabalhistas deixados de lado. Programas saíram do ar, substituídos por reprises e enlatados.

A torcida do telespectador é que essa TV Cultura, de 48 anos idade, siga firme e forte, não repetindo o fracasso da primeira TV Cultura, no longínquo ano de 1968.


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor