Troca de bebês expõe o brilhantismo de Manoel Carlos em Por Amor

08/07/2017 às 10h00

Por: Thallys Bruno
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Uma das cenas mais antológicas da teledramaturgia foi exibida na última quinta-feira, 6 de julho. Na novela Por Amor (1997-98), inesquecível obra de Manoel Carlos exibida atualmente pelo canal Viva, a protagonista Helena (Regina Duarte) não hesitou em trocar o seu filho recém-nascido pelo da filha Maria Eduarda (Gabriela Duarte). Uma decisão polêmica, que transitou entre o egoísmo dela ao não pensar no possível sofrimento de Atílio (Antônio Fagundes) e o amor guerreiro de uma mãe que faz tudo pela felicidade da filha.

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As duas deram à luz no mesmo dia, porém, com destinos diferentes: enquanto o parto de Helena transcorreu tranquilamente e seu herdeiro nasceu saudável, Eduarda teve graves complicações, a ponto de seu útero ser retirado (o que faz com que ela nunca mais possa engravidar) e o bebê morrer poucas horas depois do nascimento.

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Ao saber da morte do neto, Helena se desespera e toma uma decisão drástica: com a ajuda de César (Marcelo Serrado), ela pede para que os bebês sejam trocados, para evitar que a filha descubra a verdade. Ele, apaixonado por Eduarda desde sempre, resiste à ideia, em nome da ética médica, contudo, acaba cedendo à pressão e realiza à troca, o que gerou críticas de setores médicos na época da exibição original. O desespero de Helena se aliou com a alegria de Atílio, sentindo-se realizado e feliz com a paternidade, sem saber de nada.

Quase 20 anos depois, a atitude de Helena evidenciou que, de todas as protagonistas de Maneco, esta é a mais complexa e controversa. Seu amor por Eduarda chega a ser criticado pela proteção exagerada que conferiu à mesma, o que contribuiria para sua personalidade mimada – a ponto de não aceitar o pai alcoólatra, Orestes (Paulo José).

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O capítulo de quinta, exibido originalmente no dia 11 de dezembro de 1997, mobilizou o público do VIVA e levou a hashtag #TrocadosBebêsPorAmor ao segundo lugar dos Trending Topics (assuntos mais comentados) do Twitter. O roteiro de Manoel Carlos – que escreveu sozinho o referido episódio – foi certeiro na mistura de emoção, drama e tensão, com direito a uma forte tempestade, que deu um certo ar macabro e aterrorizante para o ato da protagonista.

Regina Duarte, a atriz que mais viveu Helenas de Maneco (as outras foram em História de Amor, 1995-96, e Páginas da Vida, 2006-08), esbanjou talento e brilhou absoluta com o desespero da mãe que, movida pelo amor excessivamente incondicional pela filha, abre mão de seu herdeiro com Atílio para que Eduarda o crie, sofrendo com as consequências de sua troca ao longo do tempo. Marcelo Serrado, por sua vez, vivenciou com competência o dilema de César entre a conduta médica e seu amor por Eduarda.

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Gabriela Duarte, cuja personagem chegou a ganhar um site hater na época, chamado Eu Odeio a Maria Eduarda, viveu um dos melhores momentos de sua carreira como a mimada e impulsiva filha de Helena.

Deve-se aqui fazer justiça a um detalhe: apesar de sua personalidade irritante em alguns momentos, Eduarda não chega a ser intragável como outras filhas de Helena do autor – em especial Joyce (uma brilhante Carla Marins em História de Amor) e Camila (Carolina Dieckmann em grande momento em Laços de Família). Deve-se considerar que, de certa forma, ela sofria com o machismo do marido Marcelo (Fábio Assunção), filho da vilã Branca (Susana Vieira).

A atitude de Helena foi inspirada em uma frase de Honoré de Balzac, que diz que “a abdicação de uma mãe pode ser um ato monstruoso ou sublime”. Com este mote, Maneco propôs a ideia de até onde as pessoas seriam capazes de chegar ou cometer atitudes inusitadas e condenáveis por amor. Em função disso, Helena será a que mais sofre com as consequências do que fez, tendo que criar seu filho como neto. E ainda há muito mais por vir, especialmente quando Eduarda e Atílio descobrirem a verdade.

Por Amor foi uma das mais elogiadas novelas de Manoel Carlos em virtude de seu roteiro de alto nível e seu elenco primoroso. O sucesso se repetiu também em sua primeira reprise no Vale a Pena Ver de Novo, em 2002-03, aproximando-se da problemática Esperança, novela das oito da época. E nas duas vezes que foi exibida no Viva (em 2010, ano da inauguração do canal, e agora), reafirma sua qualidade e o seu sucesso merecido. As cenas exibidas ontem, que marcaram o principal mote do enredo, evidenciam isso.


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