A reprise de Senhora do Destino termina em dezembro, mas a tesoura da vilã Nazaré (Renata Sorrah) ainda terá muito serviço na tela da Globo, já que a emissora escalou Celebridade, de Gilberto Braga, para o Vale a Pena Ver de Novo.
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A novela é ótima, fez um sucesso arrebatador, nunca foi reprisada, mas possui muitas cenas de nudez, sexo, violência, consumo de bebidas, e tudo mais pra deixar a família tradicional brasileira de cabelo em pé. É fato que, desde 2016, a vinculação de horário à classificação indicativa caiu e agora a emissora pode exibir suas novelas das nove às quatro da tarde. Porém, paira no ar uma onda conservadora que busca censurar todo tipo de arte considerada imprópria para os padrões da moral e dos bons costumes. A Globo com certeza terá muita cautela ao exibir determinadas cenas, assim como aconteceu com a trama de Aguinaldo Silva que ainda está no ar. Quem viver, verá.
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Autor de sucessos como Dancin’ Days, Água Viva e Vale Tudo, Gilberto Braga viveu um momento maravilhoso de sua carreira ao escrever Celebridade em 2003. Ele vinha de uma minissérie, Labirinto (1998), e de uma novela de época do horário das seis, Força de um Desejo (1999), mas há anos não via um trabalho seu triunfar no principal horário de novelas da Globo. Gilberto se cercou de amigos, com Dennis Carvalho na direção, e atores da sua patota no elenco – como Malu Mader, Cláudia Abreu, Marcos Palmeira, Isabela Garcia, Nívea Maria e Taumaturgo Ferreira – e conseguiu atingir índices de 60 pontos de audiência com mais uma novela que o brasileiro amou acompanhar.
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Assim como a antecessora, Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos, a trilha sonora de Celebridade foi lançada em CD duplo: um com as músicas nacionais e outro com as internacionais. A tática deu muito certo na novela anterior que também foi um estouro de audiência – e vendeu 1 milhão de cópias de sua trilha.
Na capa da trilha de Celebridade, como não podia de ser, quem arrasou foi Malu Mader, com cabelos e blusa vermelha com franjas, ao vento. A atriz, que é dona das capas mais bonitas e lacrantes das trilhas de novelas de todos os tempos, vivia a protagonista Maria Clara Diniz, empresária bem sucedida que era ex-modelo, e participava de ensaios fotográficos dentro da novela. A personagem via sua carreira e império ruírem quando colocava dentro de sua casa e de sua empresa a inescrupulosa Laura Prudente da Costa (Cláudia Abreu), que se aproximava dela em busca de vingança.
Amante da boa música, Gilberto Braga sempre fez questão de acompanhar de perto a seleção de repertório das trilhas de suas histórias. As nacionais sempre foram formadas por nomes de peso da música popular brasileira e se transformaram em coletâneas classudas, cheias de elegância musical. São exemplo disso os primeiros discos de Água Viva, Vale Tudo, O Dono do Mundo” e Pátria Minha.
Em Celebridade não foi diferente. A trilha nacional foi de responsabilidade de Mariozinho Rocha, com os devidos pitacos do autor. Grandes intérpretes consagrados da MPB se juntaram a novos artistas, com carreira promissora naquele ano de 2003, e formaram uma trilha pra ser ouvida da primeira à última faixa, sem pular, que funcionou muito bem dentro do Rio de Janeiro proposto pela trama.
Outra homenagem à MPB presente na seleção foi a escolha de releituras de canções de grandes compositores brasileiros, como Ary Barroso. A música ‘Rio de Janeiro (Isto é o meu Brasil)’, na voz de João Bosco, abria a primeira trilha de Fera Ferida (1993) numa versão mais voz e violão. Em Celebridade, a canção aparece um pouco mais encorpada por instrumentos, retratando a paixão de Fernando (Marcos Palmeira) pelo Brasil. O personagem volta para o país com a esposa Beatriz (Deborah Evelyn) e os filhos, depois de anos morando na Europa, e logo cai nos braços da protagonista Maria Clara. Ary Barroso compôs a canção em 1945 para o filme americano Brazil, dirigido por Joseph Santley, concorrendo ao Oscar de melhor canção original.
A obra de Noel Rosa também foi revisitada na trilha por Gilberto Gil, que interpreta a música ‘Com que roupa’. A música faz parte do songbook do sambista carioca, produzido por Almir Chediak e lançado pela Lumiar Discos em 1991. A homenagem contava com nomes como Tom Jobim, Djavan, João Nogueira, Luiz Melodia e Jards Macalé que deram uma cara nova para os sucessos de Noel Rosa. ‘Com que roupa’ servia de tema de locação.
Em 1999, Almir Chediak também produziu o songbook de Chico Buarque, em 4 volumes que geraram 8 CDs com mais de 100 músicas. No mesmo ano, chegou a vez da obra de João Donato ser revista. Devido à proximidade com o compositor, Chico recebeu um convite para participar e gravou a canção ‘Brisa do mar’, parceria de João Donato e Abel Silva. A música entrou para a trilha de Celebridade e funcionava como outro tema para Fernando.
Os versos de Tom Jobim e Vinicius de Moraes também aparecem na trilha através da letra de ‘O que tinha de ser’, um delírio musical na voz de Maria Bethânia. A cantora já havia cantado a música num show que realizou ao lado de Vinicius e Toquinho na Argentina em 1971, que gerou um disco ao vivo comercializado inclusive no exterior. Esta nova versão, de estúdio dessa vez, era mais contida e singela e entrou no álbum lançado em 2005, ‘Que falta você me faz’, onde Bethânia interpretava apenas canções do poetinha. Na novela, ‘O que tinha de ser’ serve de tema para Maria Clara.
Da turma da Bahia, além de Gil e Bethânia, Caetano Veloso e Gal Costa também estão no CD nacional de Celebridade. Hoje em dia, está difícil uma trilha reunir tanta gente boa num único disco. À Gal, ficou a cargo a canção ‘Nossos momentos’, clássico de Haroldo Rosa e Luiz Reis, que integrou seu disco de 2003, ‘Todas as coisas e eu’, que reunia outros clássicos brasileiros. Desse disco, saíram ‘E daí? (Proibição inútil e ilegal)’, da trilha do remake de Ciranda de Pedra (2008), e ‘Dono dos teus olhos’, que virou “dona” no primeiro álbum de ‘Senhora do Destino’.
Caetano, por sua vez, cantava em inglês no seu disco ‘A Foreign Sound’, com releituras do cancioneiro americano, e não passava nem perto da energia e inovação de seu ‘Transa’, de 1972. Para a trilha de Celebridade, foi escolhida ‘Always’, composição de Irving Berlin, para o personagem Daniel (Kadu Moliterno).
O samba também está presente com Dudu Nobre e sua versão para ‘Tempo de Dondon’, composta por Wilson Moreira e Nei Lopes. Os versos “No tempo que Dondon jogava no Andaraí/ nossa vida era mais simples de viver/ Não tinha tanto miserê, nem tinha tanto tititi…” embalavam as cenas bem humoradas do núcleo do Andaraí, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, e ajudaram a alavancar a carreira do sambista que, em 2004, incluiu a música no repertório de seu ‘Multishow ao vivo’.
Era exatamente no Andaraí que outro samba da trilha tocava. A música ‘A vizinha do lado’, de Dorival Caymmi, foi interpretada por Roberta Sá. Ela participou de uma das edições do programa Fama, reality musical da Globo, durante 4 semanas. Depois de ter uma primeira demo caída nas mãos de Gilberto Braga, recebeu um convite do próprio autor pra gravar a canção para a trilha de sua nova novela. ‘A vizinha do lado’ entrou para ‘Braseiro’, primeiro disco da cantora lançado em 2005, e acompanhava as cenas de Jaqueline Joy (Juliana Paes) que, ao lado da amiga Darlene Sampaio (Deborah Secco), entrava nas maiores roubadas em busca da fama e do sucesso.
Aliás, o tema de amor de Darlene e do bombeiro Vladimir Coimbra (Marcelo Faria), casal que protagoniza cenas hilárias e quentes na novela, era interpretado por ninguém menos que a diva Rita Lee. ‘Amor e sexo’, escrita por ela e Roberto de Carvalho inspirados em texto de Arnaldo Jabor, toca até hoje nas rádios e integrou o disco ‘Balacobaco’, lançado em 2003, numa época que a cantora ainda lotava shows. Esse álbum é considerado um dos melhores de toda a carreira solo de Rita, e veio logo depois de um outro ótimo momento dela: o álbum onde cantava versões em português das músicas dos Beatles.
Outra canção marcante é a versão de Vanessa da Mata para um clássico sessentista de Luiz Ayrão, ‘Nossa canção’, que o Brasil já conhecia na voz inconfundível do rei Roberto Carlos. A música marcou o primeiro lançamento da cantora que, aos poucos, conquistou o país e vendeu 100 mil cópias do álbum homônimo. Nele, está presente as ótimas ‘Não me deixe só’ e ‘”Onde ir’, da trilha de Esperança (2002). Cantada com voz doce e sussurrada, ‘Nossa canção’ serviu de tema para o amor e devoção de Hugo (Henri Castelli) por Maria Clara, que encontra apoio nele quando enfrenta um período difícil na trama.
Outra cantora da nova geração naquele início dos anos 2000 era Ana Carolina. Ela passava por um dos melhores momentos da sua carreira e lançava seu terceiro disco, ‘Estampado’, que vendeu 200 mil cópias. Para a novela de Gilberto Braga, a música escolhida foi ‘Encostar na tua’, tema de Inácio (Bruno Gagliasso), filho rejeitado de Beatriz, que se sentia culpado pela morte do irmão e se apaixonava por Sandra (Juliana Knust). Desse disco, Ana Carolina ainda emplacaria outras 4 músicas em novelas (Senhora do Destino, Como Uma Onda, América e Seus Olhos, do SBT).
Nesse celeiro de estrelas da MPB, não podia faltar Nana Caymmi. A cantora gravou ‘Doce Castigo’, com letra de Sérgio Saraceni e Ronaldo Monteiro de Souza, especialmente para a novela. A música dava as caras nas cenas de Tânia (Lavínia Vlasak).
O rock ficava por conta de Titãs, banda de Tony Bellotto, marido da protagonista. Mas não é por isso que eles participam da trilha. A música ‘Enquanto houver sol’, de tão boa, foi uma das 10 mais tocadas no país em 2004. Ela faz parte do álbum ‘Como estão vocês?’, o primeiro totalmente sem a participação de Marcelo Fromer, guitarrista que morreu atropelado em 2001. A canção esperançosa dos Titãs musicava as cenas de Cristiano Reis (Alexandre Borges), jornalista que, após a morte da esposa, se entregava ao vício da bebida. Quem o ajudava a se reerguer era seu filho Zeca (Bruno Abrahão, um menino na época) e a vizinha Noêmia, apaixonada por ele.
Outra canção composta especialmente para Celebridade se tornou uma marca registrada da novela, tanto que era usada em sua chamada de elenco em 2003. A música ‘Fama’ (nome inclusive da revista, uma espécie de Caras da ficção, dirigida por Renato Mendes (Fábio Assunção), que era uma pedra no salto de Maria Clara) tem os versos “Money no bolso, é tudo que eu quero/ Money no bolso, saúde e sucesso/ Faço tudo pela fama, não tem jeito, eu sou assim/ Sei que a fama tem um preço/ Vou pagar, quero subir”, definindo exatamente do que se trata a novela: a busca pelo sucesso, e os altos e baixos de ser uma celebridade. Foi interpretada por Beth Lamas, e composta por ela e Sarah Benchimol. Beth, além de cantora, é atriz e atualmente pode ser vista no VIVA, na novela Por Amor (1997) como Marisa, uma das cabeleireiras do salão de Lígia (Regina Braga).
Completam a trilha nacional de Celebridade: o dance ‘Olha não me olha’, composta e gravada por Jorge Vercilo em seu segundo disco ‘Em tudo que é belo’, de 1996; nessa trilha, a música aparece numa regravação mais rapidinha na voz de Lulu Joppert. E a instrumental ‘Só Bamba’, de Fabinho Almeida e Ian Duarte, com Pérola Black.
Na semana que vem, aqui na coluna, a gente relembra as músicas internacionais da novela Celebridade. Outro CDzaço!
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