A atriz Etty Fraser sempre se destacou por sua simpatia e talento nos trabalhos que fez ao longo de décadas no teatro, cinema e televisão. No entanto, os convites ficaram mais escassos em seus últimos anos de vida.
Antes de falecer, numa noite de réveillon, Etty Fraser tinha esperanças de receber um convite para voltar a atuar.
Esperando oportunidades
Em seus últimos dias de vida, a atriz Etty Fraser se encontrava triste, à espera de um convite para voltar a trabalhar.
Etty, que vivia reclusa em seu apartamento em São Paulo após sofrer uma trombose, já tinha desistido das novelas por conta de seu estado de saúde. Ela não podia, por exemplo, viajar de avião e passar horas nos estúdios de TV. No entanto, a artista sonhava com um possível retorno aos palcos.
“Não dá mais para trabalhar na TV. Tive embolia pulmonar e a minha médica me proibiu de viajar de avião. Desisti de fazer novelas porque não quero e não posso ir ao Rio de Janeiro e é lá que tudo acontece. Tenho saudades de fazer teatro”, contou a atriz, em entrevista ao Notícias da TV em 2 de janeiro de 2019.
A veterana artista não perdia o bom humor nem mesmo quando o assunto era o descaso do meio artístico com os profissionais da sua faixa etária.
“A gente fica esperando uma oportunidade boa e demora muito para aparecer. Tem muito ator bom da minha geração que está sem trabalhar”, desabafou.
Apresentadora
Filha de mãe judia polonesa e de pai argentino, Etty Fraser Martins de Sousa nasceu em 8 de maio de 1931, no Rio de Janeiro (RJ).
Iniciou a carreira aos 28 anos ao participar da peça Vento Forte para Papagaio Subir, montado por um grupo amador da Faculdade de Direito. Anos depois, o grupo se tornaria o Teatro Oficina, da qual foi uma das fundadoras.
Etty atuou em inúmeras peças antes de ingressar na TV Tupi de São Paulo, onde fez sua estreia no Grande Teatro Tupi, em 1959. Sua primeira novela foi Ninguém Crê em Mim, na TV Excelsior em 1966. Mas foi ao retornar à Tupi que Etty fez história na telinha, ao integrar o elenco de Beto Rockfeller (1968), telenovela de Braulio Pedroso que revolucionou o gênero. Era a primeira novela a adotar um tom naturalista, com linguagem coloquial.
Ainda no canal, a atriz participou de outros folhetins de sucesso, como Nino, o Italianinho (1969) e Meu Rico Português (1975). Etty trabalhou na emissora até o seu fechamento, em 1980. Meses antes da falência do canal, ela apresentou o programa de culinária Boca do Forno (na foto acima, ao lado de Nicette Bruno), trabalho que ela admitiu ter aceitado mesmo sem saber cozinhar.
“Quando fui convidada, eu disse que não sabia fazer nada além do trivial. Mesmo assim, insistiram. Aceitei somente com a condição de poder entrevistar artistas em meu programa”, contou ela ao Notícias da TV.
A atração comandada por ela saiu da Tupi e foi para Bandeirantes, onde passou se chamar À Moda da Casa. Em seguida, foi transferida para a TV Record, onde ficou no ar entre 1982 e 1988, com bastante sucesso. Nesta fase, Etty chegou a ter uma coluna sobre o assunto na revista Amiga.
“Foi um período muito bom, porque eu conseguia conciliar com o teatro, que sempre foi a minha grande paixão. Em um só dia, eu gravava cinco programas e tinha o resto da semana para me dedicar aos palcos. Aprendi a cozinhar, mas hoje já esqueci todas as receitas”, admitiu a veterana.
Últimos trabalhos
Com o fim do programa, Etty Fraser voltou a fazer novelas. Na Globo, ela fez Sassaricando (1987), Torre de Babel (1998) e a minissérie Um Só Coração (2004). Na Record, atuou em Cidadão Brasileiro (2006). Seu último trabalho no veículo foi em Uma Rosa com Amor (2010), no SBT.
No cinema, foi aclamada pela crítica por sua atuação no longa Durval Discos, de Anna Muylaert, em 2002. Sua despedida dos palcos foi na peça A Última Sessão (2014-2015), onde aparecia em cena usando cadeira e rodas.
Com quase 60 anos de carreira, Etty, em seus últimos dias de vida, mantinha uma rotina tranquila assistindo televisão, fazendo palavras-cruzadas e colorindo livros. Aos sábados, saía de casa para ir ao cabeleireiro.
Etty Fraser faleceu em 31 de dezembro de 2018, aos 87 anos, em São Paulo (SP), em decorrência de uma trombose. Seu corpo foi cremado no dia 2 de janeiro de 2019, no cemitério da Vila Alpina. Ela foi casada com o ator Chico Martins, falecido em 2003.
