Grandes nomes fizeram parte da construção da televisão brasileira, que se tornou uma das melhores do mundo. Um dos “cabeças” que revolucionaram o veículo foi Walter Clark, um dos executivos mais bem pagos do mundo na época que esteve à frente da Globo. Mesmo com tanto poder e dinheiro, seu fim foi triste e melancólico.

Em meados dos anos 1950, Clark (na foto acima, com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni) foi contratado pela TV Rio como assessor comercial. A partir de então, começou a virar um homem de televisão até alcançar a direção da emissora e tornar o pequeno canal um campeão de audiência.

Início avassalador

Roberto Marinho, observando o sucesso de sua rival, contratou Clark para dirigir a emissora, que perdia para sua concorrente no Rio de Janeiro.

A virada da Globo foi em 1966, com as fortes enchentes que assolaram o Rio de Janeiro naquele ano. A programação foi totalmente suspensa e uma campanha foi realizada, para arrecadar doações aos desabrigados. Por conta desse fato, os cariocas passaram a ter simpatia pelo canal.

Em 1967, Clark chamou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para trabalhar ao seu lado. Assim, a pequena emissora carioca se tornou uma verdadeira potência, a começar pelo Jornal Nacional, primeiro telejornal transmitido ao vivo para todo o país.

O famoso “padrão Globo de qualidade” nascia com os programas, como Fantástico (1973), Globo Repórter (1973) e Globo de Ouro (1972), entre outros. As concorrentes foram deixadas para trás, afinal, as novelas foram marcantes e contavam com elenco estelar.

Demissão

Com o passar dos anos, Clark passou a ser apenas um “relações públicas” da emissora, indo a festas, eventos, jantares e curtindo uma vida de luxo. Isso desagradava muita gente e, em 1977, ele foi demitido da Globo.

“Minha demissão foi um longo processo de desgaste, que misturou razões subjetivas – como o ciúme de Roberto Marinho do meu estilo de vida – a questões absolutamente objetivas, como a necessidade natural de crescimento dos três superintendentes subordinados a mim (Joe Wallach, Boni e José Ulises Arce), ou o desejo, também normal, de o Roberto aproximar-se do que era seu”, declarou Clark em seu livro O Campeão de Audiência, escrito por Gabriel Priolli.

Planos e frustrações

O executivo buscou outros ares e apostou no cinema. Ele foi o produtor de filmes de sucesso, como Bye Bye Brasil (1979) e Eu Te Amo (1980), entre outros. Trouxe ao Brasil o espetáculo A Chorus Line, no qual contraiu uma grande dívida por conta dos grandes custos com o show.

Foi contratado pela Bandeirantes em 1981, para ser diretor-geral e, segundo Clark em seu livro, “a emissora não proporcionou nada de bom”. Em 1988, voltou à TV Rio, mas por pouco tempo – recusou-se a dirigir uma emissora que já estava falida.

Longe da televisão e sem projetos, Walter Clark se tornou uma figura do passado. Por causa do alcoolismo e da depressão, começou a ter vários problemas de saúde, como hipertensão. Crises e acidentes domésticos o levaram a ser internado algumas vezes.

Uma triste tarde de domingo

No dia 23 de março de 1997, o Domingão do Faustão fez uma homenagem a Boni, que completava 30 anos de Globo.

O apresentador afirmou que a “TV se dividia em antes e depois de Boni”. Depoimentos de vários artistas enalteceram a história do vice-presidente de operações. Clark, que em nenhum momento foi citado, viu tudo, entristecido. Ele passou a tarde bebendo e desabafando com os seus amigos.

No dia seguinte, 24 de março, Walter Clark foi encontrado morto em seu apartamento, aos 60 anos. Segundo o laudo, sofreu um infarto fulminante enquanto dormia. Seu corpo não suportou os excessos e a tristeza.

Muitos artistas e colegas foram ao velório, inclusive Roberto Marinho, que prestou sua homenagem e solidariedade à família. A Globo dedicou espaço em todos os seus telejornais para falar da perda de seu antigo funcionário, que, no fundo, tinha o sonho de voltar a emissora.

Em entrevista ao TV História, Priolli afirma que Clark não foi injustiçado, mas seu declínio foi por conta de suas escolhas.

“Walter foi um cara que teve um destaque imenso, todas as benesses, toda a fama, ele desfrutou muito disso. Ele teve uma vida como um grande executivo da televisão e que durou um período bem grande e foi devidamente recompensado – financeira e pessoalmente. O declínio que ele teve foi culpa das escolhas dele, comprometendo a fase final de sua vida e entrando no ostracismo. Ele não merecia esse final de vida, mas não foi injustiçado ao longo de sua carreira. Ele era muito ressentindo com sua saída da Globo, e a perda do poder foi um duro golpe”, explicou.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor